
Tiago Suckow, atual diretor do Saae, alegou problemas enfrentados por ele com verbas, planejamento e licitações em reunião de funcionários da água e esgoto, que reclamam da falta de condições de trabalho. Foto: Divulgação/Saae Sorocaba
Tiago Suckow, diretor do Saae de Sorocaba, no cargo desde janeiro de 2022, disse que herdou um rombo de R$ 80 milhões de seu antecessor, Ronald Pereira, também nomeado pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos), em 2021. A afirmação de Tiago foi feita a funcionários da autarquia, dia 16, como uma das justificativas para a falta de materiais de trabalho e uniformes. Ao Porque, Ronald afirmou que o prefeito sabia do problema financeiro “que encontrei da administração anterior”. Ele também declarou ver com e estranheza o atual diretor usar isso como desculpa “um ano de meio depois” para a crise atual no Saae.
O Portal Porque teve acesso a vídeos e áudios na reunião interna do diretor-geral do Saae (Serviço Autônomo de Água e Esgoto) com funcionários, sobre a falta de condições de trabalho e publicou uma matéria sobre o assunto. Vários servidores fizeram postagens com título como “Crise no Saae” e “Funcionários do Saae Revoltados”.
“Quando eu entrei, tínhamos um rombo de R$ 80 milhões”, afirmou o diretor na reunião de terça-feira da semana passada. Em dezembro de 2021, o Saae “não tinha dinheiro para pagar a conta de luz”, disse Tiago Suckow. De acordo com ele, teve que se feito um corte de 15% nos contratos de fornecimento do Saae para pagar a energia elétrica.
No domingo (21), a reportagem enviou perguntas específicas para a Prefeitura, via Secretaria de Comunicação (Secom), sobre o rombo de R$ 80 milhões um ano e cinco meses atrás e sobre problemas em licitações para a compra de materiais ao Saae, também reveladas por Suckow durante a reunião. Mas até a tarde desta segunda-feira (22) não houve respostas. A Secom adotou por praxe não responder aos questionamentos do Portal Porque.
Falta de planejamento
Suckow também acusou o diretor que serviu ao governo Manga por um ano de “falta de planejamento”. O atual diretor garantiu que encontrou problemas inclusive em licitações. “Tinha uma licitação para tubos de diversos diâmetros, mas pedia um monte o que a gente tinha em estoque e faltavam os mais necessários.”
Segundo o gestor atual do Saae, essa falta de planejamento resultou em problemas de compra de materiais para o serviço de água e esgoto e para os funcionários da autarquia. Ele justificou ainda que trabalhou em 2022 com um planejamento feito em 2021, por Ronald.
Para enaltecer a atual direção, Tiago disse que em 2022 o Saae bateu recorde de arrecadação, com R$ 425 milhões e afirmou que “a gente mesmo contribuiu trazendo R$ 86 milhões” para a autarquia.
Tiago disse que a gestão dele, com dinheiro em caixa, está fazendo o planejamento adequado para atender ao Saae, aos funcionários e o uso correto de verbas públicas.
Na época de sua nomeação, Tiago negou à imprensa que veio com a missão de sucatear para privatizar o Saae, como se comentava nos meios políticos que Rodrigo Manga faria em sua administração.
Licitações derrubadas
Tiago admitiu que os problemas com licitações, também herdados por ele no segundo ano de gestão Manga, ainda não foram superados. Ele deu como exemplo uma licitação recente para compra de botas aos servidores. “Foram desclassificados o primeiro, o segundo e o terceiro vencedores. O quarto vencedor foi qualificado. Mas ele foi qualificado pelos mesmos critérios que o primeiro e o segundo foram desqualificados”, explicou.
“O pessoal [fornecedores concorrentes] entrou com recurso. Ou seja, derrubou a licitação. Teve um erro na construção dessa licitação”, concluiu.
Os problemas da administração municipal de Manga com licitações são frequentes e sempre noticiados pelo Porque, que procura a Prefeitura para ela explicar a questão, mas não obtém retornos.
Essas suspensões ou cancelamento de licitações têm afetado diversos setores, além do serviço de água e esgoto.
Ronald se defende
Em entrevista para o Porque nesta segunda-feira (22), o ex-diretor do Saae Ronald Pereira afirmou que em sua gestão fez “inúmeras compras e gestões para que não faltassem equipamentos básicos, bem como os de segurança do trabalho, com resultados positivos. O Saae de Sorocaba necessita de um gestor que tenha experiência com administração além da vivência na área de saneamento.”
“Após 1 ano e meio alegar isso [rombo financeiro e licitações] me causa muita estranheza e traduz total incompetência da atual diretoria geral”, disse Ronald Pereira, que acrescentou: “O prefeito foi avisado em reunião a respeito do problema financeiro que encontrei da administração anterior, o que não justifica deixar faltar equipamento e materiais de trabalho importantes para o ótimo atendimento que o Saae sempre prestou à população de Sorocaba.”
Ronald afirmou ainda que o trabalho dele foi “reconhecido em nossas 2 gestões à frente da Autarquia como um dos melhores do Brasil”.
Concluiu a declaração ao Porque afirmando ser “lamentável a situação de uma empresa [autarquia que responde à Prefeitura Municipal] que sempre foi motivo de orgulho para os funcionários e para a população”.
Além de ter sido diretor do Saae de Manga, Ronald Pereira teve cargos de primeiro escalão nos governos José Crespo e Jaqueline Coutinho, inclusive como secretário de Recursos Hídricos de Crespo e Jaqueline e diretor-geral do Saae na gestão Jaqueline, sendo exonerado em 2019.
Ele foi exonerado pelo prefeito atual em meio à crise hídrica do ano passado, que causou o racionamento de água em janeiro.
Outros serviços públicos
Além das falhas em licitações do Saae apontadas por Tiago Suckow, o secretário de Saúde, Cláudio Pompeo, admitiu, em reunião do Conselho Municipal de Saúde, ocorrida no dia 17, que a licitação regular para a compra de remédios para a rede municipal foi “suspensa”, mas não explicou o motivo nem ao Conselho nem ao portal.
O Porque apurou que a Prefeitura tem comprado medicamentos na modalidade “dispensa de licitação”, alegando situação emergencial.
O portal já havia noticiado, em janeiro e março, que várias empresas que tentaram participar da concorrência entraram com pedidos de impugnação do pregão regular. Houve acusações de fraude, direcionamento e superfaturamento.
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