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‘Colocar o pobre no orçamento é fundamental’, afirma economista Marcio Pochmann

Sobre o teto de gastos, o economista lembra que o atual governo excedeu em quase 800 bilhões os valores estipulados pela emenda constitucional

André Rossi (Rede Brasil Atual)

Pochmann defende que a economia seja uma ferramenta para viabilizar a política eleita pelo voto. Foto: Elza Fiúza/ Agência Brasil

O economista Marcio Pochmann, professor da Universidade Federal do ABC (UFABC) e da Unicamp, ambas em São Paulo, disse em entrevista ao programa Revista Brasil TVT (escute aqui) que o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva deve mudar eixo de governo, colocando no centro a política no lugar da economia. Desta forma, ele vê como fundamental a volta da população de baixa renda para o orçamento federal, como iminente a queda do teto dos gastos e defende investimentos sociais para para a construção de um país diferente do atual.

“Há um aprendizado em relação à governança do passado, denominada de presidencialismo de coalizão. Um presidente que governava de forma ‘coesionada’ com o parlamento, mas muito subordinado aos ditames econômicos. A economia, que é um meio, havia se transformado em um fim em si mesma. Se pensa no circuito da financeirização não olhando para as pessoas que precisam de trabalho, passam fome e não tem moradia. O presidente Lula, entendo, vem fazendo um giro para colocar a política no centro, porque é ela quem define para onde queremos ir. O resultado eleitoral apontou um rumo e esse rumo precisa ser seguido. E para que isso possa ocorrer, a economia deve voltar a ser um meio que viabilize o que a política determina.”

Sete trilhões de reais

Marcio Pochmann cita um lado real do Brasil diferente do oficial representado pelo mercado financeiro e de outros mercados especulativos. “De gente que quer trabalhar. O país tem mais de R$ 7 trilhões depositados no sistema financeiro, adormecidos, esperando serem validados pela taxa de juros. Esse dinheiro poderia ser melhor aplicado na atividade econômica, gerando emprego, tendo lucros, gerando impostos. É disso que estamos tratando. De uma atividade que não é para corromper o governo, para utilizar para funções ilegais. Pelo contrário, é para alimentar o povo, oferecer um horizonte, um futuro de emprego e renda. Colocar o pobre no orçamento é fundamental para construir um Brasil diferente do que temos hoje.”

Teto de gastos

Dentro dessa linha, o economista entende ser necessário o governo ter clareza que a própria realidade mostrou que o teto de gastos é impossível de ser perseguido. “O próprio governo que agora está se encerrando executou um gasto próximo aos R$ 800 bilhões acima do limite que havia sido estabelecido por uma emenda constitucional. É algo ridículo que uma emenda constitucional termine não sendo seguida.” Pochmann diz que Lula inova separando o que é custeio do que é investimento. “Custeio é o gasto com salários de funcionários públicos, operação da máquina, aluguéis. Devem ser pagos com a arrecadação existente. O investimento se autofinancia, porque significa uma atividade nova, que vai gerar emprego, renda e tributação. Então a separação do orçamento me parece muito importante.”

E o gasto financeiro?

Pochmann afirma, ainda, que o tema do investimento tem, em geral, poucos defensores. “Quando se tem uma lei de teto, cortam-se os investimentos, que é o nosso diálogo com o amanhã. Então, não temos o amanhã, só o hoje. E se reduzem os gastos sociais. Veja que a lei define o congelamento do gasto operacional, não faz menção ao gasto financeiro. Esse está livre para ser gasto o quanto for de interesse. Se é para não gastar, que não se gastasse nada, mas se deixa o financeiro livre?”, questiona. “Infelizmente, no caso brasileiro, no período mais recente, tivemos um caso de subordinação da política aos interesses mais diretos da economia. Então há um certo mal-estar porque pretende-se mudar isso. Fazer valer o voto e a maioria que votou.”

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