Carlos Alberto Medeiros é formado em Administração de Empresas, trabalhou em multinacionais e seu último emprego com carteira assinada foi na Nestlé, como supervisor de vendas. Chegou a ser voluntário, ajudando em campanhas de entidades como a Ronda da Caridade da Legião da Boa Vontade (LBV). Hoje, é ele quem necessita de ajuda.
Depois que foi demitido, aos 59 anos, pensou: “Logo arrumo outro emprego.” “Daqui a pouco arrumo” foi o mantra que o manteve atrás de outras oportunidades. Mas passaram-se dois anos e ele só conseguiu fazer uma entrevista nesse período.
Carlos conta que a primeira vez que foi para um semáforo, há dois anos, ele e a esposa só tinham em casa um único tomate para comer. Nada mais. “Eu achei que isso não acontecia com quem tem preparo e experiência, que não ficaria sem amparo. Mas, pelo contrário, me assusta porque é o contrário”, relata.
Gaúcho, conta que veio para Sorocaba a convite do Rotary, pois era rotariano de carteirinha e passou a gerenciar uma empresa na cidade, há 22 anos. “Minha casa vivia cheia”, conta, com a voz embargada. “Mas, desempregado e doente, fui atrás de um conhecido. Andei 15 quilômetros para bater na casa dele e pedir algum alimento para cozinhar. Ele disse para voltar outro dia.”
Com os olhos cheios de lágrimas, em pé, com uma sonda do lado esquerdo por conta de uma hérnia inguinal, Carlos segura, diariamente, uma placa em que pede auxílio para comprar remédios, num semáforo próximo da Prefeitura de Sorocaba, no Alto da Boa Vista.
“Às vezes, preciso vir 20 dias aqui para poder comprar duas caixas de remédios”, diz. Os medicamentos não são somente para ele, mas também para a esposa, que fez cirurgia para retirada de tumor do útero e está acamada com depressão. “São R$ 800 só com remédios. Já é muito para quem tem salário, imagina pra mim que estou desempregado.”
No Jardim Cecília, bairro que faz divisa com Votorantim e Sorocaba, Carlos conseguiu um apartamento emprestado por solidariedade. Em maio deste ano, completou 60 anos.

Cidadão de onde?
Durante a entrevista no gramado, com o semáforo fechado, uma motorista dá R$ 2,00 para Carlos, que agradece e guarda no bolso.
Além da hérnia, ele sofreu infarto e precisará fazer um procedimento cirúrgico também. Até agora, não recebeu nenhum benefício ou auxílio do Estado.
“Já passaram alguns vereadores aqui, conversaram comigo e um deles chegou a dizer: ‘Ah, você mora em Votorantim? Então, não posso fazer nada’”, comenta.
Carlos e sua esposa não têm familiares na região e recebem cesta básica por meio da solidariedade de quem se voluntaria a contribuir.

Carlos fica das 11h às 15h no semáforo, mesmo com uso da sonda
Questão de direitos
De acordo com o artigo 3º do Estatuto da Pessoa Idosa (Lei n. 10741, de 2003), é “obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar à pessoa idosa, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária”.
A reportagem questionou a Prefeitura de Votorantim sobre a cirurgia de hérnia, se há previsão de mutirão e sobre a rede de assistência que poderia auxiliar Carlos e outras pessoas na mesma situação.
A Secretaria de Cidadania e Geração de Renda informou que qualquer pessoa pode solicitar o Cadastro Único. Basta procurar o setor, pessoalmente, na Praça de Eventos ou pelo telefone 3243.4639 e agendar um horário. No dia do cadastro, é importante apresentar documentos de todos os que residem na casa como RG, CPF, título de eleitor, certidão de nascimento ou casamento, carteira de trabalho e comprovante de endereço (não é necessário levar xerox, apenas os originais).
O Cadastro Único é a porta de entrada para todos os benefícios estaduais e federais, como o Programa Bolsa do Povo e Auxílio Brasil (antigo Bolsa Família). Também é obrigatório para requerer as tarifas sociais de água e energia e o Benefício de Prestação Continuada (BPC).
A indicação aos benefícios estaduais e federais é feito através de seleção dos governos do Estado e do Município.
Em Sorocaba
O aumento da miséria, do desemprego, considerando que o Brasil voltou a integrar o Mapa da Fome, tem levado mais pessoas e até famílias para as ruas. Em Sorocaba, pessoas desempregadas, sem renda e que precisam de ajuda devem procurar uma unidade da rede Cras (Centros de Referência em Assistência Social), que atende famílias em situação de vulnerabilidade social.
Os Cras atendem de segunda a sexta-feira, das 8h às 17h. Clique aqui para ver os endereços.
Contato
Quem quiser contribuir com Carlos pode entrar em contato pelo telefone (15) 99149-1006.