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ARTIGO: Num país ainda polarizado, Pelé, ao partir, foi capaz de unir o Brasil

Alguém, em tal estágio evolutivo, morre? Fisicamente, sim. Mas o legado é maior

José Antônio Rosa*

Pelé parava Sorocaba quando o Santos vinha jogar contra o São Bento na década de 1960. Foto: Arquivo/EC São Bento

Não sei se é verdadeira a passagem contada pelo produtor Miele (deve ser), que ora compartilho. Quando mantinha em Nova York um escritório, Pelé tinha como vizinho de andar o ator Robert Redford.

Numa tarde despretensiosa, os dois decidem tomar um café ali pelas imediações. No caminho até o bar, dez pessoas os abordam para pedir autógrafos. Nove delas se dirigiram a Pelé.

Meu irmão conta que há alguns anos ao viajar na ponte aérea Rio-São Paulo, soube que o Rei do futebol estava a bordo. A aeronave só decolou depois que ele cumprimentou um a um os passageiros.

Pelé conseguiu, com o Santos, parar uma guerra. Expulso numa partida, viu a punição ser aplicada ao juiz pelos demais jogadores. Ou seja, se manteve em campo.

Engajado ao seu modo, Pelé lembrou, quando fez o milésimo gol, da importância de se cuidar melhor das crianças. Arrojado, declarou que o brasileiro em geral carecia de consciência política e não sabia votar.

Ele que jogou em apenas time no Brasil, o Santos, protagonizou lances de pura genialidade. Considerava, como tantos que testemunharam o feito, o seu gol mais bonito aquele anotado contra o Juventus em partida na rua Javari.

Na faculdade, um professor contou ter viajado à China e, lá chegando, foi saudado por uma plateia com a qual se avistou, sob os gritos de “Pelé, Pelé!”.

Alguém, em tal estágio evolutivo, morre? Fisicamente, sim. Mas o legado é maior. Esse é eterno. As TVs, que há pouco dedicavam espaço ao noticiário sobre a posse do novo governo e o anúncio dos nomes que completaram o Ministério, mudaram o foco. A pauta, agora é pelos próximos dias, será Pelé. Que faz a passagem para jogar no céu com os anjos. Futebolar com os arcanjos, como diria Marcos César.

Num país ainda polarizado, Pelé, ao partir, foi capaz de derrubar o muro que separa e de construir a ponte que une. Segue em paz, majestade.

* José Antônio Rosa é jornalista e advogado e colaborador do PORQUE

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