
Término das obras da Arena da Vila Helena é um projeto de médio e longo prazos, afirmou vice-presidente do clube ao Porque. Foto: Divulgação
Mais do que títulos, o atual hexacampeão da Taça Cidade de Sorocaba, a 1ª Divisão do Campeonato Municipal de Futebol Amador, a Associação Atlética Vila Helena conta hoje com um moderno e audacioso projeto de crescimento, que vem se sedimentando nos últimos anos.
Com uma torcida fiel, que tem se mostrado participativa desde 2007, quando o time chegou à primeira decisão no futebol varzeano principal, o Vila busca dar passos em frente, estruturando-se, modernizando-se e construindo uma Arena, que poderá ter mais de cinco mil lugares.
Além disso, o clube, com sede na zona norte de Sorocaba, conta hoje com um forte trabalho de marketing, principalmente nas redes sociais. Para se ter ideia, atualmente vende pelo menos mil camisas por temporada e lançou, neste ano, seu inovador (para a várzea) programa sócio-torcedor.
A presidência do Vila Helena está, hoje, com Paulo Henrique. O vice é Claudinei Modesto, 49 anos, que concedeu entrevista ao Portal Porque comentando o futebol varzeano de ontem e de hoje e a modernização necessária para essa categoria esportiva, na opinião dele.
Modesto destacou o trabalho que time vai fazer para sua escolinha, com jogadores do bairro, valorizando as raízes. Disse ainda que o Vila, hoje, não pretende se filiar à Federação Paulista para jogar a 5ª Divisão. Confira a entrevista:
PQ – O que aconteceu no futebol varzeano de Sorocaba para os times tradicionais perderem espaço e novos, como o Vila Helena, crescerem?
Claudinei Modesto – O futebol mudou e se você não mudar junto, fica para trás. Você falou dos tradicionais clubes dos anos 70, 80 e 90. Nós aprendemos com eles e amadurecemos. Mas acho que muitos desses clubes pararam no tempo. Muitos priorizaram o clube social, os associados e o patrimônio. A gente é diferente e ama o futebol, corre atrás de um pedaço de lata, enquanto eles correm atrás de patrimônio. Mas eles não estão errados. São escolhas que fizeram.
PQ – E quando isso começou a mudar para vocês?
CM – Em 2007 a gente perdeu para o América [tradicional agremiação do bairro de Pinheiros]. Foi a primeira vez que a gente chegou em uma final e entramos em campo praticamente só com jogadores do nosso bairro. A gente ganhava por 3 a 0 e perdeu por 4 a 3. Foi neste dia que aprendi que teríamos de dar um passo à frente para poder jogar no CIC [campo com dimensões oficiais em que os times de várzea geralmente não estão acostumados a jogar]. Só com o jogador do bairro a gente não ia conseguir. A partir daí, a gente foi se moldando e, graças a Deus, estamos numa crescente.
PQ – Alguns comparam a várzea com o São Bento; dizem que a várzea teria mais facilidade de conseguir patrocínios e que sem dinheiro não se faz várzea hoje. Você concorda?
CM – Realmente, sem dinheiro você não consegue fazer uma várzea, mas eu não vou me comparar a um time profissional. O São Bento tem receitas de televisão, de patrocinadores, de material esportivo. O São Bento é gigante, entendeu? É time profissional e disputa o Campeonato Paulista. No nosso campeonato amador eu vou responder pelo Vila Helena, pois cada clube tem sua particularidade. Por exemplo, eu estou conversando com você aqui, dentro de um carro no estacionamento de um shopping, enquanto ao mesmo tempo estou respondendo a um patrocinador. É o que faz o Vila Helena ser o que é.
PQ – Um dos fortes da arrecadação de vocês é a venda de camisas?
CM – Mil camisas é o que a gente vende durante o campeonato. O nosso produto é bom. Então, se você fechar um patrocínio de R$ 10 mil, R$ 15 mil, R$ 20 mil comigo, eu vendo o meu produto e a sua marca vai circular durante 15, 20 anos. É em cima disso que a gente trabalha.
PQ – Além das camisas, vocês apostam em algum outro veículo de marketing?
CM – Tem a visibilidade que dá hoje com as redes sociais, que é um trabalho de marketing muito forte, onde a gente divulga a marca do patrocinador. Eu acredito que seja isso. Mas é igual eu te falei: cada produto, cada time, cada clube, tem sua particularidade. O nosso carro-chefe é o nosso torcedor, nossa camisa é a nossa marca.
PQ – O Vila inovou ao criar o sócio-torcedor na várzea?
CM – Sim, essa é uma das novidades do Vila Helena. Nosso time criou seu programa de sócio-torcedor. Já temos, inclusive, a adesão de 200 torcedores. Cada um paga na faixa de R$ 15 por mês. E eles têm alguns benefícios junto a comércios credenciados. E isso gera outra fonte de renda para o clube.
