
Regina Bonfim durante um campeonato realizado no Xadrez Clube de Sorocaba: ela quer massificar a modalidade na região. Foto: Divulgação
Em Sorocaba se tornou impossível falar em xadrez e não citar o nome de Regina Bonfim. Ela é, sem dúvida, a grande personalidade do esporte. A sua história se confunde com a da modalidade. Com passagem pela seleção brasileira, participação em Olimpíada e Pan-Americano, Regina segue ativa e colecionando títulos. Também faz parte da diretoria do Xadrez Clube de Sorocaba, com o objetivo de manter a modalidade em pé no município, mesmo diante de tantas dificuldades.
Regina Bonfim nasceu em 1962 e é formada em administração de empresas. Cursou faculdade, na década de 1990, graças ao Bolsa Atleta e ao apoio da Prefeitura de Sorocaba. Como enxadrista, traz no currículo duelos memoráveis, entre eles contra Henrique Mecking, o Mequinho, considerado o maior mestre enxadrista do país.
Na diretoria do Xadrez Clube, Regina trava uma luta para a massificação da modalidade, ao lado dos demais parceiros de diretoria. Entende que é preciso levar o jogo para os alunos, crianças e jovens de todos os bairros. Isso pode ser feito, segundo ela, por meio de parcerias com as escolas públicas e privadas, onde professores receberiam orientação e cursos.
Nesta entrevista ao Portal Porque, Regina fala um pouco de sua vida como enxadrista, como começou, do passado, dos jogos memoráveis, dos benefícios que o xadrez traz para a saúde e ainda do trabalho de estruturação da modalidade em Sorocaba. Confira:
Portal Porque – Como o xadrez entrou na vida da Regina?
Regina Bonfim – Eu conheci o xadrez com 12 anos. Um pouco tarde. Pedi para minha mãe me dar um jogo e ela me presenteou com todos que tinham na época: trilha, dama, xadrez… Eu gostei mais do xadrez e comecei a aprender. Depois disso, já jogava com meus irmãos. Na escola a gente só jogava xadrez e não tinha torneios. Aprendi bastante. Só passei a vê-lo como esporte quando tinha 19 anos, época em que conheci o Xadrez Clube de Sorocaba.
PP – E depois, quando começou a disputar campeonatos, a família te apoiou?
RB – Sim. Eu tive total apoio em casa quando disse que ia começar a jogar xadrez. Comecei a jogar para disputar campeonatos quando tinha 19 anos e não tive tantos problemas, digamos de forma mais profissional.
PP – Uma curiosidade: dizem que quem joga xadrez tem o lado nerd (definição de pessoas muito dedicadas e concentradas aos estudos e ao aprendizado). Isso é verdade?
RB – O xadrez é um esporte que exige muito estudo, muito trabalho, tem de pensar, é um exercício mental exige do jogador planejamento e muita tática. Isso indica que, geralmente, quem pratica xadrez se dá bem em outras áreas da vida e na conquista do sucesso.
PP – Há também uma tese que o xadrez traz muitos benefícios para a saúde, principalmente mental. Como é isso?
RB – É sim. Inclusive alguns médicos dizem que jogar xadrez é bom porque pode prevenir o mal de Alzheimer. E tem outro benefício: não tem idade para jogar xadrez. Temos no XCS [Xadrez Clube de Sorocaba] com alunos de seis, sete anos até de 70, 80 anos. Trata-se de um exercício muito bom que ajuda a manter o equilíbrio e a concentração e ajuda em outras áreas da vida.
PP – Temos no futebol o Messi, Neymar, CR7, Mbappé e outros grandes nomes. Quais são seus ídolos e espelhos no xadrez?
RB – Os nomes de jogadores que eu sempre me espelhei no xadrez foram os russos Analoy Karpov, Garry Kasparov, Magnus Carlsen, Tigran Petrossian, entre outros grandes mestres. E no Brasil teve o grande mestre Henrique Mecking, o Mequinho. Todos campeões que sempre ensinaram muito para nós.
