O programa de “Requalificação Asfáltica entre Ruas”, eufemismo para tapa-buracos, executado em janeiro deste ano no Parque São Bento, teve um custo de R$ 14,8 milhões, atendeu apenas 14 ruas alimentadoras e pelo menos duas ruas contempladas já estão esburacadas novamente. Programa semelhante, executado em 11 ruas do Jardim Magnólia e bairros adjacentes, na zona Oeste, teve um custo de apenas R$ 2 milhões. Em ambos os casos, a “requalificação asfáltica” inclui a instalação de iluminação com lâmpadas de LED (Diodo Emissor de Luz).
Apesar do investimento e da propaganda da Prefeitura, o trabalho não solucionou os problemas e moradores de diferentes bairros têm encaminhado reclamações à redação do Portal Porque, principalmente do Parque São Bento. “Aquele buraco foi tapado no começo do ano”, informa o empresário Gilmar Prado da Farmácia Bandeira 2.
Prado aponta para uma profunda cratera fazendo as vezes de redutor de velocidade no centro do cruzamento das ruas Maria de Fátima Faria e Alcino de Oliveira Rosa, uma das esquinas mais movimentas do bairro. De acordo com Prado, o buraco foi tapado no início do ano, logo após uma visita do vereador Vitão do Cachorrão. “Ele passou por aqui pedindo sugestão de obras e dias depois o buraco foi tapado”, comentou o empresário.
A visita do vereador coincidiu com o anúncio da operação tapa-buracos, feito com estardalhaço pelo prefeito Rodrigo Manga e seus assessores em 17 de janeiro passado. O programa está sendo coordenado pelo Centro de Aceleração Desenvolvimento e Inovação (CADI), ligado à Secretaria de Administração (Sead). De acordo com a coordenadora do CADI, Jessica Pedrosa, o trabalho realizado com financiamentos internacionais é pioneiro na cidade, pois, anteriormente, o serviço mais comum era o recapeamento. “Somente neste bairro, atenderemos com requalificação asfáltica e outras benfeitorias a 14 ruas alimentadoras do BRT na região”, explicou a coordenadora.
Apesar de ser elaborado para atender às ruas alimentadoras – como são chamadas as ruas por onde circulam os ônibus e se localizam os pontos comerciais – o programa não contemplou a Rua Maria de Fátima Farias um corredor de ônibus com dois supermercados, várias lojas e o Posto de Saúde com Pronto Atendimento 24 horas e que está igualmente esburacada. “Eu não sei aonde foi que o prefeito investiu tanto dinheiro. A parte nova do Parque São Bento não tem nenhuma rua inteira, estão todas esburacadas”, afirma a comerciante Stefane Caetano, proprietária da Adega Silva, referindo-se a um loteamento edificado há mais de dez anos e cujas ruas ainda estão à espera do programa de recapeamento.
A Rua Jomar Luiz Furlan Bellini, que também é contemplada pelo programa de “Requalificação” possui uma cratera que ocupa quase a metade da pista. De acordo com o motorista Marcelo Pereira, morador nas proximidades, o buraco está ali desde que se mudou para o bairro há mais de um ano. “No começo deste ano a Prefeitura veio com as máquinas até ali e não cobriu o buraco”, comentou Pereira, apontando para um poste que parece delimitar o trecho que não recebeu recapeamento.
Empréstimos
Os projetos de “Requalificação Asfáltica entre Ruas” integram o programa “Sorocaba Tem Pressa” desenvolvido pela Prefeitura com recursos de empréstimos de bancos internacionais, emendas parlamentares e recursos próprios. No caso do Parque São Bento, os recursos de R$ 14,8 milhões foram obtidos junto ao Banco de Desenvolvimento da América Latina, que tem sede em Caracas, na Venezuela, onde é mais conhecido por CAF (Corporação Andina de Fomento).
O mesmo projeto de “Requalificação” foi implantado no Jardim Magnólias e adjacências, mas com financiamento do Novo Banco de Desenvolvimento (New Development Bank), mais conhecido como Banco dos Brics (bloco econômico formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), presidido atualmente pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Para requalificar o asfalto e trocar a iluminação por lâmpadas de LED naquela região a Prefeitura investiu apenas R$ 2 milhões em 11 ruas o que representa cerca de R$ 181, 8 mil cada uma. Por 14 ruas no Parque São Bento, a Prefeitura pagou R$ 15,8 milhões, equivalente a R$ 1.128.000,00 a unidade. O Portal Porque encaminhu um email para a Secom (Secretaria Municipal de Comunicação) e espera uma explicação sobre o porquê da disparidade de custos e se a Prefeitura está satisfeita com os resultados do programa.
É certo, porém, que a requalificação asfáltica está longe de atender a cidade inteira e ruas esburacadas podem ser vistas em praticamente todos os bairros. Áreas nobres, como o Jardim Emília, ostentam buracos vistosos nas imediações do Hospital de Olhos. Um deles está na frente de um restaurante da movimentada avenida Arthur Fonseca na esquina com a rua Dulce Manzano e um segundo na rua Vicência Faria Versage em frente à uma obra de construção. Ambos os buracos ficam no meio da rua, obrigando os carros a se desviarem pelas laterais.
No Jardim Santa Clara, região do Aeroporto, a Rua Doutor Nereu Ramos, espera há um mês pela visita de uma equipe da prefeitura que passou pelo local acompanhada por um fotógrafo que registrou a presença de dois buracos, um deles bem no cruzamento com a rua Saturno e um segundo na esquina com a rua Netuno. “A prefeitura mandou uma equipe num carro oficial, fotografaram os buracos e ficaram de voltar para consertar”, comentou um morador idoso por trás de um portão de grades que preferiu não se identificar.