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Maior participação é boa notícia em eleição de conselhos tutelares, mas movimentação neofascista preocupa

“Que ninguém se surpreenda se o neofascismo voltar com força; ele está entre nós”, diz o jornalista, cientista político e professor universitário João Negrão

Fabiana Blazeck Sorrilha

João Negrão e Emanuela Barros destacam a importância da democracia nas eleições dos novos conselheiros tutelares para o próximo quadriênio. Crédito: arquivos pessoais

As eleições nacionais dos novos integrantes do Conselho Tutelar para o período de 2024 a 2028 realizadas no último domingo (01) acalorou as discussões na sociedade, motivando o Ministério Público Federal (MPF) a solicitar ao Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) que informasse, em até 24 horas, quais medidas seriam adotadas para a prevenção de abuso do poder religioso e garantia da lisura nas eleições para conselheiros tutelares, conforme divulgado pelo portal Poder 360.

Mas, por que, ao contrário de anos anteriores, as pessoas voltaram seus olhares para esse pleito, chegando a triplicar a participação nas urnas em Sorocaba? O Portal Porque solicitou ao jornalista, cientista político e professor universitário João Negrão e à advogada Emanuela Barros, com forte atuação em defesa da mulher e das minorias, análise sobre este momento vivido pela sociedade.

Negrão destaca que, aparentemente, a direita, na sua vertente mais fundamentalista, decidiu disputar a hegemonia na sociedade civil. “Já vimos isso em Sorocaba na eleição do Conselho dos Direitos da Mulher, quando grupos fundamentalistas ligados ao prefeito Rodrigo Manga criaram confusão e conseguiram, praticamente, se apropriar do conselho”, relembra.

O cientista político ainda faz um alerta: “se os setores progressistas não abrirem os olhos, ampliarem suas decisões de disputa para além das eleições do Legislativo e do Executivo, vão continuar sendo surpreendidos. A eleição do bolsonarismo neofascista em 2018 e seu tamanho significativo mesmo hoje, na oposição, não foram raios em dia de céu azul; o neofascismo se entranha, cada vez mais, em diferentes poros da sociedade e não dá para achar que ‘tudo bem’ ele dominar o discurso e instituições acerca de comportamentos, educação, políticas de saúde pública, relações trabalhistas etc. Que ninguém se surpreenda se o neofascismo voltar com força; ele está entre nós”, assevera.

Momento de democracia e cidadania

Na avaliação da advogada Emanuela Barros, o interesse das pessoas em querer exercer o direito ao voto na primeira eleição pós-Bolsonaro é muito importante. Emanuela considera um momento importante de cidadania e democracia, pois, mesmo com toda a articulação feita pela direita, publicando fake news de candidatos como a Thara Wells, por exemplo, numa campanha massiva nas igrejas, ter um número significativo de conselheiros dispostos ao trabalho apoiado no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) é uma vitória das pessoas que realmente querem fazer do conselho um espaço de escuta e direitos.

“Com o número de candidatos  com esse perfil que conseguiram se eleger, acho que a população de Sorocaba entendeu que o Conselho Tutelar é um lugar de defesa, das garantias dos direitos da criança e do adolescente. Cerca dos 60% que foram eleitos têm um compromisso com o ECA e isso, para mim, foi bastante favorável”, opina.

Foram escolhidos 30.500 conselheiros entre os candidatos para os postos de 6.100 conselhos tutelares por todo o país, que terão mandato por quatro anos, a partir de 2024.

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