Sorocaba foi a única cidade a não aceitar a proposta e impedir a permanência de um projeto para fomentar a crítica social e a discussão política, criada pelo Grupo Fora Bolsonaro SP. Das localidades em que o grupo instalou outdoors com frases como “A fome voltou” e “O Brasil piorou”, apenas em Sorocaba houve o pedido para a retirada das peças, que deveriam permanecer por duas semanas, mas não ficaram nem dois dias.
A instalação dos painéis, na lateral do supermercado Paulistão, anexo à rodoviária, chamou a atenção dos munícipes que passavam em frente ao local, como noticiado pelo PORQUE no dia 7 de julho leia aqui, mas incomodou a Prefeitura e a administração da rodoviária, que pediram a retirada – segundo alegaram – temendo tumultos e depredações. “O pedido da Prefeitura foi ignorado, pois não havia fundamento para a retirada. Em seguida, a rodoviária pediu, e como são os gestores do local, a empresa foi obrigada a retirar”, explicou Erick Santos, um dos porta-vozes do movimento.
Sem mencionar qualquer partido ou nome de pré-candidatos, tampouco do presidente Jair Bolsonaro (PL), os painéis foram pensados, estrategicamente, para serem afixados em cidades e acessos a locais cuja votação em Bolsonaro foi expressiva, como no caso de Sorocaba, que ajudou a eleger o atual presidente com 257 mil votos no segundo turno, ou seja, com o apoio de mais de 70% do eleitorado.
Painéis semelhantes foram fixados nas rodovia dos Imigrantes (altura de Diadema), na rodovia dos Bandeirantes e em três endereços no Guarujá.
CENSURA LOCAL
Essa não é a primeira vez que o coletivo realiza essa ação. Só no ano passado, foram três vezes. No entanto, em nenhum outro local os painéis haviam sido retirados.
Para Erick Santos, o ocorrido em Sorocaba comprova que ainda há uma parcela da população que se recusa a discutir política, e apela para a violência, ignorando os dados afirmados nos painéis. “Nosso objetivo com os outdoors é estimular o debate sobre o atual governo. A estética dos outdoors, com a presença do verde e amarelo, busca dialogar justamente com o eleitor que foi enganado em 2018, e agora percebe que a situação piorou também para ele,” explica.
CRÍTICA SOCIAL
Em Sorocaba, os painéis foram afixados na mesma semana em que a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) divulgou, em relatório, a volta do Brasil ao chamado mapa da fome, com mais de 61 milhões de brasileiros sofrendo em maior ou menor gravidade com a insegurança alimentar. Assim, a ideia do movimento era que os consumidores, ao fazer suas compras, percebendo o peso da inflação nos preços dos produtos, fizessem uma reflexão ao se depararem com os painéis.
Como aponta Marco Martins, também porta-voz do movimento, o Brasil tem apresentado muitas pioras a partir das eleições de 2018, com aumento de 74% na quantidade de pessoas com fome no período de dezembro de 2020 e abril de 2022, segundo a Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan); aumento no preço dos combustíveis; no desmatamento; e cortes na Educação que sofreu uma redução orçamentária de mais de R$ 3 bilhões em 2021.
E, pelo menos em Sorocaba, isso não pôde ser afirmado em outdoors.
