
Lixo doméstico, entulho, plásticos, metais e todo o tipo de material inservível compõe o lixão a céu aberto do Jardim Iguatemi. Foto: Gabis Duarte

Lixão denunciado por Santos, do Comdema, tem até para-brisas quebrados e restos de madeira, que são incendiados. Foto: Gabis Duarte
Moradores do Jardim Iguatemi, em Sorocaba, denunciam o descarte incorreto de resíduos no bairro. Um grande lixão a céu aberto contendo resíduos domésticos, entulhos de construção e até animais mortos.
A primeira denúncia à Prefeitura de Sorocaba foi feita em 2019, mas até hoje nenhuma providência para solucionar o problema foi tomada, nem pelo poder público, nem por proprietários dos terrenos.
De acordo com a denúncia, o local de fácil acesso, próximo ao rio Sorocaba, do Ministério do Trabalho e do Detran-SP, se tornou um ponto de descarte de lixos muito antes de 2019.
Imagens obtidas por meio do aplicativo Google Street View mostram que os amontoados de resíduos estão na Rua Gino Glória há pelo menos nove anos. Ou seja, desde 2014.
Este registro do aplicativo confere com as informações da denúncia, feita por Eduardo Santos, membro do Conselho Municipal de Desenvolvimento do Meio Ambiente Municipal de Sorocaba (Comdema).
Problema é antigo
Santos conta ter se mudado para o bairro em 2015 e afirma vivenciar este descarte irregular desde então. Segundo ele, é uma prática cada vez mais comum, feita aos montes e sem expectativa de ter fim.
“O problema é antigo. Aqui atrás (se refere à rua que faz fundo com o lixão), tem uma indústria abandonada e invadida por um grupo clandestino que compra reciclagem”, denuncia Santos.
Ele diz ainda que “o material que interessa para eles recebe destino, é comprado; já o restante é jogado aqui no terreno por orientação do próprio comprador”.
Nas imagens vistas pelo aplicativo, pode-se notar a indústria abandonada à qual Santos se refere. A entrada deste local estava alagada após chuvas e por este motivo não houve o contato com o “responsável” pelas coletas.
Mas é visível de longe a presença de grandes sacos de lixo, contêineres e algumas pessoas com carrinhos, o que indica a comercialização dos resíduos mencionada.
Santos denuncia ainda que na última quarta-feira, dia 11, precisou apagar o fogo, ateado em um dos terrenos em que o lixo é acumulado, com água cedida por outro morador da região.
“Eu saí pedindo água para apagar o fogo e na mesma hora em que eu jogava os baldes d´água, um carro parou para descartar madeira. Eu ainda questionei: poxa! ‘tô’ apagando o fogo e você vai jogar mais lenha? Foi quando o rapaz disse que quem mandou foi o comprador de recicláveis”.
A cidade de Sorocaba dispõe de quatro ecopontos que funcionam de segunda a sexta-feira das 7h às 17h e aos sábados das 7h ao meio-dia. Entretanto, Santos diz que não existe nenhuma ação para educar os cidadãos quanto ao descarte apropriado de recicláveis e resíduos em geral.
“Alguém um dia colocou uma placa aqui de proibido jogar lixo, mas durou pouco. O que existe é falta de informação sobre o descarte de resíduos somado ao descaso”, diz Santos.
Cadê a qualidade de vida?
Outra moradora da região, a neuropsicopedagoga Marisa Aparecida Pereira Silva, 57 anos, mudou-se para a cidade de Sorocaba durante a pandemia, no ano de 2021, em busca de qualidade de vida, cidade limpa e segurança, mas se deparou com lixo, animais mortos e andarilhos ateando fogo no lixo.
Marisa Silva explica que o local é fétido e, naquelas condições, um criadouro para insetos, escorpiões e bichos peçonhentos. “Desovam ali sofás, armários, lixo comum e até mesmo animais mortos. Seria um ponto agradável para caminhar, porém, os entulhos nos impedem disso”, conclui.
Segundo apurado, em 2019 a gestão municipal da época, sob o comando da ex-prefeita Jaqueline Coutinho, chegou a entrar em contato com os proprietários do terreno e a justificativa dada era da venda do local para a construção de um empreendimento. Venda esta nunca realizada, e, ao que tudo indica, motivo que leva o terreno estar abandonado até hoje.
Para Eduardo Santos, a solução do problema estaria na limpeza dos terrenos, e o poder público acionar os proprietários para resolução rápida do problema com o lixo, não resolvido até agora.
Prefeitura promete agir
Na quinta-feira, dia 12, a Prefeitura de Sorocaba entrou em contato com Eduardo Santos, por meio de e-mail, e afirmou que irá ao local intimar o proprietário para que a limpeza seja providenciada. Caso contrário, é passível de multa de acordo com a lei 8.381/2008.
A situação que já se arrasta há anos tem alternativa encontrada no Inciso 5º da lei municipal de Sorocaba. “Após a consolidação da multa prevista no § 4º, a limpeza poderá ser efetuada ou determinada pela Prefeitura, com cobrança dos custos correspondentes do proprietário ou possuidor a qualquer título, independentemente do disposto no § 2º do Art. 1º desta Lei.”
Entretanto, nenhuma penalidade foi aplicada nem houve qualquer atitude por parte do poder público para sanar o problema.
Na sexta-feira, 13, a Prefeitura de Sorocaba anunciou, por meio de notícia publicada em seu site, o início de uma campanha “nas redes sociais e outros canais oficiais” para orientar a população sobre o “descarte ambientalmente correto e consciente de lixo e entulho no município”.
Impacto ao meio ambiente
A formação dos famosos lixões irregulares impacta diretamente na saúde do meio ambiente e das pessoas inseridas nele. O chorume, líquido formado a partir destes resíduos não tratados, é um agente altamente contaminante do solo e lençol freático.
Os lixos jogados irregularmente causam a contaminação do solo, odores fétidos e proliferação de insetos e doenças. É o que explica o biólogo Daniel Rangel. “Esse lixo pode causar um desequilíbrio ambiental, afetar a fauna e a flora e provocar a multiplicação de roedores e outros bichos, insetos, vetores de doenças como zika, chikungunya e a dengue (doença endêmica em Sorocaba, causada pelo mosquito Aedes aegypti).
Rangel alerta para a proximidade do lixão ao rio Sorocaba, o que, a seu ver, é um agravante, pois a área alaga e após o escoamento das águas boa parte do resíduo vai parar no rio. “Alguns animais aquáticos podem confundir esses resíduos com alimentos, além, é claro, da contaminação da água, um recurso importantíssimo para a humanidade”, finaliza.
Hyperlinks
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