
Assessoria da universidade informou que até as 16h de sexta-feira (30) não havia recebido denúncia formal, mas que o caso já estaria sendo investigado. Foto: Divulgação
Integrantes do Movimento Antirracista e da Unegro (União de Negros e Negras pela Igualdade) vão protocolar no Ministério Público, nesta segunda-feira (3), uma denúncia de racismo que teria sido praticada por alguns estudantes do curso de engenharia de produção do campus Sorocaba da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos).
De acordo com o militante negro Jair Neto, a ação parte da denúncia da Associação Atlética Acadêmica de Economia e Administração (Ecad) da UFSCar (clique aqui para ler) e tem como objetivo investigar e acabar com a impunidade de crimes de racismo.
Na nota de repúdio, o Ecad afirma que os sons imitando macaco partiram de torcedores, que são estudantes de engenharia de produção do Caeps (Centro Acadêmico de Engenharia de Produção), contra atletas do Ecad. O fato teria ocorrido em 21 de junho durante a final da modalidade vôlei masculino do Torneio Interbixos.
Um dos estudantes de economia que estava no jogo e que terá a identidade preservada presenciou as ofensas e contou ao Portal Porque que, imediatamente, relatou para a arbitragem e para os representantes da Liga para que o ato constasse na súmula da partida.
“Esse comportamento é totalmente inaceitável e revela uma profunda falta de respeito pela dignidade humana, valor que deveria nortear qualquer ambiente acadêmico. Não podemos tolerar tais atitudes e permitir que sigam ocorrendo, dentro do nosso meio esportivo, da nossa faculdade ou de qualquer outro lugar”, traz um trecho da nota de repúdio do Ecad.
Conforme a assessoria de imprensa da UFSCar, até as 16h de sexta-feira (30), a entidade não havia recebido denúncia formal, mas a universidade já estaria averiguando o caso.
O Caeps emitiu nota após uma reunião realizada também na sexta-feira (30) com diversas entidades que estavam envolvidas no Interbixos. A finalidade era discutir o assunto e apurar os fatos. Na nota consta que os dois estudantes envolvidos no ato racista foram expulsos do Centro Acadêmico.
Pouco antes da manifestação oficial do Caeps o movimento antirracista fez um manifesto e enviou à reitoria da UFSCar, reivindicando:
1 – Investigação e punição dos torcedores que cometeram a ação criminosa;
2 – Investigação e punição da omissão do Centro Acadêmico de Engenharia de Produção de Sorocaba (Caeps) em relação ao ocorrido;
3 – Formalização de leis de combate ao racismo e suas consequências cabíveis no Regulamento Interno da UFSCar Sorocaba;
4 – Posicionamento público da UFSCar de sua responsabilidade na luta antirracista.
Diversos comentários feitos por estudantes, na publicação da nota de repúdio da Atlética de Economia e Administração (Ecad) no Instagram, dão conta de que não foi a primeira vez que o Caeps protagonizou atos contra minorias políticas.
Além disso, estudantes lamentam e repudiam a falta de posicionamento do Centro Acadêmico: “@caeps_ só em novembro que vcs tinham a carteirinha de anti racismo? ou será que vão ser justos antes? postura negligente, omissa e ridícula, em termos legais criminosa. Silêncio ensurdecedor”. A ex-estudante de pedagogia Karina Bispo lembra “em outro episódio eles jogaram dinheiro em jogo feminino”.
De acordo com o advogado e presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB Sorocaba, Hugo Bruzi, “é mais um caso de segregação e de racismo por parte de universitários que vão construir espaços, mas que ainda vivem uma perspectiva racista”.
Ele acrescenta que tratar pessoas inferiorizando por conta da cor de pele é sórdido. “Fato como esse é crime, tipificado no nosso Código Penal, tanto injúria ou racismo, ambos são crimes inafiançáveis, imprescritíveis, hediondos e devem ser tratados com todo o rigor da lei”, observa.
Hugo Bruzi ressalta que a pena é de dois a cinco anos de detenção para este tipo de crime e reforça que “essas pessoas deverão ser punidas”, colocando à disposição das vítimas e do movimento antirracista a Comissão de Direitos Humanos da OAB para que todo esse processo seja instruído de maneira legal. “Essa violência psicológica de uma pessoa que sofre ato de racismo é irreparável”, pontua.
Outro caso
Em 2018, uma estudante negra da UFSCar recebeu ofensas e ameaça de morte no campus Sorocaba. Dois banheiros da universidade foram pichados com mensagens contra Thalita Suzan J. Souza, ao lado de uma suástica. Na ocasião, foi feito boletim de ocorrência que, além de ameaça de morte, registrou injúria racial e depredação de bem público. O caso teve repercussão nacional, mas foi encerrado, sem encontrar o culpado.