
Ações afirmativas garantem o ingresso, mas não garantem a permanência do estudante cotista na universidade pública. Foto: Agência Brasil
No campus de Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) há, atualmente, 1.290 estudantes cotistas. Eles ingressaram nos cursos de graduação por meio da Lei de Cotas, que completou 10 anos no final de agosto. Até agora, o campus já formou 1.016 estudantes cotistas.
O presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da UFSCar, Raul Amorim, entrou em 2016 em licenciatura, no período noturno, do curso de graduação de Biologia do campus. Foram ofertadas 25 vagas, na época, sendo 10 destinadas para as cotas por questões de renda ou étnico/racial.
O processo foi via Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Amorim fez o Enem e ingressou nas vagas para ações afirmativas na UFSCar, para a cota para pessoa preta. “De fato, sem essa política, iniciada em 2012, eu e muitas pessoas não teriam ingressado em universidade pública, principalmente de excelência como são as federais do Brasil”, afirma.
Quando Amorim entrou na universidade, em 2016, o país passava por uma grave crise política que culminou no golpe contra a presidente Dilma Rousseff (PT). “Daquele momento em diante os maiores desafios são frutos desse contexto. Desde o desmonte generalizado das políticas, como a de permanência estudantil, mas temos questões estruturais anteriores e que ainda permanecem.”
Entre os desafios
Somente a partir de 2018 houve a implementação das bancas de heteroidentificação para validar a autodeclaração para as candidaturas às cotas. Por mais que as ações afirmativas garantam o ingresso, não garantem a permanência do estudante na universidade pública. “O cotista numa universidade pública depende de um conjunto de equipamentos e políticas que sofre com os cortes do governo federal”, avalia Amorim.
Como exemplo, o estudante enfatiza que quase metade dos cotistas negros, que entraram com ele na graduação, teve que trancar ou sair do curso. “Por que são sempre esses sujeitos que não conseguem se formar?”, questiona.
“Para este momento, é urgente fazermos a defesa dessa política, de forma intransigente, para que seja uma política permanente, pelo menos, por mais uns 20 anos, para que, de fato, o cenário social do Brasil possa ser mudado, acompanhado de uma reestruturação das universidades em torno de uma outra concepção de formação”, afirma Amorim.
Formação esta, destaca, que inclua no debate as questões étnico/raciais: por exemplo, leitura de autores negros e também cotas para o ingresso de docentes para as áreas também.
Confira a relação atual dos 1.290 cotistas na UFSCar, conforme os critérios
• Pessoa com Deficiência Não Preta/Parda/Indígena com renda inferior ou igual a 1,5 salários mínimos: 9
• Pessoa com Deficiência Não Preta/Parda/Indígena com renda superior a 1,5 salários mínimos: 13
• Pessoa com Deficiência Preta/Parda/Indígena com renda inferior ou igual a 1,5 salários mínimos: 2
• Pessoa com Deficiência Preta/Parda/Indígena com renda superior a 1,5 salários mínimos: 2
• Pessoa Não Preta/Parda/Indígena com renda inferior ou igual a 1,5 salários mínimos: 380
• Pessoa Não Preta/Parda/Indígena com renda superior a 1,5 salários mínimos: 425
• Pessoa Preta/Parda/Indígena com renda inferior ou igual a 1,5 salários mínimos: 200
• Pessoa Preta/Parda/Indígena com renda superior a 1,5 salários mínimos: 258
• Pretos ou pardos com Ensino Médio cursado integralmente em escola pública: 1