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Atos marcam os 50 anos do assassinato de Alexandre Vannucchi Leme

Estudante sorocabano morto em 1973 pela repressão militar foi lembrado com discursos, orações e plantio de uma árvore na praça que leva seu nome

Fernanda Ikedo (Portal Porque)

Além do ato simbólico em Sorocaba, houve homenagens na Faculdade de Direito da USP, missa na Catedral da Sé e debate. Foto: Fernanda Ikedo

Nesta sexta-feira (17) em que se completam 50 anos do assassinato do estudante sorocabano Alexandre Vannucchi Leme pela ditadura militar, um grupo de pessoas se reuniu para prestar homenagens e honrar sua memória, na pracinha que leva seu nome, na confluência das ruas Amazonas e Paraná com a avenida Afonso Vergueiro, em Sorocaba.

Um monumento simples em mármore com a frase “Mártir sorocabano das lutas pela liberdade” foi instalado no local em 1978. Construída no lugar onde ficava o campinho de futebol improvisado em que o homenageado jogava bola com os amigos na infância, a praça recebeu o nome de Alexandre graças à indicação do então vereador e operário João dos Santos Pereira, que era do MDB (Movimento Democrático Brasileiro).

Mesmo com a aprovação do então prefeito José Theodoro Mendes (também do MDB), Pereira foi indiciado na polícia por ter sugerido o nome de Alexandre que, na época da censura e da repressão, das perseguições políticas e das torturas, era considerado “terrorista” por se opor ao governo militar.

A mobilização do Comitê Brasileiro pela Anistia, em Sorocaba, se firmava como referência nacional pela luta dos pais de Alexandre, dona Egle e seu José Leme, para restabelecer a verdade, a memória e a justiça. O vereador conseguiu apoio e acabou não sendo incriminado pela denominação da praça.

Essa tentativa de censura rendeu notícia nacional. A inauguração contou com presença do escritor e então deputado estadual também pelo MDB, Fernando Morais, que leu uma carta deixada pelo escritor Gabriel Garcia Marquez em solidariedade aos familiares e amigos de Alexandre e repudiando as ditaduras, que atingiam países da América Latina.

Alexandre foi acusado por crimes que não cometeu em datas, inclusive, em que estava se recuperando de uma cirurgia de apendicite na casa da família, em Sorocaba. Mesmo assim, foi sequestrado, torturado e morto no DOI-Codi (estrutura da repressão), em São Paulo.

Apesar de ser um local de muito movimento de automóveis, uma placa de bronze, que ficava no monumento, com a frase “Há de se fluir a voz para que um novo tempo amanheça”, foi roubada em 2020.

No ato desta sexta-feira (17), o padre Benedito Halter ressaltou a luta combativa de Alexandre por uma sociedade mais igualitária. “É uma celebração de dor que nos desafia e alimenta nossa luta e esperança.”

Halter fez uma oração e os participantes do ato deram um abraço simbólico na praça. Organizada pelo mandato da vereadora Iara Bernardi (PT), a homenagem contou com o plantio de uma muda de árvore.

“Quando a praça foi inaugurada, minha mãe veio em solidariedade a uma mãe que tinha perdido um filho de forma trágica. Ela disse ao prefeito Theodoro que sentia falta de uma árvore. Na época não tinha. Hoje, estamos plantando um ipê amarelo”, conta Iara.

Em São Paulo, diversas atividades foram realizadas, também nesta sexta-feira (17), na Faculdade de Direito da USP no Largo São Francisco e na Catedral da Sé, onde o cardeal dom Paulo Arns, em 1973, realizou uma missa que reuniu mais de três mil pessoas denunciando os agentes da repressão. (leia mais aqui).

Entre as atividades foi lançada a exposição virtual “Eu só disse o meu nome”, que pode ser visitada neste link.

Também foi programado um debate em Florianópolis, na Universidade Federal de Santa Catarina, para marcar a data.

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