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Grupo Manto ensaia espetáculo e prepara homenagens a Carlos Roberto Mantovani

Montagem teatral marcará os 20 anos da morte do artista múltiplo que agitou o teatro e as artes em Sorocaba nos anos 80 e 90

Davi Deamatis (Portal Porque)

Vanessa Bueno e Valter Chanes em montagem do Grupo Manto. Trupe prepara homenagem a Carlos Roberto Mantovani, que ensinou e inspirou toda uma geração de artistas. Foto: Divulgação

O Grupo Manto Companhia de Teatro está ensaiando a peça “A falecida”, de Nelson Rodrigues, com a direção de Eli André Correia, e que vai estrear no segundo semestre. E ainda prepara eventos de homenagens ao diretor, ator e dramaturgo Carlos Roberto Mantovani, o Manto, patrono do grupo, que faleceu em 8 de maio de 2003. “Portanto, há vinte anos. Ele nos deixou um legado imenso, riquíssimo, que devemos reverenciar sempre”, disse o produtor do grupo, Luciano Leite.

Com “A falecida” – diz Luciano – “retomamos o projeto Estações, iniciado em 2012, desenvolvido em parceria com a América Latina Logística (ALL), por meio do qual restauramos um vagão que estivera desativado desde a década de oitenta. E ocupamos os barracões da antiga Estrada de Ferro Sorocabana.”

“Nós transformamos esse complexo ferroviário em um Centro Cultural, em que apresentamos diversos eventos, de várias expressões artística, palestras, exposições”, lembra Luciano. Contudo, a parceria se encerrou em 2016, porque houve mudança de concessionária da ferrovia: a All transferiu as operações à empresa Rumo.

Novo Centro Cultural

Então, o Grupo Manto fez parceria com o Movimento de Preservação Ferroviária, instalado na rua Paula Souza, 240, Centro. Assim, surgia um novo Centro Cultural em Sorocaba (leia mais).

É nesse espaço que vêm ocorrendo os ensaios de “A falecida”. Integram o elenco da peça Valter Chanes, Patrícia Nolasco, Beth Pinn, Enrico Colono, Mika Rodrigues e Eli, que vai acumular as funções de ator e diretor.

“Estamos trabalhando sem recursos, sem qualquer apoio, usando apenas o que temos, reciclando figurinos e cenários, mas seguindo adiante com muita garra e paixão, como é da natureza de nosso grupo”, disse Eli.

“Está sendo bem desafiador montar essa peça, que tem quase vinte personagens, mas apenas seis atores: duas mulheres e quatro homens. Patrícia vai representar Zulmira, a falecida, e Valter, o Tuninho, seu marido, formando o casal principal da peça. Somente eles não mudam de papel. Os outros quatro atores vão se revezar na representação dos demais personagens”, detalha.

 Mantovani

Foi em Laranjal Paulista que nasceu Mantovani. Veio residir em Sorocaba com a mãe, viúva, e os irmãos. E aqui fez história como artista de múltiplos talentos: na dança, nas artes plásticas, na poesia e no teatro.

Nas décadas de 80, 90 e 2000 ele atuou na Oficina Grande Otelo e no Centro Cultural do Sindicato dos Metalúrgicos. O núcleo de artistas que instituiu o Grupo Manto é aquele que integrou a primeira montagem de Agamemnón, dirigido por Carlos Roberto Mantovani, em 1996. No ano de 2003, com a morte de Mantovani, aqueles artistas criaram o Grupo Manto Companhia de Teatro.

“Manto foi um intelectual orgânico, com uma incrível capacidade de compreender o tempo e as pessoas. Havia nele uma integridade que só se encontra em grandes seres humanos”, define Valter Chanes.

Valter é ator e dramaturgo. Ele diz: “Comecei minha carreira de ator com o Mantovani, em 2001, na montagem de ‘Mortos sem sepultura’, de Jean Paulo Sartre. Ele me incentivou e me ensinou muito, o que mudou o curso de minha vida. Estou no grupo desde a fundação e participei de todas as suas montagens.”

Eli considera que Manto foi  “um apaixonado pelo teatro. E generoso: ele acreditava nas pessoas, confiava no talento delas. Certa vez, na Oficina Grande Otelo, durante um festival, ele me chamou e disse: você vai montar ‘O Balcão’, de Jean Genet. Eu argumentei que não lera esse texto, nem havia trabalhado alguma obra desse autor. Ele contra-argumentou: ´Você tem potencial, vai dar certo´. Montei a peça e tudo se saiu muito bem.”

O produtor do Grupo Manto, Luciano Leite, avalia que o grupo “contribuiu para inaugurar diversos espaços culturais na cidade, em locais que, até então, estavam degradados, como o Teatro de Arena, do Teatro Municipal, ou que não tinham uma função para as artes da cena, a exemplo da Estação Ferroviária e parques públicos. Assim, direcionou o olhar da população para o seu rico patrimônio material e imaterial. Foi importante, também, por ajudar na pesquisa cênica local, com temas relevantes para o interior do Estado e ajudou a formar novos grupos de teatro até hoje atuantes em Sorocaba e região.”

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