
Pivetta ocupou cargos na administração e foi prefeito de Votorantim entre 2009 e 2012, quando foi derrotado por Erinaldo Alves da Silva, pai da atual prefeita. Foto: blog Notícias Votorantim
Filiado ao PT de Votorantim desde 1982, o ex-prefeito Carlos Augusto Pivetta entregou, na semana passada, sua carta de desfiliação partidária. Ele alega discordar do “apoio ao Governo Municipal, seja via legislativo ou executivo”. A prefeita atual, Fabíola Alves, é do PSDB. A direção local do PT, em nota, afirma que respeita a posição de cada um e afirma que “todas ações partidárias são discutidas com o nosso diretório”.
A nota sobre Pivetta é assinada pelo presidente do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores (PT), Márcio Malaquias.
Na carta de desfiliação, Pivetta escreve que pretende “cada vez mais” se posicionar “contra o governo e seus desmandos”; “só me resta a opção de desfiliação, pois meu posicionamento político irá em sentido contrário ao da sigla na cidade”.
O ex-prefeito disse ao PORQUE que não tem interesse em se filiar a outro partido no momento, “embora não tenham faltado sondagens [de outras agremiações] desde que o assunto [da desfiliação] veio à tona”.
Vande também
Além de Pivetta, outra baixa recente entre os filiados do PT votorantinense foi a do ex-secretário municipal Vanderlei Pedroso, conhecido como Vande, que atualmente preside a Associação dos Metalúrgicos Aposentados de Sorocaba e Região (Amaso). Ele era filiado ao PT municipal desde 1987.
Segundo Vande, o motivo de sua desfiliação não é o PT estar no governo municipal: “É a forma como foi feito. Eu acho que aliança ou coligação a gente constrói antes do processo eleitoral. Até para a população ver se aprova ou não essa aliança.”
“O fato de a gente estar afastado do partido não justifica a fazerem como fizeram e, de repente, se juntar com a prefeita. Nós, quando fizemos aliança, antes, realizamos quase um ano de plenárias discutindo e debatendo essa participação no governo [de Jair Cassola, do PDT]”, lembra Vande.
Marcão rebate críticas
O ex-vereador e candidato a prefeito pelo PT em 2020, Marcão Papeleiro, rebate ao PORQUE os argumentos de Vande dizendo que ele [Vanderlei] e Pivetta é que deixaram de participar das reuniões e debates do partido na cidade.
“O Pivetta deixou de ser prefeito em 2012. Desde então, nunca mais participou de uma reunião do partido. O Vande a mesma coisa. Ele só voltou a frequentar algumas vezes quando me ajudou na campanha para prefeito, em 2020. Mas, depois, não participou de mais nenhuma reunião”, argumenta Marcão.
“As decisões e ações do partido – e todo mundo sabe que o PT tem isso – são compartilhadas com todas as pessoas da executiva e do diretório municipal. Ou seja, não é o Marcão ou o Malaquias que decidem sozinhos. Agora, se as pessoas não participam acabam desconhecendo a deliberação do partido”, afirma.
“Porém”, pondera Marcão, “vivemos numa democracia e cada um tem que saber o que é melhor. Respeitamos a opinião deles. Mas estamos abertos ao diálogo. O próprio presidente Lula disse, na sua diplomação hoje [dia 12], que o diálogo será a base do governo dele. Além disso, o PT tem vários casos de pessoas que saíram [do partido] e depois retornaram.”
Instâncias partidárias
O PORQUE também procurou o vereador petista José Cláudio Pereira (Zelão), que atualmente é presidente da Câmara. A assessoria dele informou que o parlamentar concorda com os argumentos expostos pelo presidente do partido. “As pessoas são livres para optar pela desfiliação […] Se o filiado (a) não concorda com o posicionamento da instância partidária, tem liberdade de optar por outro caminho”, diz trecho da nota emitida por Malaquias.
Para Pivetta, o fato de a decisão de participar da gestão Fabíola ter sido tomada por “essas instâncias, das quais não faço parte – e o conjunto do partido não ter sido chamado –, deixa claro que não me cabe mais questionar. É uma responsabilidade da direção, não é coligação. E por esse motivo estou deixando o partido.”
O PT de Votorantim tem aproximadamente 600 filiados, sendo 20 membros do Diretório Municipal, incluindo oito da Executiva.
