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Represa de Itupararanga não vai se romper, atesta estudo do Comitê de Bacias

Live sensacionalista de Manga ainda repercute e grupo esclarece que verter água pela barragem é normal

Fernanda Ikedo (Portal Porque)

Trabalho do GT-Crise ajuda a recuperar volume de água do reservatório que não possui comportas. Foto: Sandra Nascimento

O Grupo de Trabalho de Crise Hídrica (GT-Crise) do Comitê de Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê publicou, na quarta-feira (25), um documento garantindo que não há nenhum indicativo de que a barragem da represa de Itupararanga possa se romper e que há vários fatores que influenciam nos transbordamentos do rio Sorocaba, não somente aquele reservatório

O documento, assinado pelo coordenador do Grupo, André Cordeiro Alves dos Santos, ressalta que “não há nenhum perigo imediato no vertimento para os municípios a jusante [depois da barragem] do reservatório” e que há estudos sobre a influência da vazão da barragem sobre o rio Sorocaba.

O PORQUE, inclusive, já havia publicado que “as ocorrências de transbordamentos da calha do rio Sorocaba não possuem uma única causa, mas sim uma junção de fatores que levam ao aumento expressivo da vazão de maneira que a calha não suporta e ocorre o extravasamento para as regiões marginais”.

O GT-Crise ainda acrescenta que todo reservatório tem um plano de contingência que está relacionado ao volume reservado. “Quando o reservatório chega próximo da sua capacidade máxima de reservação é necessário que haja um acompanhamento maior pelas partes interessadas [ou responsáveis] e este momento é chamado Estado de Atenção.” Assim, os municípios que estão próximos a Itupararanga também devem colocar em funcionamento planos de contingência para minimizar possíveis transtornos causados pelo aumento da vazão da represa.

Formado por especialistas, autoridades, pesquisadores, governos e sociedade civil, o GT-Crise contesta a live sensacionalista feita pelo prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos). “Verter água pela barragem é um processo normal em reservatórios e ocorre toda vez que o volume de água alcança a soleira”, observa André Santos. Na live, transmitida na noite de 17 de janeiro, equivocadamente, o prefeito chegou a falar em rompimento da barragem.

Conforme André, Itupararanga é uma barragem que não tem comportas. Por isso, quando a água chega à altura da soleira (arcos) ela verte e vai compor a vazão do rio Sorocaba. Isso ocorre quando o reservatório chega a 823,83 metros, o que equivale a 67,84% do volume total.

Rio desassoreado

No mesmo dia da divulgação do documento do GT-Crise, o Serviço Autônomo de Água e Esgoto (Saae) anunciou o desassoreamento do rio Sorocaba em nove quilômetros para “tentar conter a erosão de trechos às margens da Praça Lions e retirar os bancos de areia”. A expectativa é de que o trabalho seja realizado durante o ano todo.

Criado em agosto de 2021

O Comitê de Bacia do Rio Sorocaba e Médio Tietê criou o GT-Crise em agosto de 2021, com o objetivo de discutir e propor mecanismos para evitar o prejuízo no abastecimento dos municípios. Naquela ocasião, o reservatório de Itupararanga estava diminuindo, havia risco de atingir o volume morto e, com isso, comprometer o abastecimento de água da população.

Desde então, os membros do grupo se reúnem a cada 15 dias para discutir, entre outras coisas, a gestão do volume de água no reservatório, o controle da vazão de saída e os valores de captação dos municípios e outros usuários. Até o momento, já foram realizadas 51 reuniões.

O trabalho do GT-Crise permitiu recuperar, durante 2022, o volume de água do reservatório. Este ano, com o volume de chuvas e as vazões de entrada superiores às médias históricas, um novo acordo foi feito com a CBA (Companhia Brasileira de Alumínio), operadora da barragem, visando reduzir a probabilidade de perda de água pelo vertedouro e manter o maior volume possível no reservatório. Para tanto, a CBA aumentou a vazão de saída pelo canal de adução, com o propósito de compensar os grandes volumes de entrada neste início de ano.

Quem compõe o GT-Crise?

O GT-Crise é composto por representantes da sociedade civil (universidades, ongs e entidades de classe), do Estado (DAEE, Cetesb e Instituto Florestal), dos municípios de Alumínio, Ibiúna, Mairinque, Piedade, São Roque, Vargem Grande Paulista e Votorantim e representantes das concessionárias Sabesp, Saae Sorocaba e Águas de Votorantim, além do Ministério Público e da CBA.

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