
O prefeito Manga e a primeira-dama Sirlange estiveram com Valdemiro Santiago, polêmico líder da Igreja Mundial, em recente visita à cidade. (Foto: Reprodução Facebook)
Com o apoio do prefeito Rodrigo Manga e da Câmara de Vereadores, lideranças evangélicas de Sorocaba anteciparam a data da Marcha para Jesus para o dia 7 de setembro, justamente no mesmo dia em que o presidente Jair Bolsonaro, candidato à reeleição, convocou seus apoiadores para irem “às ruas pela última vez”. O presidente tem recrutado líderes evangélicos para garantir quórum alto nos atos de 7 de setembro de todo o país.
Em Sorocaba, a Marcha para Jesus está sendo organizada por diversas igrejas evangélicas, lideradas pela Igreja Renascer em Cristo, cujo o bispo é Clayton Lustosa, secretário de Cidadania do Governo Manga . O evento deve reunir muitos políticos ligados ao presidente Bolsonaro, entre vereadores, secretários municipais e deputados, além do próprio prefeito. Manga, aliás, está convocando massivamente a população para a Marcha, que corre o risco de se confundir com os atos organizados pelo presidente da República. O candidato bolsonarista ao Governo do Estado, Tarcísio de Freitas, também tem participado das marchas realizadas em diversas cidades, dando um clima de campanha eleitoral para os eventos. Em Sorocaba, a organização espera cerca de 100 mil pessoas.
Considerada Patrimônio Imaterial de Sorocaba, a Marcha para Jesus era prevista no calendário oficial de eventos da cidade para ocorrer na segunda ou terceira semana de novembro. Meses atrás, um projeto de lei apresentado pelo vereador Cristiano Passos (Republicanos), que é missionário evangélico, alterou a data da Marcha para o período de setembro e novembro. Com a mudança aprovada pela Câmara, os organizadores da Marcha definiram, justamente, o dia 7 de setembro para realizar o evento.
O prefeito Rodrigo Manga, que está fazendo campanha para Bolsonaro, tem se empenhado pessoalmente para que a Marcha para Jesus seja um sucesso. Só na última semana, o prefeito, que também é missionário evangélico, fez três postagens com vídeos nas suas redes sociais convocando para o que ele chama, com seu costumeiro exagero, de “a maior Marcha para Jesus de todo o interior do país”.
De fato, a organização espera 100 mil pessoas, o que representa quase 15% da população de Sorocaba. Na página oficial da Marcha nas redes sociais, o prefeito aparece como garoto propaganda do evento e dele próprio.
Dinheiro público
A Prefeitura também está empenhada na realização da Marcha para Jesus, empregando, inclusive, estrutura e recursos públicos no evento. Conforme o release de divulgação publicado pela própria Secretaria de Comunicação da Prefeitura, a Marcha para Jesus “contará com serviços públicos da Prefeitura de Sorocaba, por meio da Secretaria de Mobilidade (Semob), Secretaria de Segurança Urbana (Sesu), Secretaria de Serviços Públicos e Obras (Serpo) e da Urbes – Trânsito e Transportes”.
A pista sentido centro/bairro da Avenida Dom Aguirre será interditada a partir das 11h, no trecho desde a ponte Padre Madureira até as proximidades da Casa do Turista, para a concentração do evento. Depois, a interdição atinge o trecho que fica entre a Avenida Pereira da Silva até o Parque das Águas, para o trajeto da marcha. A Urbes vai disponibilizar ônibus com itinerários especiais para atender o público da marcha. A Guarda Civil Municipal também terá um efetivo reforçado para garantir a segurança.
Em 2016, o ex-prefeito e atual deputado federal Vitor Lippi (PSDB) foi condenado pela Justiça a indenizar os cofres da Prefeitura em R$ 1 milhão por destinar verbas públicas à Marcha Para Jesus durante os anos de 2006 a 2010. Também foi condenado no mesmo processo o atual deputado estadual Carlos Cezar (PL), que é pastor evangélico e era vereador no período. Partiram dele as emendas de orçamento para a destinação da verba para o evento religioso, que foi incluído no calendário oficial de Sorocaba por uma lei elaborada pelo próprio Carlos Cezar.
Atos eleitorais ou golpistas?
Em 2021, o 7 de setembro foi marcado por uma série de atos convocados pelo presidente Bolsonaro, que aproveitou as manifestações de rua para atacar o Judiciário e fazer um discurso golpista, que acirrou a crise entre o Executivo e o Judiciário. Para este ano, Bolsonaro convocou novamente seus apoiadores para saírem às ruas em apoio ao seu governo no Dia da Independência, que ocorre a menos de um mês das eleições.
No Rio de Janeiro, o presidente chegou a mudar o endereço do tradicional desfile da Independência para que os militares pudessem participar de um ato mais político, em prol da sua candidatura.
“Vai ser a maior manifestação de rua desde as Diretas Já”, aposta o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ). Segundo a Folha de S. Paulo, pastores apoiadores do presidente Jair Bolsonaro vão custear um carro de som para a manifestação do 7 de Setembro na praia de Copacabana, no Rio de Janeiro. O objetivo é mostrar grande apoio popular ao presidente, como forma de impulsionar a campanha à reeleição. Estão confirmados os pastores Silas Malafaia e Cláudio Duarte que, juntos, somam 11,2 milhões de seguidores no Instagram.