
Jovem ao lado da mãe Elaine Pascuin: sensação de, enfim, ver o caso andar, gera alívio e esperança. Foto: Arquivo pessoal
Passados um ano e quatro meses do assassinato da estudante Anna Carolina Pascuin Nicoletti, 24 anos, a Justiça ouvirá, pela primeira vez, testemunhas e réu — o ex-padrasto da vítima, Eduardo de Freitas –, nesta segunda-feira (3). Nesta primeira fase, caso haja indícios suficientes, o juiz pode decidir se levará o caso a júri popular.
As testemunhas e o acusado por homicídio doloso (quando há a intenção de matar) e que responde em liberdade já foram ouvidos pela polícia, mas esta será a primeira oitiva perante o juízo.
Nesta segunda-feira (3), tanto testemunhas de defesa quanto de acusação, bem como o réu, dirão, perante o juiz, o que sabem dos fatos envolvendo o assassinato da estudante, ocorrido em novembro de 2021.
“As testemunhas serão indagadas sobre os fatos, sobre o que sabem. Depois que se encerrar a fase probatória, o juiz decidirá, após manifestação das partes, se o caso irá para júri popular ou não”, esclarece Arthur Davis, advogado que atua como assistente de acusação neste caso.
Alívio e esperança
Para Elaine Pascuin, mãe da vítima, a sensação de, enfim, ver o caso andar, gera alívio e esperança. Ela, que mudou de cidade por medo de o acusado atentar contra a sua pessoa, acredita que as provas para a sua condenação são irrefutáveis e que um possível júri popular não o absolveria do crime de homicídio doloso.
“É um alívio ver que o processo está andando novamente, depois de ficar, por muito tempo, parado. Estou otimista que o caso vá a júri popular”, comenta.
Ainda de acordo Elaine, há imagens de câmeras de segurança, prints de conversas e relatos de testemunhas que evidenciam as acusações de que o ex-padrasto seria o autor do crime e que, inclusive, esteve em Sorocaba no dia anterior ao que Carol foi encontrada morta com um tiro na região da testa, no apartamento em que residia, no Wanel Ville, zona oeste de Sorocaba.
Ao longo desse tempo, além de lidar com a dor da ausência da filha, por meio de uma morte violenta, Elaine ainda teve de mudar a vida e a rotina para evitar contato com o acusado, bem como conviver com julgamentos vindo de diversas pessoas que colocam a vítima como culpada.
Para ela, a cada caso de feminicídio que acompanha, cresce, ainda mais, a indignação com a sociedade e com a justiça, que subestimam crimes desta natureza contra as mulheres.
“Estou cansada de ver as pessoas passando pano para abusador, estuprador, matador de mulheres. Parece que a vida dessas mulheres não tem importância nenhuma. Eles [homens] ficam soltos e ninguém faz nada. No caso da Carol, um cara com o perfil do Eduardo, com uma lista de arbitrariedades, ainda estar solto, ainda receber esses benefícios da justiça? Eu fico indignada”, desabafa, afirmando que o ex-parceiro tem histórico de violência.
O réu segue respondendo em liberdade porque o juiz acatou a denúncia por homicídio qualificado por parte do Ministério Público, mas não a prisão preventiva. Ele foi proibido de manter contato com os familiares da vítima ou se aproximar deles.
Relembre o caso
Elaine manteve um relacionamento com o réu por mais de uma década e, ao longo do tempo, segundo seu relato, foi percebendo o comportamento violento e obsessivo dele com a enteada, Carol Pascuin.
Após o término do relacionamento e sem aceitar a ruptura, conta ela, a situação foi ficando mais evidente e assustadora, a ponto de solicitarem medida protetiva para que ele não se aproximasse mais das duas – que, segundo Elaine, o ex-companheiro não respeitou.
Mesmo com a mudança da jovem de Pilar do Sul para Sorocaba, onde trabalhava e estudava, o ex-padrasto – prossegue Elaine – teria continuado controlando suas ações, cobrando explicações e atenção e chegando ao ponto de se matricular no mesmo curso para ficar mais próximo da jovem, além de frequentar seu trabalho como cliente.
No dia do crime, em novembro de 2021, de acordo com a mãe, imagens de câmeras de segurança comprovam que o acusado passou em frente ao local de trabalho Carol, pouco antes do horário de ela sair.
O corpo de Carol Pascuin foi encontrado pelo namorado, na manhã de 13 de novembro, em seu apartamento, já sem vida e com um tiro na região da testa. A porta estava aberta e sem sinais de arrombamento.