
Servidores ouviram elogios, cobranças e narrativas sobre obras prometidas, mas não tiveram oportunidade de apresentar seus problema. Foto: reprodução
Marketing. Propaganda política. Engodo. Decepção.
Essas foram algumas das definições mais ouvidas entre as centenas de funcionários públicos de Sorocaba que compareceram nesta quinta-feira, em dois horários, na sede campestre do Clube União Recreativo, convocados (no caso dos servidores comissionados) ou convidados pelo prefeito Rodrigo Manga (Republicanos) para uma reunião sem pauta definida, misto de comício, prestação de contas, cobrança e palestra motivacional.
A reunião ocorreu num momento de crise na Prefeitura, em que as queixas dos servidores, especialmente na área da Educação, se avolumam sem respostas. Entre as reivindicações não atendidas dos servidores dessa pasta, estão a valorização salarial, o pagamento de insalubridade para auxiliares de Educação e contratação de mais auxiliares e cuidadores, para amenizar o quadro atual de salas superlotadas, entre outras.
Afinado com o sindicato
Os servidores tiveram que se deslocar até o bairro Guadalajara, na região oeste da cidade, para ouvir uma fala de quase meia hora do prefeito de manhã e à tarde. Manga não poupou elogios ao Sindicato Municipal dos Servidores, cobrou esforço dos servidores e, mesmo diante de tantas denúncias de falta de estrutura e defasagem de profissionais, principalmente na Educação, não anunciou nenhuma melhoria para o funcionalismo.
Participaram — ao contrário do que havia sido noticiado inicialmente – funcionários de todas as secretarias, incluindo entidade e autarquia como Urbes e Saae. Os secretários municipais, que ocupam cargos políticos, também tiveram que comparecer.
Os servidores foram recebidos com café, bolachas e garrafinhas de água à vontade. Havia também um food truck, à parte, no estacionamento do Recreativo Campestre.
“Engajamento”
Em suas falas rápidas, Manga destacou o reajuste dado aos servidores, que também foi destaque num folheto do Sindicato dos Servidores, distribuído na entrada do Recreativo. Segundo o prefeito, todas as ações do governo são afinadas com o sindicato.
“A ideia da reunião é passar visão do governo e estratégias do governo para a cidade, para contar ainda mais com o engajamento de cada um de vocês”, destacou.
Houve execução do Hino Nacional, seguida de um vídeo institucional da Prefeitura com autoelogios às “realizações” do governo municipal. Na sequência, os presentes foram convidados a rezer um Pai Nosso, antecedendo a fala do prefeito.
Manga apresentou no telão algumas obras prometidas pelo seu governo e ainda não realizadas, acompanhadas de ilustrações vistosas, como a clínica pública veterinária, o complexo hospitalar, a marginal direita do rio Sorocaba, 17 novas escolas e a retomada de oito prédios do Sabe Tudo no formato Conect@.
“Queremos ser o governo que mais valoriza os servidores!”, dizia uma das frases colocadas em telas de datashow. Numa outra tela da apresentação, lia-se uma frase típica de Manga: “Esta é a primeira reunião geral realizada junto com os servidores da história da Prefeitura.”
“Com o reforço de vocês, com a ajuda de nosso Deus, não tenho dúvida que faremos dessa cidade a melhor cidade do Brasil “, afirmou o prefeito.
Apesar das palavras de encorajamento e cobrança, o microfone não foi aberto para que os servidores pudessem expor suas reivindicações.
Propaganda política
As cobranças de mais engajamento do funcionalismo geraram indignação em profissionais de áreas críticas como a Educação, que vem sofrendo com falta de estrutura e sobrecarga devido à defasagem de pessoal na rede municipal de ensino.
O Porque colheu alguns depoimentos de servidores presentes às apresentações. Para poupá-los de represálias, os nomes serão omitidos.
• “Foi super-rápido. Ele [Manga] falou das obras que ele vai fazer, que ainda nem tem, que é a tal da Policlínica, que é o hospital municipal, que é a marginal direita do rio Sorocaba. Foi um engodo. Não sei se ele tinha planejado outra coisa e não ia dar certo. Bem esquisito, viu?”
• “Foi só marketing. [O prefeito] Não recebeu ninguém. Ficou só um pouquinho e já saiu pela tangente, e não deixaram fazer vídeo, só foto. O prefeito Rodrigo Manga apareceu só para fazer propaganda política.”
• “Realmente foi só marketing da parte dele [Manga]. Não quis ouvir as reivindicações, não abriu para as pessoas comentarem, falarem alguma coisa. Só ele que discursou. O pessoal está descontente porque ele não abriu espaço pra gente dialogar sobre as dificuldades que a Educação está passando. É um fantarrão.”
Protestos
Mães de famílias atípicas protestaram com cartazes na frente do palco contra falta de ações efetivas de inclusão nas escolas.
Auxiliares de educação também contestaram a falar do prefeito sobre investimentos na cidade, levantando cartazes.
O encontro do prefeito, vice-prefeito e secretários com o funcionalismo público não foi divulgado no site da Prefeitura. Também não foi localizada, no site da Transparência, qualquer referência ao custo de aluguel do salão.
Colaborou José Carlos Fineis

Datashow com palavras de ordem e propaganda das obras prometidas pela Prefeitura foi exibido durante o encontro com o prefeito. Foto: cortesia