
Ladrões visam mais residências, porém também foram registrados furtos até mesmo de cabos de conjuntos semafóricos. Foto: Renata Rocha
Entre janeiro de 2022 e 29 de julho deste ano foram registrados 196 casos de furtos e roubos de cabos de energia elétrica em imóveis residenciais, prédios públicos, comerciais e industriais de Sorocaba. Os dados foram obtidos pelo Portal Porque junto a uma fonte ligada ao Conselho Municipal de Segurança Pública (Comsep). Foram cerca de 10 casos por mês.
Até a fiação de um conjunto de semáforo já foi alvo de ladrões neste período. “Fomos chamados às 5 horas porque o grupo semafórico do local estava inoperante. A equipe de manutenção foi encaminhada e lá chegando constatou que a fiação havia sido furtada”, relata o informe da ocorrência registrada no Parque das Laranjeiras, zona norte de Sorocaba em abril passado.
Embora haja consenso de que a maioria das ocorrências é praticada por dependentes químicos em busca do cobre para trocar por drogas, alguns casos envolveram planejamento e logística de assaltantes bem estruturados. Em junho passado, por exemplo, cinco homens usando um Corsa branco invadiram uma empresa na periferia de Sorocaba e levaram quatro bobinas de fios de cobre avaliados em R$ 150 mil.
O bando sabia o que buscava. Segundo boletim de ocorrência registrado no distrito policial da área, os assaltantes arrombaram o portão, desligaram o quadro de energia e fizeram quatro viagens para transportar quatro bobinas de cabos. Uma câmera gravou a ação dos bandidos, mas não conseguiu mostrar as placas do veículo. Não havia vigilância humana.
Por outro lado, há casos praticados por crianças sem qualquer estrutura. Tudo o que precisam é de um alicate tipo turquesa e um estilete para desencapar os fios. Dia 22 de junho passado, por exemplo, um vigilante só teve tempo de ver três meninos correndo depois de invadirem as obras de um condomínio fechado de onde roubaram a fiação de quatro casas em construção, levando 156 metros de cabos de cobre de 16 milímetros e 18 metros de 10 milímetros. Para arrancar os cabos, destruíram janelas, quadros de distribuição, disjuntores, conectores. A única pista que deixaram foram as marcas dos pés sujos de barros nas paredes.
A maioria dos roubos é cometida contra imóveis desocupados ou em construção, sem qualquer sistema de vigilância. Em um caso muito inusitado, um proprietário contratou um homem para vigiar sua obra de grande porte, mas em vez disso o vigilante roubou cerca de R$ 7 mil em materiais e, ao ser flagrado, ainda exigiu R$ 500,00 do proprietário para deixar o emprego e não voltar para roubar mais.
Segundo a relação dos materiais roubados deixada no distrito policial, o ladrão levou três rolos de cabos elétricos, quatro vasos sanitários, cinco armários de banheiro, 20 torneiras e equipamentos elétricos como furadeira e parafusadeira. “Não ameacei, não agredi e ainda fui extorquido a dar 500 reais para ele sair da casa” , informou a vítima. “Eu paguei, pois infelizmente, nesses casos a polícia não pode dar suporte 24 horas no imóvel”, ponderou.
Seguro
Com cada tonelada cotada a R$ 40 mil nas bolsas internacionais, o cobre é um dos metais mais valiosos no mercado da sucata. Para os ladrões, é uma moeda de fácil liquidez, principalmente para a aquisição de drogas, conforme o delegado Acácio Aparecido Leite, do 8º Distrito Policial na Avenida Itavuvu.
Para evitar os roubos, segundo a corretora de imóveis Loide Marin, há 30 anos no mercado imobiliário de Sorocaba, só mesmo cercando a casa de muros altos, cercas elétricas, alarmes, concertinas e todo o tipo de tecnologia possível.
“Os roubos ocorrem quando as casas estão desocupadas para vender ou alugar. Recentemente estávamos ajudando uma médica a reformar uma casa na Nova Sorocaba. Ela investiu muito dinheiro para deixar a casa impecável e vender. Um dia fui ver a obra e estava tudo destruído. Levaram a fiação, cantoneiras de alumínio, peças sanitárias, virou um lixo”, comentou.
Por outro lado, ela conta que tem uma casa desocupada no Jardim Simus há meses e ninguém consegue entrar porque tem um portão de ferro que ocupa todo o frontal do imóvel e as laterais são as paredes das casas vizinhas. “É inviolável”, observa ela.
A contratação de um seguro contra roubo seria a saída para recuperar o prejuízo, mas a medida não evitaria o incômodo de ter que refazer a obra. “O seguro residencial geralmente contempla apenas riscos de incêndio, explosão, danos elétricos, vendaval, desmoronamento. Se o cliente desejar ele pode incluir uma cláusula contra furto e roubo. Faz o seguro, se roubarem a fiação a seguradora cobre, mas o seguro residencial básico não inclui roubo”, informa o corretor de seguros Alexandre Moura, que atua junto a uma das maiores imobiliárias de Sorocaba.
Uma das estratégias das forças de segurança de Sorocaba para conter a onda deste tipo de roubo tem sido a realização de blitz em depósitos de sucata, destino do cobre roubado. De acordo com o delegado Acácio Leite, as empresas de reciclagem legalizadas não adquirem o produto de ladrões, mas o mercado clandestino de sucata é gigante.
A receptação de produtos roubados é crime com pena de até quatro anos de reclusão. Em Sorocaba, uma lei municipal de 2020 prevê multa de R$ 10 mil para quem roubar fios de cobre e outros objetos de instalações de prédios públicos, sendo que o valor dobra quando o alvo são escolas e unidades de saúde. Mesmo assim, os furtos em prédios públicos continuam ocorrendo. O mais recente foi na Unidade Básica de Saúde de Vila Fiori, que em julho ficou sem fiação pela terceira vez em menos de um mês..(Colaborou Fabiana Blazeck Sorrilha)