O governador Rodrigo Garcia (PSDB), candidato à reeleição em São Paulo, omitiu de sua declaração eleitoral um patrimônio que inclui fazendas, mansões e outros imóveis em nome de sua empresa.
Os imóveis localizados pelo jornal Folha de S. Paulo estão registrados em nome da Centroeste Agropecuária, de Rodrigo.
A empresa possui fazendas de criação de gado em Mato Grosso do Sul e Goiás – em uma área que, somada, equivale a 27 parques Ibirapuera, segundo cadastro –, além de casas de alto padrão no interior de São Paulo.
O governador declarou ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um total R$ 5,7 milhões em bens ao registrar sua candidatura, sendo o mais rico entre os candidatos ao governo paulista. Na lista, há R$ 2 milhões em cotas da empresa Centroeste, dona de bens superiores a este valor.

O governador Rodrigo Garcia (PSDB), candidato à reeleição em São Paulo, omitiu de sua declaração eleitoral um patrimônio que inclui fazendas, mansões e outros imóveis em nome de sua empresa (Foto: Divulgação/Flickr/Governosp)
A omissão dos bens não é ilegal, mas dificulta a transparência sobre o patrimônio do candidato. Os imóveis em nome da empresa do governador podem valer dez vezes mais do que o declarado à Justiça Eleitoral, de acordo com avaliações de corretores ouvidos pela Folha de S. Paulo.
Questionada, a assessoria do governador afirmou que não há ilegalidade e que o capital social da empresa não tem relação necessária com o valor das cotas e seu patrimônio.
De acordo com a documentação da empresa, três fazendas ficam em Mato Grosso do Sul, nas cidades de Paranaíba e Inocência. Segundo dados do Sistema Nacional de Cadastro Rural, as três fazendas, duas delas chamadas Conquista e uma denominada Progresso, somam 1.700 hectares.
Já a outra propriedade da empresa de Rodrigo é a Fazenda Serão, em Serranópolis (GO). Segundo o sistema de cadastro rural, ela tem 2.600 hectares.

Conforme a Folha revelou, Garcia também omitiu da Justiça Eleitoral uma mansão localizada no condomínio de alto luxo Fazenda Boa Vista, em Porto Feliz, no interior do estado (116 km da capital). A reportagem conversou com corretores especializados em fazendas em Goiás e Mato Grosso do Sul e verificou que, em uma estimativa conservadora, quatro imóveis com essas dimensões nos mesmos lugares podem ultrapassar um valor total de R$ 50 milhões.
De acordo com os documentos do cartório obtidos pela reportagem, em valores atualizados, o imóvel foi adquirido por R$ 1,2 milhão, em 2009. Porém, a matrícula registra que, depois, houve a construção de um imóvel com quase 1.600 m² – de valor estimado em R$ 2,9 milhões.
Em uma ampla área de mata preservada e lagos, o empreendimento Fazenda Boa Vista reúne campos de golfe, centro equestre e espaço para prática de triatlo.
Além deste, a reportagem localizou outros quatro imóveis em São José do Rio Preto – incluindo outras duas casas em condomínios de alto padrão.
O último deles foi adquirido por R$ 1,6 milhão, em setembro do ano passado, e fica em um condomínio de mansões na cidade, o Harmonia Residence. O imóvel residencial tem piscina e área construída de 313 m².
Já outro imóvel na cidade fica no conhecido Residencial Damha 1 e foi comprado da mãe de Rodrigo, Eurides, pelo equivalente a R$ 920 mil em valores atuais. Ela morreu em 2020.
Construída sob um terreno de 1.053 m², a casa tem dois andares e ampla varanda com piscina. Somente a área construída é de 669 m². Conforme escritura lavrada em dezembro de 2007, a Centroeste adquiriu o imóvel da própria mãe de Rodrigo.
Há ainda outros dois imóveis em São José do Rio Preto em nome da empresa, um deles comprado em 2008 por R$ 288 mil, em valores corrigidos, e outro por R$ 250 mil, no ano passado.
Citando apenas os valores de compra atualizados pela inflação, os quatro imóveis em São José do Rio Preto valeriam R$ 3 milhões.
Corretores que conversaram com a reportagem, porém, afirmam que imóveis em condomínios altamente valorizados valem bem mais que os valores descritos nas matrículas.
Como exemplo, somente a casa no Damha 1, um dos mais luxuosos de São José do Rio Preto, tem uma avaliação estimada em R$ 3,8 milhões.
Apesar de dar uma impressão equivocada sobre o patrimônio do candidato, especialistas consultados afirmam que não há irregularidade em manter os bens em nome da empresa.
De acordo com o advogado eleitoral Renato Ribeiro de Almeida, a pessoa jurídica não se confunde com a pessoa física, portanto, esse tipo de situação não é proibido pela legislação eleitoral.
Dona dos imóveis, a empresa Centroeste foi constituída pelos pais de Rodrigo, em 1992, e com atuação no ramo de transporte de cargas. Mas, desde dezembro de 2021, ela pertence apenas a Rodrigo e tem a esposa, Luciana, como administradora.
Na mesma data, a atividade econômica foi alterada de transporte de carga para atividades de apoio à pecuária, aluguel de imóveis próprios, corretagem na compra e venda de imóveis, avaliação imobiliária, além da própria compra e venda de imóveis.
Rodrigo foi admitido como sócio da Centroeste em 1996, sendo um dos donos ao lado da mãe – o pai se retirou do comando da empresa. Em julho de 1998, o então aliado de Rodrigo Gilberto Kassab (PSB) passou a ser um dos sócios da Centroeste, com valor de R$ 111,5 mil.
Paralelo aos negócios, a dobradinha Rodrigo e Kassab deu início a campanha que levou o primeiro a ser eleito deputado estadual e segundo à Câmara Federal.
Segundo dados da Junta Comercial do Estado de São Paulo (Jucesp) , Kassab deixou a Centroeste em março de 2007, no mesmo dia em que foi admitido como sócio Flavio Castelli Chuery, que atuou como assessor parlamentar de Rodrigo e Kassab.
Rodrigo e Kassab se conheceram através do PFL, em meados dos anos 1990, e a parceria na carreira política se encerrou com uma briga em 2011. Ambos não se falam até hoje.
Além de comprar imóveis, a empresa Centroeste também os negocia. A reportagem localizou a venda de dois imóveis em São José do Rio Preto. Também foi realizada a transmissão de uma fazenda em Paranaíba à empresa Comapi Agropecuária, em 2012, por valor que hoje seria de R$ 3,7 milhões.
Rodrigo diz que declaração ao TSE segue a legislação. Em nota à Folha, assessoria do governador afirmou não haver ilegalidade.
“Rodrigo Garcia recebeu doação de seus pais a empresa Centroeste com atividades no ramo de transportes, agropecuária além da compra e venda de imóveis. A empresa consta da declaração de Imposto de Renda e desde a primeira eleição de Rodrigo em 1998 é declarada ao Tribunal Eleitoral, conforme determina a legislação”, diz a nota.
O comunicado ainda afirma que a resolução do TSE que regula o registro de candidaturas determina que sejam declarados os bens do candidato nos termos do que exige a Receita Federal.
“Os bens pertencem à empresa. Rodrigo Garcia não poderia declará-los como se pertencessem à pessoa física, inclusive sob pena de configurar crime de falsidade ideológica eleitoral. A declaração trouxe as cotas da empresa, pelo valor de seu capital social.”