Essa fera, Caetano Veloso, completa hoje 80 anos com rosto de 50. É outro artista completo que precisamos estudar com carinho quanto aos aspectos de semântica, figuras de linguagem e, na verdade, Português e Gramática. Não existe uma única palavra ou sílaba em vão nas letras de Caetano Veloso. Desde “Domingo”, em 1967, com Gal Costa, “Tropicália” ou “Panis et Circensis”, “Qualquer Coisa”, “Bicho”, “Podres Poderes”, “Baby”, “London London”, temos a presença desse Caetano Brasileiro Veloso em nossa música, literatura e até política.
Na entrevista que deu a mim lá naquele Clube União Recreativo, pouco antes das eleições de 1988, onde João Caramez brilhou e fez o clube brilhar, dias antes na verdade do pleito democrático, sobre Collor, Brizola, Lula, Mário Covas e Paulo Maluf , disse mais ou menos isso: “Não sei se voto no Collor, no Lula, no Mário Covas ou no Brizola. Collor e Lula não são tudo isso que dizem de mal. Brizola também não é ruim. Maluf não é esse ladrão todo.” Enfim, enrolou e não disse em quem ia votar. Seu sucesso era imenso nessa época e lotou totalmente o Recreativo Campestre.

Na foto, o autor entrevista Caetano no Recreativo. Lá estavam também João Caramez , Joaquim de Carvalho, Ivolete, o segurança do Caramez e Maurício de Luca. E Maurício não se trata de Luiz Maurício Sebastião, o Lulu Santos. (Foto: Ubiratan Vieira)
Parabéns, Caetano Veloso. Fique mais 80 anos com a gente com esse jeito de dizer e não dizer, falando tudo. Deus perdoe os que mandaram para fora do País um artista maravilhoso, que não oferecia nenhum perigo ao Brasil. Apenas era e é inteligente demais. Que bom viver no seu tempo. O disco de sucesso de Caetano na época era “Estrangeiro”. Uma de suas maiores mágoas: ser preso e exilado em Londres. E dessa experiência saiu uma canção de enorme sucesso e regravada umas 300 vezes: “London London” (ouça aqui).
*Ubiratan Vieira é jornalista.