
Benedito Machado e Márcio Brown, amigos de Dinho, denunciaram o abandono das periferias pelo Estado, que só se faz presente por meio de uma polícia armada. Foto: Fernanda Ikedo
Amigos do locutor Milton Expedido do Nascimento, conhecido por Dinho, mostraram solidariedade à família nesta terça-feira (28), em frente ao Fórum Civil de Sorocaba, no Alto da Boa Vista, por um momento de “reflexão e justiça” com familiares e outros amigos de Dinho, enquanto, lá dentro, tinha início o julgamento, por júri popular, do PM Rômulo Corrêa, acusado de matar o locutor sorocabano.
“A gente traz o coro de toda uma sociedade que está lutando contra o genocídio da juventude negra periférica”, diz o ativista negro e integrante do movimento Hip Hip Marcio Brown. Ele afirma que é preciso mudar essa realidade. “Nas periferias faltam ofertas de lazer e o equipamento público que tá lá é a polícia, que acaba apavorando a juventude. Nunca fomos contra policiais, mas por que não uma polícia comunitária, ao invés de polícia militar?”, questiona Brown.
“Sou pai e avô e vim aqui demonstrar minha solidariedade. Dinho frequentava a minha casa. Agora, passo na frente da casa da mãe dele três vezes na semana e é uma tristeza”, diz o DJ Benedito Machado, parceiro de Dinho no movimento Hip Hop. “É um despreparo de agente do Estado”, desabafa.
O julgamento é sobre a participação do policial militar Rômulo Correa na morte de Dinho, que era militante da Unegro (União dos Negros pela Igualdade) e foi morto a tiros, na véspera de Natal, em dezembro de 2018, no jardim Montevideo, zona norte de Sorocaba.
Dinho acionou a Polícia Militar quando sua moto foi roubada em frente à rádio Cultural FM, onde trabalhava.
Com auxílio do rastreador do celular, Dinho descobriu que o veículo estava em um bairro próximo e foi tentar recuperá-lo. Ao voltar com a moto, ele se deparou com uma viatura da PM. De acordo com o que foi registrado no boletim de ocorrência, ele parou bruscamente e, quando desceu da moto, foi atingido por dois disparos feitos pela polícia militar.
O caso foi investigado pela DIG (Delegacia de Investigações Gerais) de Sorocaba e a Polícia Militar também apurou as circunstâncias por meio de inquérito policial militar (IPM). O júri popular julgará os motivos que levaram o policial, que já confessou ser autor dos tiros, a atirar em Dinho.
Em janeiro de 2022, a justiça condenou o Estado de São Paulo a pagar indenização para a família do radialista.
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