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BRT Sorocaba deixa de existir se faixas exclusivas são usadas por motos e outros veículos

Advogado e especialista em mobilidade urbana diz que medida de abrir via para o trânsito de outros veículos compromete o sistema

Fabiana Blazeck Sorrilha (Portal Porque)

Desde terça-feira (3), a Prefeitura permite que corredores do BRT sejam utilizados também por motocicletas, táxis e vans escolares. Foto: Divulgação/Alexandre Maciel

O Sistema BRT que prevê, entre outras coisas, faixas exclusivas para ônibus, nasceu no Brasil, mais exatamente em Curitiba (Paraná), em 1974, e foi evoluindo com o tempo, se tornando uma das soluções mundiais mais interessantes para a mobilidade urbana e humanização das cidades.

Sorocaba, até terça-feira (3), era uma dessas cidades que trabalhava para priorizar esse tipo de transporte coletivo em relação ao transporte individual. O que mudou com a decisão do prefeito Manga de permitir que a faixa do BRT também seja usada por motocicletas, táxis, veículos por aplicativo e vans escolares, o conceito de prioridade para os ônibus deixou de existir.

Advogado e especialista em mobilidade urbana, Renato Campestrini explica que o BRT, quando implantado da forma como foi e atendendo a todos os requisitos previstos nesse tipo de sistema, transita na mesma velocidade do metrô de São Paulo, com velocidade média de 36 quilômetros por hora e dando agilidade aos passageiros.

Ainda conforme ele, para ser considerado um sistema, o BRT tem de cumprir alguns requisitos como manter a faixa preferencial e paradas de ônibus no canteiro da via, ter o embarque feito pela porta esquerda, não ter cobrança de tarifas dentro do veículo, mas sim nas estações.

Também fazem parte dos requisitos a prioridade nos cruzamentos de vias com uso do semáforo que privilegia a passagem do ônibus para que ele se torne, efetivamente, rápido, dando sentido à letra R da sigla BRT: rápido, em inglês.

Esse modo de transporte também precisa ser confiável nos seus horários de chegadas e partidas e o mais confortável possível para motivar as pessoas a abandonarem o conforto do carro e migrar para o ônibus e, por consequência, contribuir com uma mobilidade democrática.

“Um ônibus do BRT transporta até 165 passageiros. Um ônibus comum, de até 48 passageiros, ocupa 90 metros quadrados na via pública. Essas mesmas pessoas, em 48 veículos, ocupam 840 m². Se pegarmos as 165 pessoas que usam o BRT, pense quanto espaço nas vias elas ocupariam se estiverem em veículos individuais”, provoca Campestrini.

O especialista também lembra que Sorocaba possui um Plano de Desenvolvimento de Transporte Urbano e Mobilidade (PDTUM) que precisa ser respeitado ao priorizar os modos de transporte coletivo e não-motorizados em detrimento ao modo de transporte individual.

“Quando você coloca motocicleta e vans escolares para transitar na faixa do BRT, você tira o caráter de agilidade do sistema, sem considerar que a moto é o principal fator de fuga do transporte coletivo, que já opera com subsídios altos. Então, você incentiva mais veículos de transporte individual?”

Ele reforça ainda que os motociclistas são os que mais se acidentam no trânsito de Sorocaba e também os que mais abusam nas ruas, seja nas altas velocidades, seja nas imprudência.

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