Busca

Júri inocenta PM acusado de matar jovem negro de 17 anos na zona norte de Sorocaba

Julgamento, realizado nesta quinta-feira (9), durou cerca de nove horas e jurados decidiram por absolver réu, alegando “negativa de autoria” do crime

Paulo Andrade (Portal Porque)

Jefferson Rúbio estava com um amigo em uma praça no Jardim das Flores, quando foi baleado pelas costas. Foto: Reprodução/Facebook

O policial militar Ricardo de Jesus Barbosa, acusado de matar o adolescente Jefferson Rubio de Moura, 17 anos, na zona norte de Sorocaba, foi absolvido pelo Tribunal do Júri, em julgamento realizado nesta quinta-feira (9), no Fórum local. O crime ocorreu em 17 de setembro de 2021.

Ricardo estava detido no Presídio Militar Romão Gomes, em São Paulo, desde a época do crime, respondendo ao processo por homicídio qualificado. Segundo o advogado do réu disse à imprensa, o alvará de soltura será expedido ainda nesta sexta-feira (10).

O julgamento começou às 9h desta quinta-feira (9) e terminou por volta das 18h. O júri popular foi formado por sete pessoas e o julgamento foi presidido pelo juiz Emerson Tadeu Pires de Camargo.

De acordo com informações do Tribunal de Justiça, o policial foi absolvido por “negativa de autoria”. Ele estava em férias quando o jovem foi baleado em uma praça no Jardim das Flores, zona norte de Sorocaba.

Entenda o caso

Jefferson estava com um amigo na praça quando foi baleado nas costas. Ele foi levado à UPH (Unidade Pré-Hospitalar) da Zona Norte, onde sua morte foi constatada. O laudo apontou como causa do óbito perfurações no coração e no pulmão.

A família afirmou que Jefferson foi vítima de racismo e de violência policial. Um amigo da vítima, inclusive, contou em depoimento que estava com ele na hora dos tiros. Disse ainda que fazia dez minutos que eles tinham chegado na praça e que consumiam bebida alcoólica quando foram abordados pelo policial, que estava à paisana.

Ainda de acordo com a testemunha, Ricardo dirigia um Chevrolet Celta verde e desceu do carro dizendo ser membro da Rota (Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar). O policial, que aparentava estar nervoso ou drogado, teria mandado os jovens se sentarem na calçada e, em seguida, passado a desferir coronhadas nas cabeças dos rapazes.

Os jovens tentaram fugir, mas o acusado teria atirado e acertado Jefferson. Imagens de câmeras de segurança mostram os dois jovens correndo pela rua com a vítima já aparentando estar ferida. O carro do PM aparece nas imagens. Ele chega a parar perto dos dois, mas não presta socorro e vai embora. Segundo uma testemunha, o agressor teria dito, após o disparo que acertou Jefferson pelas costas: “Vocês são todos ladrõezinhos.”

O policial acusado, na verdade, era integrante do 14º Batalhão de Ações Especiais da Polícia, que divulgou, na época, ter desligado o réu do efetivo do Batalhão.

Acusação e defesa

O Ministério Público do Estado de São Paulo, que sustentou a acusação contra Ricardo de Jesus Barbosa, com base em investigações policiais da Deic (Divisão Especializada de Investigações Criminais), alega que o PM teria agido por motivo torpe, por vingança e matou Jefferson porque supôs que ele tinha envolvimento com a criminalidade.

Luan Lima, advogado da família do rapaz assassinado, divulgou nota à imprensa antes do julgamento e afirmou que ele “era um jovem sem antecedentes criminais, sem qualquer tipo de investigação policial contra sua pessoa, bem como, ainda, trabalhava e era cheio de sonhos, como todos os jovens de periferia. A defesa da família lutará até o fim para que a pena seja a máxima possível e que o miliciano continue preso pelos próximos longos anos, pois a defesa acredita que a pena será entre 24 a 32 anos de reclusão.”

Já o advogado de defesa de Ricardo, Mauro Ribas, emitiu nota à imprensa, antes da instalação do Tribunal do Júri, afirmando que “nós iremos sustentar a inocência do policial militar Ricardo, por negativa de autoria [não cometeu o crime]. Apresentaremos em plenário aonde ele estava no momento dos fatos e mostraremos todas as falhas da investigação que, erroneamente, o incriminou.”

Segundo a defesa e o depoimento do réu, ele estava em seu último dia de férias, mora há anos no Jardim das Flores, não conhecia os rapazes e não estava na praça no momento do crime, embora reconheça que o carro indicado pelas testemunhas da acusação seja dele.

mais
sobre
Jefferson Rubio Jovem negro Julgamento Ricardo Barbosa Zona Norte
LEIA
+