
Com a assistente social Cida Costa (esq.), a arquiteta Juliana procura atender não apenas as carências materiais das famílias, mas também suas necessidades afetivas. Foto: Marilda Corrêa
A arquiteta Juliana Cristina Borges de Lima, sorocabana, comandou, durante o ano passado, quarenta reformas gratuitas de um cômodo de casas em que residem famílias social e economicamente vulneráveis.
Foram atendidas 35 casas em Araçariguama e cinco em Limeira (5). Neste ano, ela já administrou 23 reformas, também em Araçariguama. Em Sorocaba, fez uma reforma, em 2021.
Essa doação foi possível porque empresas da iniciativa privada e ongs custearam esses serviços por meio de projetos sociais.
Esse volume de serviços realizados é um feito importante para a arquiteta Juliana, que sempre desejou ter um escritório cujo trabalho gerasse impacto social.
“Meu sonho agora é, com base nessa experiência, desenvolver projeto semelhante em Sorocaba. Há muitas pessoas vivendo em situação de pobreza aqui também. Eu confio na Arquitetura como ferramenta de inclusão social. Ao intervir em uma moradia, proporcionamos melhor condição de habitabilidade, o que irá impactar positivamente as condições de vida de seus moradores”, disse Juliana.
O começo
Filha do engenheiro elétrico e tecnólogo mecânico João Antônio de Lima, e da técnica em Laboratório Ana Maria Borges de Lima, Juliana fez o curso técnico de design de interiores na Escola Técnica Estadual Fernando Prestes e Arquitetura na Universidade Paulista (Unip), concluindo-o em 2013.
Trabalhou durante oito anos no escritório BI Arquitetura e, em seguida, montou seu próprio escritório, o Habitação Urbana Básica (Hub Lar). E frequentou, por um ano, como startup incubada, o Parque Tecnológico de Sorocaba, onde recebeu mentoria. Também participou de um projeto de aceleração para empreendedores negros na Black Rocks.
Dessa forma, ela aprimorava seus conhecimentos e desenvolvia seu trabalho em harmonia com o seu ideal de geração de impacto social, elaborando projetos para clientes de baixa renda, que só podiam pagá-los em valores acessíveis e parcelados.
Pandemia e pobreza
Ao longo do período da pandemia, quando as condições de vida das pessoas mais pobres se agravaram, Juliana recebeu convite da ONG Nova Vivenda, de S. Paulo, Capital, para atuar em projetos de melhorias habitacionais, destinados a famílias em situação de pobreza.
A Vivenda surgiu em 2014 como uma empresa de reformas de casas da periferia e de favelas de São Paulo.
Juliana aceitou o convite e passou por um processo de homologação, realizado em dois anos, durante o qual foram analisados os seus trabalhos e os impactos sociais por eles gerados na comunidade. Foi aprovada.
O primeiro caso
Entre os projetos avaliados pela Vivenda estava a primeira reforma social de sua carreira, e que fora realizada em Sorocaba, numa casa de um cômodo, situada no bairro Santa Rita, no qual residiam a S., 57,mãe de dois filhos, e avó uma neta de dois anos.
Quando Juliana visitou essa família, a moradora reclamava do banheiro, que contava com apenas uma bacia sanitária e o chuveiro. O lavatório estava instalado do lado de fora do cômodo.
A ong Habitat Brasil, sediada na Vila Mariana, em São Paulo, na qual Juliana também passou por um processo de homologação, acolheu o pedido de ajuda a essa família e custeou a reforma, que ficou em R$ 7 mil.
Nova campanha
Em seguida, Juliana ajudou a família a realizar uma campanha visando obter mais recursos e construir um novo aposento.
Elas conseguiram arrecadar R$ 3 mil em dinheiro; o restante, em material.
Juliana comenta que a condição de vida dessa família é semelhante à que ela encontra na maior parte das casas em que atua: muitas mulheres são mães solo. São elas também que, com toda a dificuldade, estão à frente das famílias.
Reforma que transforma
Já então aprovada pela ong Nova Vivenda, Juliana foi indicada para atuar no projeto social Reforma Que Transforma, criado em 2021 pela Gerdau, multinacional brasileira, produtora de aço. Ela destinou R$ 40 milhões para investimentos em habitação de baixa renda no Brasil.
