
Jovem de 25 anos é detido por policiais do Gate depois de momentos de muita tensão: crime ocorreu em 12 de abril e teve grande repercussão nacional. Foto: Eraldo Camargo/TV TEM
Os depoimentos à Polícia Civil e à Justiça de familiares da estudante Laura Fernanda Rodrigues Vieira, 23 anos, indicam que o auxiliar de produção Felipe Antunes Proença da Silva, 25, preso acusado de sequestrar um coveiro e detonar bombas contra policiais durante um funeral em Pilar do Sul, praticou, durante cinco anos, o que a legislação brasileira denomina de crime de perseguição – Lei 14.132 de 31 de março de 2021 –, conhecido nas redes sociais pela expressão inglesa stalking.
Felipe está preso desde 12 de abril, na Casa de Detenção Provisória de Sorocaba, por sequestrar o coveiro Adilson José Francisco durante o funeral da irmã de Laura, a professora Laís Fernandes, morta aos 32 anos. Com a vítima amarrada a uma cadeira, o acusado passou a exigir a presença de Laura no cemitério, mantendo uma faca no pescoço do refém e ameaçando detonar bombas por acionamento remoto.
Duas das bombas, inclusive, chegaram a explodir a 20 metros dos policiais militares Sandro Donizete Castanho de Almeida e Carlos Rafael Vieira Dantas, ação que configurou dupla tentativa de homicídio e posse ilegal de arma de fogo, segundo o auto de prisão em flagrante elaborado pelo delegado Milton Andreoli, titular de Pilar do Sul.
A defesa de Felipe, entretanto, requereu a realização de um exame de incidência de insanidade mental para o réu, solução para que ele deixe o sistema prisional e seja internado em hospital psiquiátrico.
Obsessão
Embora o acusado tenha declarado, em interrogatório, que nunca teve problemas mentais, o depoimento da dona de casa Márcia Regina de Oliveira Rodrigues, mãe de Laís e de Laura, indica que o rapaz tinha obsessão por sua filha, a ponto de ir até a sua casa e fazer ameaças. Em 2019 ela chegou a registrar um boletim de ocorrência contra Felipe na Delegacia de Polícia de Pilar do Sul.
Segundo o depoimento, o acusado estudou com Laura em 2018 e, desde então, se apaixonou e passou a “atormentá-la”. Márcia relatou ainda que o rapaz a acusava de interferir no relacionamento, de incentivar a filha a usar batom e de não ir à igreja. “Eu vou voltar, vocês vão aprender, vou matar vocês, vocês poderiam ter me ajudado”, teria dito Felipe a Márcia Regina e às duas filhas.
O depoimento da dona de casa é corroborado por seu genro, o mecânico Everton Giovani Ribeiro, viúvo de Laís. De acordo com ele, desde 2018 Felipe vem “atormentando sua família, por ser apaixonado por Laura”.
O mecânico também afirma que Felipe e Laura nunca tiveram um relacionamento amoroso, mas mesmo assim o rapaz foi diversas vezes em sua casa perguntar pela jovem. “Ele queria a Laura para ele, que se Laura não ficasse com ele, não ia ficar com ninguém”, acrescenta.
Insanidade
No dia do funeral de Laís, Felipe saiu de casa carregando uma sacola, vestindo touca preta e máscara facial. O coveiro Adilson Francisco estava na frente do cemitério quando ele se aproximou e sacou uma imitação de revólver da sacola.
Rendido, Adilson foi obrigado a abrir uma capela que Felipe transformou na sede de sua operação. Amarrou o coveiro a uma cadeira e distribuiu quatro bombas caseiras nas proximidades para serem detonadas remotamente quando a polícia se aproximasse.
Ainda de acordo com o relatório do delegado Milton Andreoli, a Polícia Militar foi acionada e tão logo chegou ao cemitério encontrou uma bomba no portão de entrada. Quando os policiais se aproximaram da capela, Felipe ameaçou detonar os explosivos, os obrigando a pedirem reforço do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais) da PM de Sorocaba. Enquanto isso, Felipe mantinha uma faca apontada para a garganta de Adilson e exigia a presença de Laura, Wellington e Márcia (mãe de Laura).
Em meio a negociação, o acusado teria explodido uma bomba contra os policiais. “O denunciado chutou a bomba em direção aos agentes públicos e, com claro ânimo homicida, acionou o dispositivo a distância e explodiu a bomba a cerca de 20 metros dos policiais”, conta o delegado.
Ele acrescenta que Felipe colocou uma bomba pendurada no pescoço da vítima Adilson e prosseguiu com as ameaças. Contudo,durante as negociações entre a polícia e o denunciado, a vítima conseguiu se desvencilhar das amarras e fugir do local.
Acusação
Sem o refém para fazer pressão, o rapaz logo saiu da capela e foi preso em flagrante. De acordo com o delegado, o crime de homicídio só não foi consumado por circunstâncias alheias à vontade de Felipe, pois a bomba explodiu perto, mas não atingiu os policiais.
Milton Andreoli elaborou o flagrante e pediu a prisão preventiva do acusado. Em 10 de julho teve a primeira audiência de instrução e julgamento, quando os advogados pediram o exame de incidência de insanidade de Felipe.
Inicialmente, o rapaz era representado pela advogada Natália de Oliveira Alves Ferreira, que a Justiça nomeou por considerar que o réu não tinha condições de pagar pela defesa. No entanto, logo em seguida sua família contratou um escritório de advocacia de Itapetininga e ele agora está representado pelos advogados Lucas Américo Gaioto, Wanderlei Jubran e Guilherme Jubran.
O Portal Porque aguarda um e-mail que ficou de ser enviado pelo escritório informando os próximos passos do processo.
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