
Área de mata em torno do córrego Itanguá, na zona oeste, seria suprimida para construção de uma via interligando a Dom Aguirre à Luiz Mendes de Almeida. Foto: Fernanda Ikedo
A construção de uma via marginal no córrego Itanguá, que pretende ligar as zonas oeste e norte, preocupa moradores do Jardim São Paulo, em Sorocaba. Isso porque, se concretizada, essa obra de anel viário exigirá a criação de uma avenida marginal ao longo dos quase quatro quilômetros do córrego, com remanescentes de mata nativa.
Atualmente, a área do córrego é um corredor ecológico habitado por diversas aves e outros animais, além de plantas nativas. É o que conta a jornalista e educadora ambiental Denise Milena Serafim Vera.
Em entrevista ao Porque, Denise e a educadora física Luciana Duarte Ramalho, também moradora do Jardim São Paulo, relatam que essa intenção existe há mais de 40 anos. “Nossa preocupação é com a preservação da mata. Pode construir o anel viário, mas que se busque uma rota alternativa e desviem da mata”, afirma a jornalista.
Coletivamente, os moradores têm se mobilizado. Oficiaram à Prefeitura questionando sobre licenças e os estudos de impacto ambiental. Também representarão, após a resposta da Prefeitura, ao Ministério Público.
De acordo com a Prefeitura de Sorocaba, a realização desse projeto da marginal do córrego Itanguá faz parte da segunda fase da obra que interligaria um novo corredor de trânsito, cruzando a zona oeste e permitindo uma ligação direta desde a avenida Dom Aguirre, passando pelas avenidas General Osório, Adão Pereira de Camargo, Santa Cruz e Luís Mendes de Almeida, até chegar à Rodovia Raposo Tavares.
“Todos os anos há problemas sérios com enchentes porque não tem terra suficiente para absorver a água. O mundo todo está pensando no meio ambiente. Como que Sorocaba, sede de região metropolitana, pretende acabar com um pulmão verde como esses?”, aponta Luciana.
A indignação também é do fundador do Clube de Observadores de Aves de Sorocaba (coaves), Marcos Antonio Leonetti. “Gostaria de saber quais seriam as possibilidades de se passar o anel viário por outro local, para não prejudicar a fauna e a flora do entorno do córrego Itanguá. Nas imediações existem cerca de 70 a 80 espécies de aves”, diz ele.
Ao caminhar na calçada ao lado da mata que envolve o córrego, com remanescentes de mata nativa, ouve-se a queda de água de uma nascente que sai do condomínio ao lado e desce pela extensão do Itanguá.
Segundo release divulgado pela Prefeitura, em abril deste ano, o projeto todo da marginal do córrego Itanguá prevê a implantação de ciclovia ao longo de todo o trecho. “Outro ponto será a adequação do paisagismo, com a instalação de equipamentos de recreação e esporte, para integrar um grande Parque Linear na extensão desse novo corredor.”
O representante da Comissão de Meio Ambiente da OAB no Conselho Municipal de Meio Ambiente (Condema), Eduardo Abdala, informou ao Porque, na semana passada, que o conselho não foi consultado sobre esse projeto. “Essas questões sobre o impacto ambiental, manejos dos animais e licenças ambientais obtidas, serão levantadas na próxima reunião do conselho, que será no início de junho, às 14h, no Jardim Botânico de Sorocaba”, adianta.
Abdala enfatiza também que, “infelizmente, esses projetos, como do Parque Aquático, também deveriam passar pelo Condema, que é um conselho deliberativo”. Entretanto, os projetos de impacto ambiental não têm sido enviados para avaliação do conselho, segundo destaca.