A empresa informa em seu site: “Buscaremos reformar mais de 13 mil residências vulneráveis ao longo de dez anos. O programa realizará reformas urgentes em moradias insalubres a partir da identificação do cômodo da casa com maior vulnerabilidade.”
Os recursos serão aplicados em municípios em que há unidades da Gerdau; Ouro Preto (MG), Ouro Branco (MG), Itabirito (MG), Barão de Cocais (MG), Divinópolis (MG), Maracanaú (CE), Recife (PE), Charqueadas (RS), Sapucaia do Sul (RS), Pindamonhangaba (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Araçariguama (SP), onde vem atuando Juliana.
“Os beneficiados são identificados com o apoio das prefeituras e do parceiro executor Nova Vivenda com base em critérios definidos junto com as secretarias de assistência social de cada município, no final deste ano. A ideia é fazer a reforma no aposento com maior insalubridade, de forma que o projeto alcance um maior número de casas impactadas” informa a Gerdau.
Carência
Juliana expressa “uma grande satisfação em trabalhar nesse projeto que considero historicamente muito valioso para o país”.
Ela destaca, também, “o quão dura é a realidade brasileira. Há bastante vulnerabilidade econômica e social, e também muita carência afetiva. Sentimos essas carências se aflorarem quando estamos em visita às famílias: elas nos acolhem com grande expectativa. E depois querem conversar e insistem para que a gente fique mais um pouco, e que voltemos outros dias.’’
Para atender a essa circunstância e, também, às visitas técnicas e aos dramas com os quais se defronta rotineiramente, Juliana convidou sua amiga Cida Costa, que é assistente social, a vir trabalhar no Hub Lar. Cida veio e disse: “Adorei o desafio.”
Um drama
Juliana e Cida se deparam com a dura realidade das famílias que atendem, o que revela o quão vulneráveis estão os que vivem na pobreza. Um exemplo desse drama é o que afeta Lygia (nome fictício).
Lygia vivia contente naqueles dias da semana em que usaria pela última vez o banheiro com marcas de umidade na parede sem reboco e vaso sanitário trincado, sem tampa. Quando puxava o fio da descarga, corria mais água para fora do vaso que para dentro dele. “Era um desespero” na casa de dois pequenos cômodos de Lygia.
No dia marcado para iniciar a reforma daquela casa, o pedreiro chegou às oito da manhã. Lygia o recebeu com um sorriso que não foi capaz de esconder que estava tensa. Havia um bebê chorando no quarto.
O pedreiro, enviado pela arquiteta Juliana, apanhou suas ferramentas e começou a trabalhar. O bebê seguia chorando. À 11h, o pedreiro indagou da mãe qual a causa daquele choro prolongado e doído.
“Ele está querendo leite, mas não tenho dinheiro para comprar.” O pedreiro tirou o dinheiro que tinha no bolso (R$ 20,00) e o deu a Lygia para que comprasse o alimento para o bebê.
E então não houve mais choro e o pedreiro trabalhou contente nos dias seguintes até completar a reforma do banheiro. Lygia ria, agora, um sorriso livre e satisfeito: o bebê tinha leite para mais alguns dias e a sua casa acabava de ganhar um banheiro novo, bem-acabado, com a dignidade que ela merecia.
Em Sorocaba
Juliana conta que busca parcerias com empresas privadas, órgãos públicos, entidades beneficentes, ongs, sindicatos e demais organizações com propósito de criar em Sorocaba um projeto social para a habitação de famílias de baixa renda.
“Também recebi o contato de duas grandes empresas interessadas em investir em projeto social. Estamos conversando” disse a arquiteta.
Os interessados em conhecer o projeto de juliana pode entrar em contato pelo telefone (15) 97404-3210. Ou pelo e-mail: 97404-3210. Ou no escritório: Avenida Itavuvu, 126, Sala Comercial 8.

Um banheiro antes e durante a reforma: obras trazem mais conforto e segurança para moradores das residências reformadas pelo projeto. Fotos: Juliana Cristina Borges de Lima