
Para atuar em uma partida, um bandeirinha recebe, atualmente, R$ 60; o árbitro ganha R$ 100, enquanto o mesário R$ 50: baixos salários comprometem. Foto: Jesus Vicente/Portal Porque
A Taça Cidade de Sorocaba, a 1ª Divisão do Campeonato de Futebol Varzeano, corre o risco de paralisação. Isso porque, na próxima semana, ainda sem data definida, a Junta Disciplinar Desportiva julga recurso protocolado pelo Xúris Bento Futebol Clube na Secretaria Municipal de Esportes e Qualidade de Vida.
>> Veja o pedido do Xúris para a anulação da partida e paralisação do campeonato
O time pede a anulação da partida contra o Pieroni, realizada no dia 10, e a paralisação da competição até que se verifique e se certifique de que todos os árbitros estão qualificados e habilitados para trabalhar no campeonato.
Na partida diante do Pieroni, válida pela terceira rodada da Taça Cidade, o Xúris Bento foi derrotado por 3 a 0 e obteve a confissão, em vídeo, de que o assistente 2 não sabia bandeirar, pois era juiz e não bandeirinha. O Portal Porque, inclusive, teve acesso as imagens, mas preferiu não divulgá-las em respeito ao assistente que aparece acuado e com olhos marejados.
A cláusula 2.4.2 do contrato celebrado entre a Prefeitura de Sorocaba e a RBR Eventos, empresa responsável pela arbitragem dos campeonatos municipais, estabelece que o árbitro deve possuir certificado ou atestado de participação de curso realizado por confederações, federações ou entidades esportivas na modalidade específica. A mesma exigência aparece na cláusula 3.4.2 do edital de licitação da Prefeitura.
“Portanto, o erro do bandeirinha naquela partida [Xúris x Pieroni] não foi um erro de fato, aquele em que o árbitro erra por interpretação ou por até não ter visto o lance direito. Neste caso, foi um erro de direito. Ele não era habilitado para executar a tarefa que fora escalado”, explica o advogado do Xúris Bento, Everton William da Silva Gonçalves.
Mais argumento
Para justificar a necessidade de parada da Taça Cidade, a defesa do clube levantou ainda que o certificado do árbitro que atuou de bandeirinha no jogo em questão também não tem validade.
A defesa do Xúris mostrou ao Porque o site onde qualquer cidadão, sem nenhuma aula, paga R$ 800, responde a um questionário e recebe o diploma digital no mesmo dia. Já a versão impressa chega em 15 dias.
“É uma oportunidade de a Secretaria de Esportes parar a competição, ao menos por uma rodada, e checar toda a certificação e, com isso, moralizar a competição. O Xúris nem faz tanta questão de refazer aquele jogo. Perdeu, perdeu, mas é preciso moralizar a arbitragem do campeonato”, reforça Everton Gonçalves.
A favor e contra
Dizer que a qualidade da arbitragem está ruim é unanimidade na várzea de Sorocaba. O secretário de Esportes e Qualidade de Vida, Vitor Mosca, dirigentes, técnicos, atletas e torcida sentem na pele, a cada rodada, os problemas e são favoráveis a melhorias.
Por outro lado, exceto o Xúris Bento, são contrários à paralisação do campeonato. Para os clubes que investiram alto e aspiram chegar à final, parar a Taça Cidade de Sorocaba agora seria uma catástrofe.
O motivo
A pouca qualidade dos árbitros sorocabanos tem origem e é conhecida: o baixo salário. Hoje, um juiz recebe apenas R$ 100 brutos para apitar um jogo. O bandeirinha ganha R$ 60 e o mesário R$ 50. Não há lanche e nem ajuda de custo para transporte. Uniforme e equipamentos, como rádio se transmissão, são por conta deles.
O mesário ainda precisa ir buscar as fichas um dia antes do jogo e levá-las de volta à Secretaria de Esportes um dia depois da partida. “Parece brincadeira, mas se pôr na ponta do lápis, a gente paga para trabalhar”, reclama um mesário que pede anonimato.
Devido a esses baixos valores, os árbitros mais qualificados vão apitar em outras cidades, ou, simplesmente, optam por não atuar ou faltam ao jogo escalado.
Na terceira rodada da Taça Cidade, por exemplo, no jogo entre Jardim dos Estados e Jardim Planalto, outro flagrante. O juiz que apitaria a partida faltou. A saída foi um bandeirinha virar juiz, o mesário virar bandeirinha e um rapaz que estava no bar (nas proximidades do campo) virou mesário.
Esforço para não parar
Na quinta-feira (14) passada, a Secretaria de Esportes, ao perceber a chiadeira geral, convocou uma reunião, limitada a um representante por equipe, para pedir calma, mais um voto de confiança à RBR e menos pressão nos juízes. Em troca, cobraria da empresa uma melhor gestão e a escalação de árbitros somente com qualificação.