Escrevo no calor da notícia: a “Declaração à Nação” do presidente Jair Messias Bolsonaro.
Com a informação, logo de cara, de que o texto não é de autoria dele, o Messias.
Mas do ex-presidente Michel Temer, que veio a Brasília em avião da FAB e se reuniu com o Jair.
Poderia esperar a tradicional live das quintas-feiras para dizer que o dito na carta virou não-dito.
Mas nem é preciso.
Os 10 itens da declaração já entram para o rol das fake news bolsonaristas.
Por quê?
Primeiramente porque o presidente divulga tal declaração depois de mobilizar a turba no mais patético 7 de setembro que presenciei em toda minha vida.
Bolsonaro age – e sempre faz assim – como aquele jogador de futebol que critica o treinador diante dos microfones e pede desculpa no vestiário.
Mas independentemente desse aspecto, ele simplesmente não tem condições de cumprir o que aparenta prometer, até porque estabelece premissas falsas para as promessas que faz.
Vamos ao texto da declaração:
No instante em que o país se encontra dividido entre instituições é meu dever, como Presidente da República, vir a público para dizer:
1. Nunca tive nenhuma intenção de agredir quaisquer dos Poderes. A harmonia entre eles não é vontade minha, mas determinação constitucional que todos, sem exceção, devem respeitar.
(É mentira. As agressões sempre partiram dele.)
2. Sei que boa parte dessas divergências decorrem de conflitos de entendimento acerca das decisões adotadas pelo Ministro Alexandre de Moraes no âmbito do inquérito das fake news.
(É mentira. Não são conflitos de entendimento que motivam divergências. Mas a investigação em si, que ameaça o funcionamento da máquina de propagação de mentiras nas redes sociais. E ameaça também os filhos, sobretudo Carlos Bolsonaro.)
3. Mas na vida pública as pessoas que exercem o poder, não têm o direito de “esticar a corda”, a ponto de prejudicar a vida dos brasileiros e sua economia.
(É mentira. Quem estica a corda é sempre o presidente. Ele vive à sombra de inimigos.)
4. Por isso quero declarar que minhas palavras, por vezes contundentes, decorreram do calor do momento e dos embates que sempre visaram o bem comum.
(É mentira. Só se bem comum for o dos filhos, como o pai, envolvidos em fake news e rachadinhas em gabinetes no parlamento municipal, estadual e federal.)
5. Em que pesem suas qualidades como jurista e professor, existem naturais divergências em algumas decisões do Ministro Alexandre de Moraes.
(É mentira. Divergências jurídicas, juridicamente devem ser resolvidas. Não tem sido o caso.)
6. Sendo assim, essas questões devem ser resolvidas por medidas judiciais que serão tomadas de forma a assegurar a observância dos direitos e garantias fundamentais previsto no Art 5º da Constituição Federal..
(A frase em si não é mentirosa. Mas os próximos dias vão fazer dela a sexta mentira da declaração.)
7. Reitero meu respeito pelas instituições da República, forças motoras que ajudam a governar o país.
(É mentira. Não é possível reiterar o que nunca demonstrou.)
8. Democracia é isso: Executivo, Legislativo e Judiciário trabalhando juntos em favor do povo e todos respeitando a Constituição.
(Bem, este item é um clichê.)
9. Sempre estive disposto a manter diálogo permanente com os demais Poderes pela manutenção da harmonia e independência entre eles.
(É mentira. O 7 de setembro foi uma demonstração de que diálogo não é o forte do presidente.)
10. Finalmente, quero registrar e agradecer o extraordinário apoio do povo brasileiro, com quem alinho meus princípios e valores, e conduzo os destinos do nosso Brasil.
(É mentira. O apoio ao governo Bolsonaro, traduzido na avaliação do governo, não chega aos 30 por cento. Na terça-feira, o que se viu foi uma mobilização encabeçada pelo discurso e o dinheiro dos ruralistas e de movimentos evangélicos.)
E quando, por fim, todas essas mentiras se confirmarem, o presidente Jair Messias Bolsonaro ainda poderá dizer: assinei sem ler, o texto é do Michel.
Celso Fontão Jr. é jornalista, natural de Sorocaba, onde iniciou a carreira. Desde 1986 reside em Brasília, onde exerceu diversas funções em veículos como o Correio Braziliense, TV Bandeirantes e Radiobrás. E atualmente é editor-executivo do “Conexão Globonews”, da Globonews.