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Pesquisador sorocabano participa do grupo que usa a ciência para prever chances do Brasil vencer a Copa

Conforme probabilidades matemáticas, Brasil enfrenta França na final e tem 56% de chances de trazer a Taça do Mundo para casa, explica o pesquisador sorocabano Ricardo Rocha

Maíra Fernandes

O pesquisador sorocabano Ricardo Rocha integra o grupo Previsão Esportiva; à direita, um esquema de desfecho provável para a Copa do Catar, após as oitavas de final. Foto: acervo pessoal

Palpiteiros de plantão: uni-vos! Se a Copa do Mundo é um dos momentos mais propícios para essa prática, é bom saber que, além daquele técnico caro que de quatro em quatro anos desperta em você, há, ainda, métodos científicos para endossar essa vontade de antecipar possíveis placares e, claro, vislumbrar uma final da Copa. Desse modo, arrisco aqui um placar de 1 x 0 para o Brasil no jogo de sexta-feira, 9, contra a Croácia. E por que não uma final entre Brasil e França novamente?

Pode parecer especulação, mas, na verdade, é o que apontam as estatísticas. Após as oitavas de final, elas simulam que, nesta atual fase do campeonato, o time brasileiro tem 21% de chances de vencer a Copa, seguido dos argentinos, com 16,2%, e do atual campeão mundial, a França, com 14,4%. A previsão foi recém publicada no site previsaoesportiva.com.br, um serviço desenvolvido pelo grupo Previsão Esportiva, formado por pesquisadores, professores e alunos da UFSCar, USP, UFPR e UFBA, essa última representada por um sorocabano, o professor e pesquisador Ricardo Rocha.

“É um projeto que nós gostamos muito, pois aproxima as pessoas da academia, conectando o futebol, que é paixão nacional, com os estudos e pesquisas. Gosto dessa conexão palpável dos elementos que trabalhamos, como probabilidade, modelagem, inteligência artificial, estatística, com algo que seja muito próximo da vida cotidiana das pessoas. Vejo muita beleza nisso”, afirma o sorocabano, que ingressou no projeto em 2014.

Como explica, o trabalho que mescla a razão matemática para dar conta da emoção do torcedor, tem aproximado muitos leigos de métodos científicos talvez pouco difundidos, como a estatística e a Inteligência Artificial, essa responsável por fazer as simulações que geram os tão aguardados números e probabilidades.

Para Rocha, por conta do interesse do brasileiro no futebol, o projeto acaba tendo um caráter educativo, por explicar todas essas metodologias na prática, de uma forma fácil de compreender. Para chegar aos números, eles partem de modelos estatísticos que consideram informações de cada time como poder ofensivo, defensivo, gols e outras características. Conforme os jogos vão ocorrendo, essas informações vão sendo atualizadas e mil simulações são realizadas para que cheguem a um provável resultado.

Para prever o placar de um jogo, é utilizada a média de que, em mundiais, em cada partida ocorrem cerca de 2,5 gols. Partindo daí, as simulações trabalham para chegar a um provável placar, considerando os dados de cada uma das equipes.

Como exemplo, o pesquisador lembra que, em 2018, o grupo previu uma final entre Brasil e Alemanha. No entanto, os germânicos nem passaram da primeira fase. Nessa fase inicial, salienta, é muito difícil ser assertivo, pois há sempre mudanças e, nesse caso específico, a probabilidade dessa final (assustadora para brasileiros), era de 5%, ou seja, ainda havia 95% de chances de não ocorrer. “Esse é o detalhe que insistimos muito. Estamos falando de probabilidades, de quantificação de incertezas que envolvem os resultados; não é sobre prever quem vai ganhar, mas antecipar o favoritismo”, explica, contando que, mesmo assim, são muito “cornetados” quando os resultados passam longe daquele anunciado como provável. Contudo, não ligam, pois isso faz parte e essa interação é resultado dessa proximidade que o projeto proporciona.

