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Aos 95 anos, morre no Rio de Janeiro o jornalista sorocabano Rubens Nogueira

Após tomar contato com o jornalismo em Sorocaba, ele se mudou para o Rio, trabalhou em grandes redações e foi relações-públicas de Itaipu, mas sem perder o contato com a terra natal

José Carlos Fineis (Portal Porque)

Rubens Nogueira nasceu em 1928 e cresceu na rua Aparecida, no Além-Linha. Antes de completar 20 anos, mudou-se para o RJ, onde se formou em jornalismo e iniciou uma carreira brilhante. Foto: Lúcia Veneu Brandão/Priscila Moura

O sorocabano Rubens Nogueira, jornalista, publicitário, escritor e relações-públicas, faleceu neste domingo, 16, no Rio de Janeiro. Contava 95 anos.

Dele se dizia que cumprimentou mais chefes de Estado estrangeiros do que muitos presidentes da República. Afinal, foi relações-públicas de Itaipu Binacional durante 15 anos. Trabalhou nas principais redações cariocas. Jamais deixou de escrever memórias e crônicas saborosas. E, apesar da distância, manteve por toda a vida uma ligação literária e afetiva com Sorocaba.

Nascido em 30 de junho de 1928, filho de Theododo e Hortência, Rubens cresceu na rua Aparecida, bairro do Além-Linha, ao lado dos irmãos Hilda, Neide, Eunice, Edward e Milton (este, também já falecido, viria a ser um conhecido radialista).

Foi aluno do Grupo Escolar Antônio Padilha e da Escola Técnica de Commercio (atual Organização Sorocabana de Ensino, OSE). Desde muito cedo, leu e escreveu muito. “Sonhava desde tenra idade com a glória literária”, recordou certa vez, em texto.

De formação cristã, presbiteriano atuante, preocupava-se com o destino do mundo no pós-guerra. Em 1947, abordou o assunto em artigo enviado, a título de colaboração, para a redação do jornal Cruzeiro do Sul. Seu texto agradou a chefia de redação e Rubens foi convidado a trabalhar no jornal.

No Cruzeiro do Sul, iniciou o aprendizado da profissão pela qual se apaixonaria, e que exerceria por toda a vida. Antes de completar 20 anos de idade, contrariando os prognósticos pessimistas de amigos, decidiu mudar-se para o Rio de Janeiro, para estudar e trabalhar.

“No início de 1948 preparei a mala e viajei na segunda classe do trem, desde Sorocaba até a Praça da República. Botafogo foi minha primeira parada”, recordava.

Na então capital da República, fervilhante de artistas e intelectuais, formou-se em Jornalismo e iniciou uma carreira admirável.

Rubens nunca mais voltou a morar em Sorocaba. Seu primeiro emprego foi no “Diário de Notícias”, em que trabalhou por 14 anos. Começou como “suplente de conferente de revisão” e saiu como redator. Seguiram-se empregos em jornais, revistas e empresas, que o aproximaram de artistas, políticos e intelectuais.

Do Rio, mudou-se para o Paraná. Atuou, durante 15 anos (1976 a 1991), como relações-públicas de Itaipu Binacional. Lá, conheceu dezenas de líderes estrangeiros, como o ex-secretário de Estado dos Estados Unidos, Henry Kissinger.

Depois, voltou para o Rio. “Casou-se por cinco vezes, teve três filhas e um filho, dez netos e cinco bisnetos”, escreveu a amiga e jornalista Maria Auxiliadora Alves dos Santos, escolhida por ele para escrever seu obituário, em 2018.

“Navegou desde 1948 como publicitário, jornalista, relações públicas e escritor entre Sorocaba, Rio de Janeiro, Foz do Iguaçu, Itaipava, Curitiba – onde levantou sua âncora depois de ter sido 25 anos “bicho do Paraná” – e, em 2007, voltou ao Rio de Janeiro. Rubens brincava: ‘Voltei a ser o Garoto de Ipanema, numa versão fisicamente mais limitada.’” — relata o texto de Maria, que recebeu aprovação entusiasmada do homenageado:

“Em vez de um simples obituário, ela escreveu um elogio fúnebre para nenhum mortal botar defeito”, comentou Rubens, ao ler o texto da amiga. E complementou: “Desde jovem, como cristão presbiteriano, aprendi que a morte é o complemento da vida. (…) Como já escrevi recentemente, quero viver ainda mais um pouco. Se Deus me ouvir, estarei pronto para atender ao Seu Chamado em 2022, quando nosso país festejará o Bicentenário da Independência.”

Em 2008, Rubens tornou-se blogueiro e passou a publicar crônicas, memórias e reflexões no blog “Escritor Online”, que manteve até novembro de 2021.

Era casado desde 2011 com a amiga de longa data Lúcia Veneu Brandão, que esteve ao seu lado até os últimos instantes.

Entre 2 de maio de 2019 e 16 de janeiro de 2021, se reencontrou com Sorocaba por meio do blog “Antes que me esqueça”, no site Terceira Margem – Coletivo de Blogueiros Independentes, no qual publicou 32 textos sobre personalidades, arte, literatura, jornalismo e política — considerava Lula, recém-libertado da prisão em Curitiba (PR), “o maior presidente que o Brasil já teve depois de Getúlio Vargas”.

Sorocaba, a família e as lembranças da juventude apareciam com frequência em suas crônicas e reflexões.

“Sorocaba para mim não é um retrato na parede – como era Itabira para Carlos Drummond de Andrade. E não dói, como doía, no sentir do poeta mineiro. Ao contrário: Sorocaba é, dentro de mim, uma doce lembrança, uma presença permanente” – escreveu certa vez.


O corpo de Rubens será velado a partir das 11h na Capela Real Grandeza, em Belford Roxo, Rio de Janeiro, de onde sairá às 14h para ser cremado no Crematório Rio Pax, às 16h30.

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