PQ – O Vila se considera na vanguarda da várzea ao investir em estrutura (nova arena) e na base? Esse é o futuro?
CM – Na verdade, o que a gente pensa? A gente está fazendo o nosso futuro, a nossa arena.E pretendemos futuramente ter escolinha de futebol, ter categoria de base, sub-18, sub-20, como manda a cartilha. Hoje, se você for assistir a um jogo nosso você vai ver 100, 150 moleques com a camisa do Vila Helena. Garotos de quatro, cinco, seis, sete, oito, nove anos, de todas as idades. Então, é justamente isso, a gente pensa no futuro. Queremos que esses moleques peguem amor ao clube amanhã ou depois e, se estiverem na nossa escolinha, vão virar jogadores de futebol. E com a Arena do Vila, nós teremos jogadores para dois, três, quatro, cinco, até dez anos. E vão criar raízes lá dentro. Trabalhamos para essa geração, pois a gente pensa em um público infantil e adolescente.
PQ – Seria uma geração de pai e filho torcendo para o Vila? Também comente o fato de terem colocado oito mil pessoas em uma final no CIC?
CM – É justamente isso aí. Você trabalha para o garoto criar raiz no Vila Helena. Ele é muito mais apaixonado pelo time do bairro, do que do que particularmente pelo time do coração dele, do pai, do avô. Não sei que Corinthians, Palmeiras… E é esse o trabalho que a gente faz, o que também envolve um trabalho social no bairro, onde a gente faz Festa do Dia das Crianças e outros eventos. Quanto à final, conversamos com o comandante da Guarda Municipal, que falou que tinha dez mil pessoas no CIC (na final). E ainda ficaram na faixa de 1,5 a 2 mil pessoas do lado de fora do estádio.
PQ – Uma pergunta que sempre se faz aos times varzeanos campeões: qual o gasto do Vila Helena hoje?
CM – Referente a valores, é complicado você falar. Para manter um time hoje não é só pagar o bicho do jogador. É todo um processo, um trabalho de marketing que você faz. Tem o tiozinho que prepara o café, é o uniforme que você faz, a fotógrafa que você paga. No meio do caminho aparecem alguns imprevistos que você tem que socorrer um ao outro. Vamos chutar um valor entre R$ 120 a R$ 150 mil que a gente gastou no campeonato.
PQ – Comenta-se no meio esportivo de Sorocaba que o Vila, junto com parceiros, vai colocar o time na Federação Paulista e disputar a 5ª Divisão em 2024. É verdade?
CM – Não. Da nossa parte nunca surgiu essa possibilidade. A gente é cobrado, sim, pelo time que a gente monta, pela torcida que a gente tem. Mas em nenhum momento se cogitou isso. O pessoal cobra e faz muito esse comparativo, dizem que a gente colocaria mais torcida que o São Bento no CIC. Mas, não, a gente é time amador e não condiz com isso. Para você se filiar a uma Federação Paulista [o custo] é muito alto (R$ 250 mil para base e R$ 900 mil para profissional). Não tem possibilidade nenhuma. Mas eu não vou falar para você que amanhã ou depois, daqui uns dois anos, cinco anos, de repente, vir um empresário e queira [colocar o time no profissional]. Hoje, porém, não há (essa) possibilidade e não há conversa nenhuma. Somos um time amador do bairro da zona norte de Sorocaba, onde a gente agrega todos os domingos o futebol como lazer para nossa comunidade e nada mais que isso. Eu ouvi alguns boatos de que o Manchester Paulista talvez tivesse a ideia de disputar um campeonato futuramente. Mas [da parte] do Vila Helena não procede, nem em parceria com outro time.
PQ – E como está o projeto de construção da Arena do Vila?
CM – Quanto à nossa Arena, a nossa ideia realmente é construir o campo. A gente já faz algum trabalho social no bairro, mas não tem previsão ainda (do fim da construção) e vamos dar tempo ao tempo. Até porque a gente precisa muito de dinheiro, para construir os vestiários. Vai muito dinheiro [na obra] e realmente não tem previsão [de inauguração]. A gente quer, no ano que vem, começar a mandar jogos lá. Mas é necessária muita doação da comunidade porque o investimento que a gente faz no time, no clube é muito alto. Ou mexe no campo ou no clube. A gente já ganhou algumas arquibancadas tubulares e [estamos] construindo arquibancadas de cimento atrás do gol. É um projeto a médio e longo prazos.
PQ – Gostaria de registrar algum recado ao torcedor do Vila e dos demais times da várzea?
CM – Quanto aos demais times, eu queria dizer que Vila Helena e Enquadros provaram que a várzea respira em Sorocaba. Aliás, a gente vem provando isso nos últimos quatro, cinco anos. Quanto ao torcedor do Vila Helena, ele pode confiar é que a gente já começou a trabalhar para o projeto da sétima estrela. E peço a colaboração para que eles continuem comprando rifa, comprando camisa e continuem acreditando no nosso projeto.