
Brinquedo sem monitoramento e utilizado de maneira errada causou a morte de uma criança de seis anos, na quinta-feira, dia 22. Foto: Paulo Andrade
O comentário do Porque publicado na coluna SOS Leitor na quinta-feira, 22, com o título “Brinquedo que causou a morte de menina de seis anos não pode continuar em uso” (leia aqui), causou polêmica nas redes sociais.
Algumas pessoas deduziram que, por defender a retirada do brinquedo assassino, este portal é contra a existência de playgrounds com brinquedos adaptados para pessoas com deficiência (PCDs), o que não é verdade.
A leitora Ive Freitas escreveu para o portal: “Seria um retrocesso na luta a retirada desses brinquedos. Nossas crianças PCDs merecem brincar. Também gostaria de saber se quem fez a matéria tem filhos PCDs.”
E relata que grupos reivindicam “maior visibilidade pela parte da Prefeitura de Votorantim. Infelizmente, alguns adultos não leem o que está nos brinquedos e deixam seus filhos menores e não pessoas com deficiência usarem.”
É preciso desfazer de uma vez por todas o mal-entendido.
O posicionamento deste portal não é, de maneira alguma, contra a existência de brinquedos adaptados para uso de PCDs em playgrounds públicos. Muito pelo contrário. Essa é uma bandeira que também levantamos. A preocupação com a acessibilidade deve estar presente em todas as iniciativas, sejam elas do governo ou de pessoas do povo.
Acontece que aquele brinquedo, em particular, demonstrou da maneira mais trágica possível que não é seguro.
A morte de uma criança de seis anos evidenciou, de maneira irrefutável, que o equipamento apresenta falha grave de engenharia. Não foi projetado para oferecer 100% de proteção em certas condições de uso. Do jeito que está, requer a presença de um adulto por perto, 24 horas por dia, para impedir que as crianças o utilizem de maneira errada.
Enquanto essa vigilância não existir, e a menos que o brinquedo receba algum dispositivo – uma trava, uma mola, algum mecanismo limitador de movimento – para impedir que seja usado “com grande força e velocidade”, como ocorreu no dia do acidente, o perigo continuará a rondar as crianças que brincam por ali, nem sempre acompanhadas de adultos.
Entendemos que a luta por brinquedos acessíveis é legítima e merece todo o apoio da sociedade. Porém, em nome desse avanço, não se pode abrir mão da garantia de que os equipamentos utilizados sejam, acima de tudo, seguros para todas as crianças.
Entendemos também que apenas instalar placas de orientação, sem o necessário monitoramento diuturno de um adulto, é medida inócua e que tende a produzir nenhum efeito, já que as crianças, como se sabe, nem sempre leem placas e seguem as orientações – e, por sinal, nem se pode exigir, delas, que demonstrem uma responsabilidade ausente em grande parte dos adultos.
Uma criança de seis anos, com uma vida inteira pela frente, morreu de maneira absurda e dolorosa, enquanto brincava.
Isso deveria ser suficiente para convencer os adultos responsáveis de que algo de muito errado aconteceu, e não pode se repetir.
Que as crianças, PCDs ou não, tenham locais e equipamentos seguros para brincar, sem arriscar suas vidas – é só o que este portal deseja.