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‘Fake news: ética e mundo do trabalho’ são tema de disciplina eletiva em escola pública de Sorocaba

Com o objetivo de se produzir conhecimento com base na ciência e no senso crítico, dois professores de escola pública criaram disciplina para combater a desinformação

Fernanda Ikedo

No centro das atenções devido ao seu alto poder de penetração e capacidade de modelar a opinião pública, as fake news (notícias falsas) viraram disciplina eletiva (não obrigatória) em uma escola estadual de Sorocaba. A iniciativa de dois professores, de Filosofia e História, permitiu que os alunos da Escola Estadual Prof. Marco Antonio Mencacci, situada no Jardim Josane (região de Aparecidinha), de Sorocaba, entendessem melhor os mecanismos existentes por trás das informações que são publicadas.

A EE Prof. Marco Antonio Mencacci é uma das chamadas “PEI” (Programa de Ensino Integral) de Sorocaba. De acordo com o professor de Filosofia e coordenador da área de Ciências Humanas Marcello Fontes, e o professor de História John Hebert de Lima Peres, a reação dos alunos durante as aulas, que ocorreram entre maio e julho, foi boa. Esta não foi a eletiva mais procurada, mas, segundo os professores, foi a mais gerou comentários. Ao final, os estudantes produziram um programa ao vivo, tipo podcast.

Professores Marcello Fontes e John Hebert de Lima Peres idealizadores da disciplina.

Com o título “Fake news: ética e mundo do trabalho”, a eletiva, segundo Fontes, buscou um viés ético e histórico para tratar do tema Comunicação, inclusive à luz das demandas do mercado de trabalho e da própria condição de cidadania. Semanalmente, com duração de duas aulas de 45 minutos, os alunos tiveram a oportunidade de debater as consequências da disseminação de notícias falsas, que podem aumentar o preconceito e ainda ameaçar estruturas democráticas.
Essa foi a primeira disciplina que Fontes e Peres promoveram juntos. Para tanto, utilizaram jogos teatrais, improviso, seminários e uma conversa com o jornalista José Carlos Fineis, editor do PORQUE, que alertou para os perigos que a desinformação – seja ela produzida nas redes sociais, seja na chamada “mídia tradicional” – pode acarretar para a democracia.

 Conforme observou Peres, independentemente da profissão a ser escolhida, o jovem deve ser ético e buscar um olhar apurado para identificar narrativas, avaliando o impacto das tecnologias, como as redes sociais.

A disciplina eletiva ofertada aos alunos não está relacionada ao conteúdo por conta da reforma do Ensino Médio, mas é um dos diferenciais da escola PEI. Organizadas semestralmente, as disciplinas eletivas, com temática livre, devem ser propostas por, pelo menos, dois professores de disciplinas distintas, para promover o estudo de temas relevantes e aprofundar os conteúdos da Base Nacional Comum.

Sobre a reforma que instituiu o Novo Ensino Médio, Fontes, que leciona há 14 anos, afirma que há aspectos positivos e negativos. “É positivo que uma gama maior e mais ampla de conhecimentos, por meio dos chamados itinerários formativos, seja oferecida aos alunos. Contudo, é complicada a escolha que ele terá de fazer, já no decorrer do primeiro ano, da área na qual mais terá ênfase seus estudos.” Já Peres aponta que a redução nas disciplinas de Ciências Humanas, como História, pode acarretar uma falta de problematização política, de questionamento e pensamento crítico nos jovens.

Na contramão de iniciativas que possam acarretar prejuízos para a produção de ciência, está o engajamento de professores que cumprem o papel de despertar nos estudantes o desejo pelo conhecimento.

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