
Secundaristas levantaram cartazes para defender a unificação da luta dos estudantes com a dos trabalhadores, no segundo protesto realizado na cidade. Foto: Fernanda Ikedo
No segundo protesto pela revogação do NEM (Novo Ensino Médio), na tarde desta quarta-feira, 19, na praça Coronel Fernando Prestes, em Sorocaba, estudantes de escolas estaduais denunciaram a situação em que se encontram as instituições de ensino e a precarização promovida pela reforma do ensino médio.
Os secundaristas levantaram cartazes em que destacaram a união dos estudantes e trabalhadores. Nos cartazes, liam-se frases como “a nossa luta unificou! É estudante junto com trabalhador”. Um dos gritos de guerra era “trabalhador olha pra cá, eu tô na rua pro seu filho estudar”.
Carlos Sérvulo, membro da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), uma das organizações do protesto, informou que as mobilizações devem continuar nas ruas. “Não queremos só a suspensão do Novo Ensino Médio, mas a completa revogação.”
“Recebemos com vitória a suspensão da implementação do NEM, mas não pode ser algo momentâneo. Queremos a revogação o quanto antes”, declarou o estudante João Bertoletti, do grêmio estudantil da E.E. Prof. Júlio Bierrenbach Lima.
Para a diretora de escola e integrante da coordenação da subsede Sorocaba da Apeoesp, Magda Souza, a reforma “é uma tragédia para o futuro dos estudantes e também para os professores. Entendemos a escola como foco de conhecimento, mas, com a reforma do Ensino Médio, 40% do conhecimento é retirado dos jovens já no segundo ano”, afirmou.
O militante do Levante Popular Alessandro Ferreira dos Anjos salienta que “os estudantes representam o polo popular em torno das tensões que estão em cima do governo. A mudança que precisamos é a revogação. Porém, há pressão neoliberal que tenta cooptar o governo para concessões.” “É preciso mais corpo nessas manifestações, inclusive, dentro do governo para que não se tenha chance de impedir a revogação”, conclui.
A privatização do ensino é uma das pautas desse debate sobre a escola pública e o ensino médio. Os resultados dessa implantação da reforma traz os itinerários formativos que não contemplam matérias que caem em vestibular, nem completam uma formação cidadã. É o que atestam pesquisadores, professores e estudantes que estão vivenciando esse novo currículo.
Karina Bispo, pedagoga formada pela UFSCar e militante da Consulta Popular, comenta a obra “Reforma Empresarial do Ensino”, do pesquisador Luis Carlos Freitas (Expressão Popular) como alerta para a privatização e precarização do setor. Ela compara: “Em Sorocaba mesmo, podemos ver o terceiro setor, as organizações não governamentais (OSs), em parceria com a Prefeitura, conseguindo entrar nas escolas por meio de contratos, e é justamente isso que Freitas afirma ser o primeiro passo para a privatização. No Ensino Médio há um movimento nesse sentido.”
O ato, que teve concentração às 16h na praça central, percorreu as ruas do Centro até a praça da Bandeira, na avenida Afonso Vergueiro, e contou com apoio de movimentos sociais, estudantis, coletivos e das vereadoras Fernanda Garcia (Psol) e Iara Bernardi (PT).
Por todo o Brasil
No Brasil, as manifestações ocorreram em diversas cidades e capitais. Em São Paulo, um protesto foi realizado no período da manhã.
O estudante do segundo ano do Ensino Médio e presidente da União Paulista dos Estudantes Secundaristas (UPES), Wendell Augusto Almeida, esteve na manifestação na capital e participou à tarde do ato em Sorocaba. “Não sairemos das ruas até a revogação”, disse ele, que é de Itaquaquecetuba
“Precisamos ter nossa voz ouvida dentro da nossa escola, dentro do nosso Estado. Não pode continuar assim, aprofundando as desigualdades sociais. Temos duas aulas de Matemática e Português na semana, enquanto nas escolas particulares tem de seis a sete. Precisamos pautar e resolver esses problemas do Novo Ensino Médio.”
Suspensão
Após a primeira mobilização nacional (leia aqui), um grupo de trabalho do governo federal se reuniu para discutir as regras para suspensão do cronograma do Novo Ensino Médio, que começou a ser implantado nas escolas em 2022. A reforma foi aprovada em 2017 durante o governo Temer (MDB), por meio de medida provisória.
Essa suspensão é por 60 dias, prorrogável por mais 30 dias, mas ainda não muda a rotina dos estudantes. Apenas fica suspensa a a nova estrutura para o Enem 2024, pois para alinhar a prova ao Novo Ensino Médio, novas questões teriam de ser produzidas.