Zebras sempre existiram

O grupo começou em 2006 e, desde então, vem desenvolvimento esse trabalho de previsão, com média de três quartos de acertos, quando simulados os resultados na semifinal, período que afunila as equipes mais fortes e as probabilidades são mais assertivas. Eles — que, no momento e se tudo correr como o previsto, preveem uma final entra Brasil e França –, acertaram, neste ano, 11 das equipes que passaram para a segunda fase. O Marrocos não estava nessa previsão e, conforme os métodos utilizados, seria provável que Espanha avançasse, por conta do histórico do time. Porém, como pontua Rocha, é normal sempre ter essas chamadas “zebras”. Apesar disso, os estudiosos não entendem essa como a “Copa das zebras”. “Se pegar as quatro equipes favoritas e calcular, a probabilidade de uma delas não avançar é possível. Se olhar individualmente, a gente vê zebras; mas se olhar coletivamente, vê que já é esperado também.”

Para ilustrar esse fato, o pesquisador reitera que é sempre bom frisar que o trabalho não tem a intenção de acertar, mas quantificar os graus de  acontecer uma chamada “zebra”. Assim, na lógica, as equipes mais fortes e com históricos melhores terão sempre vantagem quando simulado um resultado com outra de menor destaque, como no caso do Brasil x Coréia do Sul, cuja probabilidade de vitória da seleção foi comprovada pela simulação. No entanto, explica, se as mesmas equipes se confrontassem dez vezes, possivelmente seriam dez placares diferentes.

Por conta de todos esses cruzamentos de métodos, não são poucas as pessoas que procuram os pesquisadores para mais diferentes fins. Tanto apostadores com a intenção de “quebrar a banca” quanto casas de apostas solicitando que façam propaganda para elas. “Ignoramos tanto um quanto o outro. Não queremos nos vincular a nenhuma empresa de apostas, entendemos que não ficaria bem com um projeto feito por pesquisadores de universidades. Em relação às pessoas, deixamos claro que é por conta e risco delas a questão dos resultados, e que as casas de apostas são bem seguras em relação a essas tentativas de quebrar. Elas trabalham de maneira bastante conservadora, em geral”, fala.

Então, como fica?

Mas o que interessa para o leitor, nessa altura da entrevista, é saber quais as previsões para a fase que inicia nesta sexta-feira, 9, e já com o confronto entre Brasil x Croácia. O pesquisador reitera que, conforme os números, não haverá moleza para nenhuma das equipes, mas o favoritismo é brasileiro.

Último estudo divulgado na noite de terça-feira, 6, encerradas as oitavas de final, aponta que os quatro primeiros favoritos a levar a taça para casa são Brasil (21%), Argentina (16,2%), França (14,4) e Inglaterra (13,9).

Já o caminho previsto se o mais provável acontecer, ou seja, se as favoritas avançarem, é um cenário tortuoso, mas que agradaria muitos aos brasileiros: ganhar a final contra a França.

De acordo com o esquema provável: Brasil passa pela Croácia e enfrenta o vencedor de Argentina e Holanda que, conforme probabilidade, será o time de Messi. Do outro lado, França provavelmente vence Inglaterra e pega a equipe de Portugal, favorita contra Marrocos. Na semifinal estariam, assim, Brasil x Argentina e França x Portugal e, se  o resultado mais provável se confirmar, a final seria entre Brasil e França no próximo dia 18. No confronto final, as probabilidades apontam 56% de chance de o Brasil trazer o caneco, contra 44% da França. É sonho! Mas também é provável.

Sobre o pesquisador

Ricardo Rocha é matemático de formação e mestre e doutor em Estatística. Fez parte do doutorado na Universidade de Manchester, Reino Unido e tem pós-doutorado na USP de São Carlos. Atualmente é docente (afastado) no Instituto de Matemática e Estatística da Universidade Federal da Bahia (UFBA). É o CEO da empresa de educação FLAI Inteligência Artificial e coordenador do MBA em Data Science FLAI FAMESP. É membro da Equipe Previsão Esportiva, projeto interdisciplinar que conta com o apoio de diversas universidades do Brasil e da América Latina e da empresa FLAI.

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