
Soraia, fã de primeira hora do grupo cujos integrantes morreram em 1996, tem cartas, autógrafos e outros pertences valiosos para os fãs. Foto: Acervo pessoal
Atualização em 15/01/2023, às 18h35 – Depois da publicação desta notícia, foi anunciado nas redes sociais que a banda cover Mamonas Assassinas Cólica Renal realizará um show no Bar da Garagem, no dia 25 de fevereiro, para arrecadar recursos e, dessa forma, evitar que Soraia precise vender sua coleção para consertar o carro. Assim que houver mais informações sobre o show, o Portal PORQUE as divulgará para seus leitores.
O acidente de avião que interrompeu a meteórica carreira do grupo Mamonas Assassinas deixou muitos fãs órfãos em 1996. Adolescentes dos anos 1990 ainda lembram das canções de humor escrachado que embalaram as festinhas da época, e os mais fervorosos ainda guardam lembranças raras, como é o caso da professora e artista sorocabana Soraia Ramos, 39.
Dona de um acervo digno de colecionador, com cartas, autógrafos e muitos recortes de jornais e revistas, a fã está se desfazendo desse material por uma boa causa: arrumar o carro para conseguir realizar o tratamento dos dois filhos, de 5 e 3 anos, que têm Transtorno do Espectro Autista (TEA). “Tenho esse acervo guardado há anos. Tudo original, autógrafos, revistas, jornais. Só estou abrindo mão dele pelos meus filhos, que são meus amores”, falou Soraia, atualmente desempregada.
Na luta para angariar fundos para cumprir a agenda de terapia dos meninos, três vezes por semana, ela já se desfez de uma peça coringa do acervo: uma camiseta do grupo autografada que foi a leilão em um programa de televisão. No entanto, como sua renda vem de aulas como professora eventual e, o momento é de férias escolares, viu, como única saída, oferecer a coleção completa. Isso pois, ultimamente, até o carro da família que agilizava as idas e vindas parou de vez, somando mais um obstáculo ao cotidiano de Soraia.
Questionada sobre o valor que espera levantar com a venda, Soraia não sabe especificar e acredita que deva realizar uma espécie de leilão, caso haja mais interessados. A ideia é conseguir ou consertar o carro, ou comprar um outro, para dar conta das agendas de cuidados com os filhos. O marido, autônomo, também está com dificuldade de arranjar trabalho.
Como acredita, são muitos os fãs que gostariam de ter peças raras como a bandana que faz 27 anos neste mês e foi comprada no show que fizeram em 13 de janeiro de 1996 em Sorocaba, além de cartas da família após a morte, uma das relíquias que ela guarda por conta dessa proximidade. “Ao longo desse tempo, tudo foi guardado em uma pasta com muito amor e carinho. Respeito, inclusive, por conta da história de cada item. A minha história com esse material todo é linda”, defendeu.
Nasce uma fã
A história de Soraia com a banda começa lá no início dos anos 1990. Ela, adolescente, estava em um consultório médico quando viu a banda pela primeira vez na TV. “Pensei: que banda legal é essa? Não deu um mês, eles estouraram no país”, recorda ela.
Em um tempo em que não havia todos os recursos tecnológicos disponíveis hoje, fã que era fã se desdobrava atrás de meios para se aproximar dos ídolos. Ela, no caso, conseguiu o endereço da família deles por meio de um amigo, o Tiago, que era vizinho do pessoal da banda. “Aí eu mandei uma carta para eles, sem pretensão. Quando recebi de volta, quase desmaiei de emoção”, conta sobre como começou a interação entre ela e a banda.
No decorrer desse tempo, Soraia juntava tudo o que conseguisse sobre os ídolos. Recortes de jornais e revistas eram afixados em papel, com descrição de veículo e data de publicação, como rezava a cartilha de um fã de verdade da época.
Menos de dois meses após o show em Sorocaba, em 2 de março, os cinco músicos morreram em um acidente aéreo na Serra da Cantareira, silenciando o país que acordava desacreditado da notícia na manhã daquele domingo. Horas antes, no entanto, a fã Soraia já sofria pela tragédia anunciada pelo pai quase que em primeira mão.
“Meu pai era policial rodoviário e ficou sabendo do acidente na madrugada. Às 6h da manhã ele me ligou e me contou. Me preparou. Ele disse: filha, às 8h vai começar a passar na televisão. Infelizmente eles caíram na Serra da Cantareira e ninguém sobreviveu. Eu desabei.”
A fã, à época, tinha 13 anos. Até hoje, aos 39, recordar de todo esse momento é dolorido. Por isso, a necessidade de se desfazer do material é encarado por ela como um ato de amor incondicional aos filhos, nesse outro momento da sua vida.