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Maternidade de Salto de Pirapora passa por mudanças após passeata de protesto

A principal mudança foi a troca da antiga gestora, o instituto Avante Social, pela Santa Casa de Misericórdia; MP diz que está apurando o caso

João Maurício Rosa (Portal Porque)

Protesto após a morte de recém-nascido resultou na troca da gestora: saiu o Instituto Avante Social, entrou a Santa Casa. Foto: reprodução/Facebook

Após 10 dias de uma manifestação contra a morte de um recém-nascido na Maternidade Municipal de Salto de Pirapora, o estabelecimento ganhou nova administração e está passando por pintura interna. Mas o corpo médico ainda é o mesmo e não há informação de quando será substituído, segundo a técnica de enfermagem Daniele Cachalli, avó de Miguel, o bebê que morreu no local três horas após um parto cesariana realizado em 25 de fevereiro passado.

Daniele acusa a equipe médica de negligência ou imperícia na condução do parto de sua nora, Gabrielle, que foi internada na própria maternidade com um quadro de infecção urinária cinco dias antes da cirurgia cesariana e da morte do bebê. De acordo com ela, a equipe demorou muito para acionar a Cross (Central e Regulação de Ofertas e Serviços de Saúde) e reservar uma vaga de UTI para a realização da cesariana em outra unidade de saúde da região de Sorocaba.

Profissional de saúde, Daniele notou pelo prontuário de Miguel que os médicos detectaram problemas já no começo do dia 25, quando realizaram os primeiros exames de cardiotocografia e não repassaram os resultados para a família. “Só fomos ter informações mais tarde, quando vimos o prontuário. O exame já não estava legal, deu estável, mas com estímulo. Durante todo este tempo não foi realizado nenhum monitoramento. Depois das quatro horas da tarde o médico passou para ver a Gabrielle, fez outro exame de toque e deu seis dedos de dilatação”, relata Daniele.

É neste momento que Daniele vê a negligência ou imperícia, pois, segundo afirma, a solicitação de vaga na UTI, que teria sido formalizada pela manhã, só foi registrada às 20h57, segundo registro da Cross, sistema que gerencia a transferência de pacientes e troca de serviços entre unidades de saúde públicas. Desta forma, conforme ela, a cesárea foi realizada no improviso à 0h34. “Miguel nasceu parado, foi feita reanimação e ele foi intubado. Quando saiu a vaga na UTI, às 3 horas, ele já sofria uma segunda parada cardíaca e veio a falecer”, relata Daniele.

Ela lembra que antes da cesárea toda a equipe médica, parecendo antecipar-se à fatalidade, começou a unificar um discurso de que Miguel teria problemas de coração, de fígado e de rins e poderia não sobreviver. Nenhum destes problemas, porém, foi detectado pelos exames de ultrassonografia que antecederam a internação e nem pela autópsia realizada no Serviço de Verificação de Óbitos (SVO) do Conjunto Hospitalar de Sorocaba.

No dia 20 passado, Daniele convocou um ato público na frente da Igreja Matriz e uma passeata até a Maternidade em protesto contra a morte e pedindo mudanças no atendimento e na estrutura do estabelecimento. Cerca de 60 pessoas participaram da manifestação. Desde então, segundo ela, a Prefeitura substituiu a empresa administradora e iniciou o trabalho de pintura “para alegrar o ambiente”, conforme justificou o novo diretor da Maternidade, Luciano Henrique Souza Oliveira, que também é diretor geral da Santa Casa de Misericórdia, a nova gestora da maternidade em substituição à Avante Social, empresa que também administra a UPH (Unidade Pré-Hospitalar) da zona norte em Sorocaba.

Daniele é uma das técnicas de enfermagem do Posto de Saúde da Família do Jardim Paulistano, um dos bairros mais populosos de Salto de Pirapora. De lá, segundo ela, deu para perceber que o ato público teve grande repercussão na cidade e já produziu benefícios. “Várias gestantes com quem conversei estão relatando um melhor atendimento, estão sendo muito bem recebidas por todos os funcionários”, comentou.

Enquanto acompanha as mudanças na Maternidade, Daniele e a nora, Gabrielle, cobram a apuração do caso pelo Ministério Público e pela Polícia Civil. A promotora Maria Paula Pereira da Rocha, da Vara Distrital de Salto de Pirapora, informou por meio da oficial de Promotoria, Cláudia Cristina, que “foram solicitadas diversas diligências por meio de ofícios, inclusive a instauração de inquérito policial para apuração dos fatos”, esclarece ela em mensagem de WhatsApp. “No momento oportuno os envolvidos serão ouvidos, no momento bastam as informações que elas próprias fornecem”, conclui.

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