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Contra a direita, Thara Wells tem segunda maior votação para o Conselho Tutelar

Negra e trans, Thara ficou em segundo lugar na eleição de domingo (1) e conta ao Porque um pouco de sua trajetória de vida e como superou as violências que sofreu

Paulo Andrade (Portal Porque)

Thara Wells teve a segunda maior votação entre os 30 eleitos para o Conselho Tutelar de Sorocaba. Foto: Divulgação

Thara Wells, primeira pessoa trans no Conselho Tutelar de Sorocaba, foi reeleita neste domingo (1) com 685 votos, ficando em segundo lugar entre os 30 eleitos. Os conservadores da cidade fizeram campanha pesada contra a candidatura de Thara e pela eleição de aliados do prefeito Manga. Mesmo assim, ela foi eleita com destaque por sua trajetória pessoal e na proteção do Estatuto da Criança e do Adolescente.

Ela já vinha atuando como conselheira tutelar deste julho deste ano, após passar por um processo seletivo emergencial para o cargo, já que parte dos eleitos titulares e suplentes na eleição de 2019 tinha deixado o conselho.

Além de já ser conselheira tutelar, Thara é mestranda em Estudos da Condição Humana pela UFSCar, recebeu o título de cidadã emérita de Sorocaba e foi a primeira pessoa trans e negra do município a integrar o Conselho de Direitos da Mulher (2018-2022).

Gratidão pela vitória

A candidata, que enfrentou forte campanha negativa na eleição ao Conselho Tutelar, conta ao Portal Porque como se sente após a vitória: “É muito importante. Comprovou-se que essas 685 pessoas acreditam na minha idoneidade moral, na minha capacidade profissional, na minha integridade como pessoa. Estou muito feliz. Tenho muito que agradecer a todos os companheiros e companheiras que me deram suporte e me ajudaram a não desistir da luta.”

A conselheira, que tomará posse para o mandato de quatro anos em 9 de janeiro de 2024, ainda afirma que “agora, com esse apoio, com esses votos, vou conseguir continuar meu trabalho, levando meu olhar sobre a diversidade, levando a minha experiência – com todas as situações de vulnerabilidade que sofri enquanto criança negra – que viveu em um lar onde tinha violência doméstica; que passou violência na escola, que sofreu abuso”.

“Não quero me vitimizar”, diz Thara, “eu só quero dizer o que tudo isso contribui; todos os meus marcadores sociais e toda minha história contribuem para que meu olhar seja diverso e para que meu entendimento de todas essas questões sociais seja amplo”.

Difamação e transfobia

Antes da eleição, a extrema direita conservadora de Sorocaba promoveu uma campanha difamatória contra Thara, usando redes sociais, Whatsapp e outros meios. Vídeos e postagens de origem desconhecida tentaram depreciar sua imagem, acusando-a de não ter “reputação ilibada” para assumir o cargo de conselheira.

Um anônimo, com dinheiro, chegou a contratar um perito para vasculhar a internet, atrás de imagens do passado de Thara. Essas imagens, que Wells considera constrangedoras, foram usadas em postagens nas redes sociais e constam numa denúncia que o anônimo apresentou ao Ministério Público (MP).

Vida difícil e conquistas

Thara nunca negou que, em um período difícil da sua vida, foi obrigada a ser garota de programa. “Tenho orgulho da minha história, da pessoa que me tornei; tenho orgulho de todos os esforços que fiz para mudar de vida”, disse ela ao Porque.

Ela explica que não faz programas há mais de seis anos e que foi empurrada para a prostituição, após ser expulsa de casa aos 17 anos, depois do falecimento da mãe. “Hoje, com uma carreira acadêmica consolidada, tenho como missão meu trabalho no Conselho”.

A conselheira Thara, após essa fase, foi estagiária da Funserv (Fundação dos Servidores Públicos Municipais) e completava a renda como palestrante. Em 2021, quando entrou no mestrado, começou a receber uma bolsa de estudos, que foi cancelada após ela ser eleita como conselheira tutelar em junho deste ano.

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