Sem oficialização
Marcão relata que a conversa de aproximação com a administração de Votorantim já existe faz cerca de oito meses. “E não existe nada concreto em relação a isso. Temos algumas pessoas [do PT] que estão no governo municipal, mas não existe uma oficialização de fato do partido.”
“Estamos com a consciência tranquila. Não estamos fazendo discussão escondidos de ninguém. Toda a militância do PT que participa das reuniões tem ciência sobre isso. A executiva nacional tem ciência. A executiva estadual tem ciência”, afirma o petista, que também é dirigente do Sindicato dos Papeleiros de Sorocaba e Região.
Vande ressalta que foi membro da coordenação da campanha de Marcão a prefeito em 2020. “Aí você vê gente indo pro governo, sem dizer se é aliança, se é adesismo, acordo ou coligação. Achei esquisita essa postura da direção municipal. Então, considerei que minha saída era melhor para o PT local. Nem sabia que o Pivetta ia sair também. Eu sai [dias] antes dele.”
Pivetta e Vande
Nascido em Santa Cruz do Rio Pardo, Carlos Pivetta veio para Votorantim criança, em 1970. Formou-se em Direito em 1986 pela Faculdade de Direito de Sorocaba (Fadi) e foi vereador em Votorantim de 1989 a 1993.
Em 2000, foi eleito vice-prefeito na chapa de Jair Cassola, numa coligação de oposição ao peessedebista João Souto Neto, que sucedeu o também tucano Erinaldo Alves da Siva. De 2001 a 2004, Pivetta acumulou a secretaria de Governo, voltando à pasta após ser reeleito vice-prefeito de Cassola em 2004.
No segundo mandato como vice, foi também secretário de Educação do município. Em 2008 Pivetta foi eleito prefeito de Votorantim, sendo derrotado em 2012, na tentativa de reeleição, por Erinaldo Alves da Silva, pai da atual prefeita tucana.
Já Vanderlei Pedroso foi chefe de gabinete de Jair Cassola (aliança PDT/PT) e colaborou com três secretarias municipais: Cidadania, Cultura e Orçamento Participativo. “Realizamos mais de 300 assembleias na cidade para ouvir da população as prioridades de investimentos”, conta Vande. No mandato de Pivetta, Vande assumiu a Secretaria de Governo.
Íntegra carta do Pivetta
“Ilmo. Sr. Presidente do Diretório Municipal do Partido dos Trabalhadores de Votorantim
Ref. Desfiliação partidária
CARLOS AUGUSTO PIVETTA, filiado neste partido desde 1982, vem a V.S. e aos demais companheiros de agremiação apresentar minha desfiliação do Partido dos Trabalhadores.
Quero registrar que sempre tive muito orgulho de ajudar a construir um partido forte no município e que sempre esteve ao lado da população mais pobre e dos valores da democracia.
Junto com outros companheiros com história e ideologia, nos mantivemos firmes, mesmo nos momentos mais difíceis da existência do PT, quando muitos deixaram a sigla com medo da opinião pública.
Todavia, não posso ficar silente vendo em Votorantim a direção Partidária manter-se em apoio ao governo Municipal, seja via legislativo ou executivo.
Assim, como pretendo cada vez mais me posicionar contra o governo e seus desmandos, só me resta a opção de desfiliação, pois meu posicionamento político irá em sentido contrário ao da sigla na cidade.
Esperei as eleições nacionais para me pronunciar, justamente para manter um clima de harmonia interna durante as eleições gerais que acabaram por dar a vitória ao presidente Lula.
Me coloco a disposição dos companheiros!
Atenciosamente,
Carlos Augusto Pivetta – 07/12/2022”
Íntegra nota de Malaquias
“Respeitamos a posição de cada um. As pessoas são livres para optar pela desfiliação. O PT é uma agremiação política e prezamos pela democracia. Se o filiado (a) não concorda com o posicionamento da instância partidária, tem liberdade de optar por outro caminho
Todas ações partidárias são discutidas com o nosso diretório, dando liberdade de expressão a aqueles que acompanhar as atividades, seguindo principalmente as nossas reuniões ordinárias.
Márcio Malaquias – Presid. DM PT Votorantim”
Íntegra nota do Marcão
“Respeitamos a democracia. Cada um (uma) tem a liberdade de escolher outros caminhos. No meu caso, escolho continuar com os companheiros e companheiras.
Outros já saíram e voltaram. Prezamos pela democracia e defendemos e lutamos para que continuemos assim, livres.
Marcos Antônio Alves – Marcão Papeleiro”