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Bolsonaro sequestra o 7 de setembro e cita golpes: ‘história pode se repetir’

Presidente retoma ameaças golpistas, se distancia dos demais poderes e repete discursos de ódio

Rede Brasil Atual

Luciano Hang, dono da Havan e investigado pelo STF por participar de grupo de empresários que defendia golpe de Estado, esteve ao lado do presidente no palanque em Brasília (Foto: Reprodução)

O 7 de setembro do presidente Jair Bolsonaro começou com um café da manhã no Palácio do Alvorada com apoiadores. Diante de empresários como Luciano Hang, da Havan, investigado pela Polícia Federal e pelo Supremo Tribunal Federal (STF), ministros e parentes, Bolsonaro repetiu discurso golpista. “A história pode se repetir”, disse durante a refeição, ao citar movimentos golpistas, como o golpe civil-militar (1964) e o golpe contra a presidenta Dilma Rousseff (2016). Neste rol, também citou sua própria eleição, em 2018, alcançada com a prisão arbitrária de Lula, favorito a vencer naquele ano.

“O bem sempre venceu o mal”, prosseguiu. Após o café da manhã, Bolsonaro concedeu uma entrevista para a emissora estatal TV Brasil. Novamente, o presidente inflamou seus apoiadores e adotou um tom de pastor, ao invocar a religião para sustentar suas intenções golpistas. “O que está em jogo é nossa liberdade, é o nosso futuro (…) Todos, compareçam às ruas de verde e amarelo para festejar a terra onde vivemos, uma terra prometida, aqui é um grande paraíso (…) Estamos aqui porque acreditamos em nosso povo e nosso povo acredita em Deus.”

Palanque do ódio

Já na Esplanada dos Ministérios, Bolsonaro retomou linguagem de intriga dirigida aos evangélicos. “Antes era proibido falar aqui de Deus”, disse. Muitos carregavam cartazes de ataque contra as instituições democráticas, como “Intervenção urgente no STF”, “Limpeza no STF”, “Nós confiamos nas Forças Armadas”, “Destituição imediata dos ministros do STF”, “Supremo é o povo”.

Os principais alvos do ódio bolsonarista foram o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), com vantagem sobre o presidente em todas as pesquisas. O tom dos apoiadores do presidente é agressivo. Camisetas vendidas nos arredores do desfile têm imagem de fuzil apontado para Lula e os dizeres “Cala a boca comunista ladrão”.

Também chamou a atenção que tratores, chamados ao desfile por Bolsonaro, foram ovacionados pelos apoiadores. “Agro, agro”, gritavam os presentes. Empresários do agronegócio são os principais financiadores da campanha de Bolsonaro para tentar reocupar a Presidência. A lista inclui condenados por trabalho escravo e outros indiciados pelo Ibama por crimes ambientais.

Aversão à democracia

A aversão de Bolsonaro e de seus apoiadores à República e à democracia fica evidente nas presenças e ausências do desfile. O palanque do presidente foi recheado de militares, como o general Walter Braga Netto e o ministro da Defesa, Paulo Sérgio Oliveira. Por outro lado, chamou a atenção a ausência de representante dos outros Poderes. Não compareceram ministros do Supremo, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), e nem mesmo o apoiador do presidente, presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). As ausências fogem à regra, já que em anos anteriores os representantes do Legislativo eram figuras garantidas no evento.

Pacheco já havia adiantado que não compareceria ao evento caso percebesse que ele serviria de “palanque eleitoral” do presidente. Em contrapartida, ele chamou a atenção para sessão solene do Congresso, marcada para amanhã. “Será uma solenidade verdadeiramente cívica”, apontou. Neste evento, devem comparecer o presidente do STF, Luiz Fux, governadores, além do próprio Bolsonaro. Pacheco ressaltou que os eventos de hoje “precisam ser pacíficos, respeitosos e celebrar o amor à pátria, à democracia e ao Estado de Direito”.

Nas festividades do bicentenário da Independência, sequestradas pela campanha eleitoral, Bolsonaro ainda seguiria para o Rio de Janeiro.

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