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Governo municipal não investe na segurança dos motociclistas, denuncia sindicato

Nem mesmo pintura de lombadas é feita a contento; enquanto isso, em São Paulo, faixa azul zerou os acidentes nas vias em que foi implantada

Fabiana Blazeck Sorrilha (Portal Porque)

Implantada na avenida 23 de Maio, a faixa azul organizou a circulação de veículos e reduziu a zero no número mortes em acidentes. Foto: divulgação/Prefeitura de São Paulo

As mortes de motociclistas no trânsito de Sorocaba passam pela indiferença e falta de ação do poder público. As motos representam, segundo dados do IBGE de 2022, pouco mais de 18% da frota de veículos em circulação na cidade, enquanto motociclistas e garupeiros respondem por 60% dos óbitos em acidentes.

Leia a primeira parte desta reportagem:
Motos são 18,1% da frota sorocabana e respondem por 56% dos acidentes com mortes

Para o presidente do Sindimoto (Sindicato dos Motociclistas de Sorocaba e Região), Gledson Orlandi, utilizar uma motocicleta para trabalhar ou se deslocar na cidade é ter de conviver com a violência no trânsito e a falta de ações para prevenção de acidentes.

Gledson diz que o atual governo é negligente e sempre alega não ter dinheiro para aplicar medidas que visem à segurança dos motociclistas. “Ele gasta com propaganda, mas não aplica um centavo em campanhas de prevenção de acidentes”, critica o motociclista. No Maio Amarelo, voltado à educação para o trânsito, não foi diferente.

O sindicalista relembra que, em governos anteriores, chegou a opinar para conseguir melhorias para a segurança dos motociclistas, como o espaço destinado às motos nas paradas dos semáforos, chamado frente segura.

Outro pedido feito pelo sindicato foi melhorar a sinalização das lombadas, que tem acontecido no atual governo, mas não a contento, conforme reforça Gledson. “Pintam mal e porcamente dois risquinhos na lombada, e alegam que não tem dinheiro para mais”, emenda.

Gledson espera que a Prefeitura invista na implantação da faixa azul em Sorocaba, a exemplo do que fez a cidade de São Paulo, que segmentou o espaço para motociclistas e reduziu a zero o número de mortos por sinistro de trânsito nas vias que ganharam a sinalização diferenciada.

“A gente vê o governo investindo na ciclovia, mas na faixa azul para motos, não”, lamenta o sindicalista. Segundo ele, a Semob (Secretaria de Mobilidade) da Prefeitura de Sorocaba alegou que não havia dinheiro e nem espaço para implantar a faixa destinada aos motociclistas.

A Prefeitura de Sorocaba foi procurada pela reportagem para responder às queixas de Gledson Orlandi, mas, como sempre, apesar do espaço aberto para se manifestar, recusou-se a dar qualquer informação ou justificativa.

O exemplo da faixa azul de São Paulo

A Prefeitura de São Paulo, por meio da CET (Companhia de Engenharia de Tráfego), implantou a faixa azul em janeiro do ano passado na Avenida 23 de Maio, como um projeto-piloto voltado à segurança dos motociclistas que circulam pela via, e para enfrentar o fato de o modal ser atualmente aquele que mais causa vítimas e mortes no trânsito.

O projeto na 23 de Maio segue no sentido aeroporto, entre a Praça da Bandeira e o complexo viário Jorge João Saad, com 5,5 km de extensão.

Ao contrário do que se pensa, as faixas azuis não deixam a via mais estreita, mas sim organizam o trânsito, de forma que as motos possam usar o espaço de forma ordenada e segura (leia aqui um tira-dúvidas da CET sobre a utilização da faixa azul).

Com o novo conceito de compartilhamento do espaço viário, a CET relata que nenhum motociclista morreu no trecho da avenida em que a faixa foi implantada.

Em outubro último, com a anuência da Senatran (Secretaria Nacional de Trânsito) e após avaliação dos resultados, a faixa azul foi implantada, em caráter experimental, também na Avenida dos Bandeirantes, entre a Marginal Pinheiros e a av. Afonso D’Escragnolle Taunay, seguindo por esta até o viaduto Aliomar Baleeiro, somando 17 km de extensão (8,5 km em cada sentido). De lá para cá, nenhum motociclista morreu na via, o que indica que a segunda faixa exclusiva também caminha para o índice zero de óbito de motociclistas.

Outro fator importante analisado pela CET-SP é a redução de 15% nas médias de lentidão da avenida 23 de Maio. O comparativo para chegar a esse índice de redução levou em conta os anos de 2019, antes da pandemia, e 2022, já com a sinalização da faixa válida. “O índice mostra que o novo espaço trouxe organização para o fluxo veicular”, reforça a companhia.

Instalar a faixa azul custa R$ 150 mil por quilômetro, se necessária apenas a mudança na sinalização, que foi o caso da faixa da avenida 23 de Maio. A Prefeitura de São Paulo já planeja implantar mais 220 km de sinalização para motos.

Leia neste domingo, 28, a terceira e última parte desta reportagem.

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