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Feira Beco do Inferno resiste aos embates com o Governo Manga e completa sete anos

Com mais de 160 expositores, evento é realizado das 13h às 20h deste domingo (11), tem entrada gratuita, e conta com apresentações musicais, oficina, capoeira e performance cênica

Maíra Fernandes (Portal Porque)

Propósito da feira, idealizada e realizada por artistas, é abrir espaço e promover a união entre diferentes criadores. Foto: Divulgação

Ao chegar na 24ª edição, a Feira Beco do Inferno, que será realizada neste domingo (11), das 13h às 20h, na Praça Frei Baraúna, precisou repassar aos feirantes o preço do embate que trava com o Poder Público para existir. Desta vez, para participar, os artistas independentes precisaram pagar uma taxa mais alta, reflexo das burocracias impostas pelo Governo Manga.

A artista e organizadora Flávia Aguilera explica que os valores precisaram ser atualizados – passou de R$ 30 para R$ 70 para arte e artesanato e de R$ 100 para R$ 150 a alimentação –, mas apesar de todos os ataques sofridos a feira irá existir e resistir.

O que para alguns pode parecer uma correção mínima no fim das contas impacta no lucro dos artistas. Flávia diz que a maioria dos participantes é mulheres, cuja única renda vem da arte. Deste modo, como o retorno é uma incógnita, qualquer aumento no investimento anterior à feira tem impacto no orçamento.

“Somos uma iniciativa cultural. A feira existe há sete anos e nunca deu nenhum problema. Nenhuma briga, nenhuma ocorrência policial, nada! Eles [se referindo ao Poder Público] que deveriam nos apoiar. Estamos usando a praça pública e eles que deveriam contratar ambulância, segurança privada, gerador…”.

Embates

Para a edição deste domingo, a autorização só saiu na quarta-feira (7), após embate dos organizadores – que, entre outras coisas, reivindicou a anulação de cobranças indevidas, como impostos, por exemplo, destacando que se trata de um evento cultural que vende produtos confeccionados pelos próprios artistas e não vindo de terceiros – com as secretarias do Planejamento e de Governo de Sorocaba.

“Diferentemente de eventos comerciais, organizados por empresários, a feira sorocabana é idealizada e realizada por artistas, com o objetivo de abrir espaço e promover a união entre diferentes criadores”, explicam os organizadores. “As despesas são compartilhadas entre os participantes que conciliam a organização do evento com suas atividades cotidianas, movidos pelo desejo de manter viva esta importante iniciativa.”

Flávia Aguilera reitera que só com briga para o município liberar a realização do evento. “Eu falei para o Manga [Rodrigo Manga, prefeito] que não somos Toyota, General Motors ou Construtora Planeta. Somos população trabalhadora, mulheres que complementam renda em casa porque não têm emprego e que nada vai nos fazer desistir”, lembra.

Ainda conforme ela, as brigas não acabaram e, após a feira, a organização de reunirá com membros das secretarias de Planejamento, Governo e Cultura para discutir mudanças no Decreto Municipal nº 27521/2023 que regulariza o uso de espaços públicos para eventos.

Sete anos existindo e resistindo

Mesmo com todos empecilhos e embates, a feira comemora sete anos abraçando mais de 160 expositores independentes. Ao longo deste tempo, muita gente passou, ficou e outros estão chegando agora, chancelando a importância e abrangência que o projeto foi ganhando ao resistir todos esses anos, focando em dar espaço e visibilidade aos artistas independentes.

“Quando eu vi aqueles jovens organizadores com tanta garra, criatividade, vontade e acolhimento, querendo fazer o melhor, foi amor e encantamento à primeira vista. Antes ouvi muitas críticas desmerecendo a feira, mas ela foi crescendo e mesmo aqueles que criticavam foram entendendo o propósito. Nesse tempo a feira foi evoluindo e os artistas também, estudando para melhorar o trabalho para expor e o melhor no dia da feira”, conta Hercília de Oliveira, 58, artesã que participa do projeto desde o começo.

Ela revela que a única fonte de renda é a Feira Beco do Inferno, assim como para tantos outros artistas independentes da cidade. Por conta da relevância do projeto, Hercília diz não entender o motivo do governo municipal buscar, de muitas formas, acabar com a feira. “Infelizmente o governo do prefeito Rodrigo Manga tem tentado acabar com a feira, talvez, por falta de conhecimento.”

Para Luzi Cruz, 42, cozinheira que também participa há muitas edições, a Feira Beco do Inferno é a melhor de Sorocaba, pois acolhe todas as pessoas, sem distinção de gênero ou raça. “Apesar de o Poder Público não dar nenhum suporte para essa feira tão maravilhosa, nós, expositores, juntamente com as organizadoras, fazemos sempre dessa feira um grande evento”, garante, complementando que se trata de uma feira diversa e viva que faz a diferença na vida de centenas de expositores ao longo de sua existência. “Aguardamos ansiosamente seu acontecimento para participar e fomentar nosso trabalho, nosso ganha-pão.”

Em sua primeira participação, a artesã Ana Fernanda Nascimento, 31, está ansiosa. A felicidade com o anúncio da seleção – muito concorrida e com mais de 300 pré-inscrições em 24 horas – foi seguido de um mês de muito estudo e de produção. “Conheço a feira e sempre quis participar, pois é um bom lugar para as pessoas conhecerem a minha produção, já que há um público diversificado”, diz. “Melhor do que participar está sendo a empolgação que me fez aprender diferentes técnicas para desenvolver um produto diferenciado para a feira.”

Ana Fernanda conta ainda que nesse tempo investiu mais do que podia na compra de materiais de trabalho e de cursos e tem expectativa de boas vendas, além de importante vitrine para divulgar sua arte, sua única fonte de renda.

Programação

A 24ª edição da Feira Beco do Inferno traz uma programação variada. Confira:

• 13h – Oficina Cuidados com cabelos cacheados, com Tarsila Toti;
• 14h – Roda de capoeira e maculelê, com a Escola de Capoeira Cerrado;
• 15h – Apresentação de “Os Laureanos”, projeto que tem o objetivo de divulgar a poesia e música caipira;
• 15h45 – Performance cênica “Performance cênica: Somos loucas ou fomos enlouquecidas?”, com as atrizes Clarice Santos e Nia Kuji;
• 16h15 – Projeto instrumental “Trêmula”;
• 17h – Apresentação do sambista Claudio Silva baseada no EP “Samba da Roça”
• 19h – Discotecagem com os DJs Luana Salum e Mendez.

Serviço
Feira Beco do Inferno
Quando: Neste domingo, 11 de junho de 2023
Onde: Praça Frei Baraúna, Centro de Sorocaba
Horário: Das 13h às 20h
Entrada: Gratuita

 

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