
Crescimento da frota sobre duas rodas obrigou o poder público, que tradicionalmente ignorou esse segmento, a buscar formas de organizar o trânsito e reduzir o perigo. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A implantação do projeto-piloto da faixa azul nas avenidas 23 de Maio e dos Bandeirantes, em São Paulo, contou com reforço em toda a sinalização (horizontal e vertical) e ações educativas, voltadas ao respeito mútuo entre os condutores de diferentes veículos no compartilhamento do espaço.
Em Sorocaba, motociclistas e garupeiros respondem por 60% das mortes em acidentes de trânsito, apesar de haver 3,4 carros para cada moto em circulação, e a Prefeitura não tem planos de investir nessa ou em outras melhorias viárias, segundo denunciou o presidente do Sindimoto (Sindicato dos Motociclistas de Sorocaba e Região), Gledson Orlandi.
Leia a primeira e a segunda partes desta reportagem:
>> Motos são 18,1% da frota sorocabana e respondem por 56% dos acidentes com mortes
>> Governo municipal não investe na segurança dos motociclistas, denuncia sindicato
Na capital do Estado, as entidades de classe que congregam motociclistas e motofretistas foram envolvidas no processo para garantir que todos respeitassem a sinalização e, principalmente, os limites de velocidade. O projeto é fruto de uma sinalização que considera a lógica pré-existente de ocupação do espaço dos motociclistas, e uma forte campanha educativa para garantir o comprometimento de todos os atores envolvidos.
Outro exemplo dentre as medidas para proteger tanto motociclistas quanto pedestres na capital paulista é a ampliação das frentes seguras (boxes de espera para motocicletas), com 416 unidades implantadas, antes da travessia nos cruzamentos semaforizados.
Essa sinalização aumenta a segurança de motociclistas e pedestres. A CET também vem ampliando a quantidade de faixas de travessias de pedestres. Foram implantadas aproximadamente 5,6 mil novas travessias na cidade nos últimos dois anos.
A CET reforça, ainda, que promove gratuitamente cursos e atividades voltadas, também, para motociclistas de forma presencial e a distância (EAD).
Preconceito contra as motos
“Nem sempre o motociclista é o elemento responsável causador daquele acidente. Um carro tem elementos de segurança passiva; a moto não”, diz Tite Simões, jornalista, instrutor de pilotagem de motos com segurança e fundador da Abtrans (Associação Brasileira de Trânsito).
Tite explica seu ponto de vista fazendo referência a todas as coisas que envolvem conduzir um veículo. “O motorista tem o cinto de segurança, que lhe protege. Ele pode ajustar o GPS ou o rádio, mexe no celular, pode desviar sua atenção para outras coisas. Isso é segurança passiva. Já o motociclista precisa ter foco o tempo todo. Não tem como se distrair. Isso é segurança ativa. É estar focado o tempo todo. O motociclista precisa estar focado para poder ter uma reação rápida e se livrar de uma ‘fechada’, por exemplo”, fala o jornalista.
Daí a urgência de adotar medidas para garantir a segurança dos motociclistas, assim como de ciclistas e pedestres, também.
Tite conta que já havia sugerido uma faixa segregada para motos em São Paulo vinte anos atrás. “Ela é tão boa que o resultado está aí: zero morte de motociclistas desde que ela foi implantada”, comenta.
O fato é que o uso da motocicleta sempre foi carregado de muito preconceito e que os órgãos de trânsito deixavam esse meio de transporte de lado. Com o crescimento da frota sobre duas rodas, não houve mais como fugir de medidas para organizar o trânsito e garantir a segurança daqueles que, atualmente, mais se envolvem em acidentes na mobilidade urbana. Os sinistros de trânsito passaram a ficar caros para o sistema de saúde e só então os governantes passaram a olhar para eles com mais atenção.
Para o especialista, segregar entes mais frágeis da mobilidade, como pedestres e ciclistas, por exemplo, é melhorar a segurança deles nos deslocamentos. “Coisas que se movem, quando se chocam, geram energia. E essa energia é muito desigual entre uma moto, um carro, uma bicicleta, um pedestre, um caminhão ou um ônibus. Então, por que não proteger os mais fracos? Incluir os motociclistas nisso é uma vitória”, argumenta.
O Portal Porque questionou a administração municipal sobre a falta de segurança para os motociclistas e abriu espaço para que o governo municipal desse informações e justificativas, mas, como é de praxe em todos os assuntos, a Prefeitura preferiu não se manifestar.
NOTA DA REDAÇÃO
Por uma trágica coincidência, quando essa série de reportagens estava sendo publicada, mais dois jovens motociclistas morreram em acidentes de trânsito em Sorocaba.
O primeiro deles, um homem de 29 anos, faleceu na manhã de sábado (27), por volta das 8h30, na avenida Dom Aguirre, próximo ao número 2.800, sentido bairro. Depois, no início da noite, um outro motociclista faleceu em sinistro, praticamente no mesmo local do primeiro.
O Portal Porque se solidariza com as famílias enlutadas por essas perdas irreparáveis.