
Episódio ocorreu nesta segunda-feira (29), na Escola Estadual Thomazia Montoro, em São Paulo. Quatro professoras e um aluno foram esfaqueados por um adolescente de 13 anos. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
O Neij (Núcleo Especializado da Infância e Juventude) da Defensoria Pública de São Paulo manifestou, em nota, nesta quarta-feira (29), preocupação diante da cobertura feita pelos veículos de imprensa ao ataque do adolescente de 13 anos a professoras e colegas na Escola Thomazia Montoro, em São Paulo, nesta segunda-feira (27) — em especial, devido à exibição de um vídeo que mostra em detalhes o itinerário das agressões.
A entidade alerta para o risco de que esse tipo de cobertura, de forma não intencional, estimule condutas semelhantes e se coloca à disposição da imprensa para auxiliar na criação de diretrizes que orientem na elaboração de notícias, a fim de evitar a reprodução da violência.
O episódio ocorreu nesta segunda-feira (29), na Escola Estadual Thomazia Montoro, na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo. Quatro professoras e um aluno foram esfaqueados por um adolescente de 13 anos, resultando na morte da professora Elisabete Tenreiro, de 71 anos.
Conforme a Neij, o chamado “efeito Werther” é bastante conhecido nos estudos sobre suicídio. A Organização Mundial de Saúde tem uma lista de recomendações aos veículos de comunicação no intuito de não fazer da cobertura desses episódios um gatilho para novos acontecimentos semelhantes.
Da mesma forma, há evidências científicas que apontam que uma abordagem inadequada da mídia e das redes sociais sobre casos como o acontecido na capital possa aumentar o risco de imitações em um futuro próximo.
O Fonte Segura, órgão de imprensa do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, cita pesquisas conduzidas nos Estados Unidos, as quais revelam que 58% dos casos de tiroteios em escolas americanas, entre 2013 e 2016, poderiam ser explicados pela cobertura midiática.
Diante da recorrência de episódios semelhantes (como os recentes casos em Aracruz, no Espírito Santo, em novembro de 2022, e em Monte Mor, no Estado de São Paulo, em fevereiro de 2023), o Neij propõe uma reflexão sobre a criação de protocolo por parte dos veículos, que minimize as chances de disseminação de qualquer incentivo a tais condutas e, portanto, de fomento, ainda que não pretendido, de novas situações que coloquem em risco a segurança e a integridade de crianças e adolescentes, direitos protegidos pela Constituição e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente.
O órgão se coloca à disposição dos interessados para auxílio na elaboração de tais diretrizes, conclamando à reavaliação do formato de cobertura realizado com relação ao episódio mencionado, bem como à tomada de providências por parte de veículos de imprensa e das empresas que gerenciam redes sociais, para que as imagens relativas ao fato deixem de ser veiculadas.
Além disso, propõe a criação de canais facilitados para a denúncia de material que contenha indicação de identificação do suposto agressor, mensagens de apologia ou apoio ao atentado ou vídeos descritivos. Por fim, sugere que as plataformas publiquem mensagens aos seus usuários, estimulando-os a denunciar tal tipo de conteúdo.
Órgão alerta que a propagação de vídeos detalhando o ataque do adolescente a professoras e colegas pode ser um estímulo para que outros jovens reproduzam os atos de violência