PP – Desde os 19 anos foram muitas finais e títulos. Para quem não conhece fale um pouco da Regina e seu títulos?
RB – Eu tenho vários títulos na minha carreira e no meu currículo. Fui campeã paulista em 1997 e 2017; fui vice-estadual em 2022. Joguei muitos torneios importantes dentro e fora do Brasil. Fui campeã na categoria absoluta. Ainda neste ano estou disputando torneios nacionais e fui terceira entre 113 enxadristas, sem contar bons resultados em Jogos Regionais, Jogos Abertos. Bom, eu venho me esforçando para manter o ritmo, pois no xadrez quanto mais se joga mais se busca melhorar.
PP – Você jogou uma Olimpíada e um Pan. Como foi isso?
RB – Foi meu maior momento. Em 1998 eu fui para as Olimpíadas de Xadrez realizadas na Rússia [quem venceu foi Mekhri Ovezova, do Turcomenistão. Além de Regina Bonfim, o Brasil teve outros grandes enxadristas como Gilberto Milos, Jaime Sunye Neto, Giovanni Vescovi]. Foi o auge da minha carreira e cheguei a 2194 pontos. Uma experiência para toda vida. Outra grande alegria foi jogar o Pan-Americano pelo Brasil, em Bogotá, Colômbia, em 1998.
PP – É muito caro ser atleta de alto nível no xadrez?
RB – Sem citar valores, posso dizer que não é barato (risos). Você precisa estudar, se aperfeiçoar, fazer viagens, gastar com alimentação, hospedagens. Alguns torneios são caros e você tem de estar sempre competindo.
PP – O Xadrez Clube de Sorocaba tem crescido nestes anos?
RB – Nosso Xadrez Clube, fundado em 1° de novembro de 1935 [completa 88 anos em 2023], é hoje um dos mais fortes clubes da modalidade da região. Para vocês terem ideia, temos uma média de mais de 40 enxadristas que participam de nossos torneios num calendário ativo e mensal. E temos enxadristas que vem de toda região jogar nossos torneios onde damos troféus e medalhas. Fazemos um trabalho forte de divulgação hoje nas redes sociais e estamos crescendo dia a dia, buscando levar a modalidade para a cidade.
PP – Como massificar e espalhar o xadrez para as novas gerações em Sorocaba?
RB – Hoje temos pessoas que fazem faculdade e que ensinam xadrez. Essa massificação é uma missão difícil, mas estamos tentando e precisamos colocar o xadrez nas escolas da cidade. Para isso, contamos com apoio da Diretoria de Ensino e de autoridades. Temos feito palestras em escolas e cursos na Faculdade de Educação Física. Trata-se de um trabalho que depende do professor dar aulas de xadrez e passar essa informação aos alunos, um trabalho lúdico. Além do ensino prático, temos bons livros que ensinam a modalidade a partir do básico, mas acreditamos no esporte e precisamos do apoio e união de todos.
PP – Um grande jogo e resultado da Regina. Você já tem uma herdeira para o lugar de rainha do xadrez de Sorocaba?
RB – Acho que um grande jogo que fizemos foi uma vez com o Cesar Soares, grande mestre enxadrista do país, quando consegui empatar com ele com as pedras pretas. Quanto a quem pode ocupar meu lugar, nossa equipe está trabalhando um time feminino com muitas meninas talentosas e, com certeza, teremos várias delas que vão brilhar no xadrez regional e no país. Queria aproveitar a oportunidade para informar que eu e toda equipe do Xadrez Clube de Sorocaba disponibilizamos aulas para pessoas de todas as idades – crianças, adolescentes, adultos e melhor idade – na nossa sede, que fica na Rua Santa Clara, 106, Centro. Lá ensinamos do xadrez básico ao avançado com as regras da Federação Paulista, despertando o gosto pelo esporte. Nossas aulas são às quartas, sextas e sábados.